As fortes chuvas que atingiram o Estado do Rio de Janeiro na noite de sexta-feira (1°) e madrugada de sábado (2) deixaram ao menos 16 mortos. Do total, sete são em Paraty, oito em Angra dos Reis e uma em Mesquita, na Baixada Fluminense.

Segundo a Defesa Civil, uma criança foi encontrada morta na manhã deste domingo (3) em Angra dos Reis. O número de desabrigados chega a 181 no município. Houve também neste domingo (3) um novo deslizamento no bairro Monsuaba, um dos mais afetados pelas fortes chuvas.

Pelo menos seis casas foram afetadas por um deslizamento de terra, na rua Professor Francisco Cezário Alvim, na madrugada de sábado (2).  Ainda conforme  Defesa Civil, entre oito a dez pessoas ainda estão desaparecidas em Angra dos Reis, que sofreu a pior chuva da história. As buscas se concentram na região de Monsuaba e em Ilha Grande.

Com estradas interditadas, prefeito pede desligamento de usinas nucleares de Angra dos Reis

Usinas Angra 2 (à esquerda) e Angra 1 (à direita); os reatores, onde a energia nuclear é gerada, ficam dentro das estruturas brancas — Foto: Eletronuclear

Segundo Fernando Jordão, não seria possível colocar em prática o plano de emergência enquanto as principais vias de acesso ao município estiverem interditadas.

O prefeito Fernando Jordão pediu o desligamento temporário e emergencial das usinas nucleares. O motivo são as condições de trânsito na BR-101 (Rodovia Rio-Santos), já que há vários pontos de interdição na estrada por conta de deslizamentos de terra provocados pela chuva.

Também há bloqueios na Paraty-Cunha e na RJ-155, outras vias de acesso a Angra dos Reis. Segundo o prefeito, não seria possível colocar em prática o plano de emergência enquanto as principais vias de acesso ao município estiverem interditadas.

O pedido de desligamento das usinas feito feito ao ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio, que ainda não se pronunciou sobre o assunto.

“Acabei de falar com a Procuradoria do município, já disse ao presidente da Eletronuclear, que nós vamos pedir o desligamento das usinas nucleares. Falei também com o ministro Marcelo Sampaio, que é o atual ministro da Infraestrutura, que a CCR tem que vim agir aqui na Rio-Santos. Não pode ser a prefeitura que vai tirar barreira para a CCR aqui na Rio-Santos. Também conversei com o governador que o DER tem que vim aqui fazer uma ação definitiva na RJ-155. Quem está fazendo esse trabalho é a prefeitura de Angra dos Reis “, disse Fernando Jordão.

“Nós estamos desde a madrugada de sexta-feira com equipes atuando na rodovia, na limpeza da pista, na desobstrução, retira de queda de árvore, retirada de queda de barreira… Então, desde a madrugada de sexta-feira até agora, nós estamos com diversas equipes espalhadas. São, pelo menos, 11 ou 12 equipes espalhadas por todo o trecho da rodovia. É bom deixar claro que o problema não acontece somente no trecho de Angra. É de Ubatuba até o Rio de Janeiro com problemas na rodovia”, informou a CCR.

CNEN monitora situação

A Diretoria de Radioproteção e Segurança Nuclear da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) esclarece que se houver situação que inviabilize uma eventual execução do plano de emergência previsto para Angra dos Reis, caberia considerar a parada das usinas.

Entretanto, segundo a CNEN, “apesar da situação decorrente das condições meteorológicas na região, até o presente momento, não há comprometimento das vias de acesso do entorno da Central que pudessem impactar na execução do plano de emergência”.

Energia capaz de atender a 3 milhões de habitantes

Com 640 megawatts de potência, a usina nuclear Angra 1 gera energia suficiente para suprir uma uma cidade de 1 milhão de habitantes, como Maceió (AL) e Belém (PA). Angra 2 tem potência de 1.350 megawatts e é capaz de atender ao consumo de uma cidade de 2 milhões de habitantes, como Manaus (AM) e Curitiba (PR).

Chance de acidente é muito baixa, mas impactos seriam graves

O Brasil tem apenas duas usinas nucleares, Angra 1 e Angra 2, responsáveis pela produção de 3% da energia consumida no país — para comparação, a usina hidrelétrica de Itaipu gera 15%.

Angra 1 entrou em operação comercial em 1985 e, Angra 2, em 2001. A construção de uma terceira usina, Angra 3, foi iniciada há 35 anos, tem 62% das obras executadas, mas atualmente o canteiro encontra-se paralisado.

A instalação das usinas em Angra levou em conta justamente a proximidade tanto do Rio como de São Paulo. Dessa forma, é mais fácil transmitir a energia produzida para os grandes centros de consumo. Além disso, estar perto do mar é importante, já que é preciso muita água para resfriar o sistema – vale dizer que essa água não entra em contato com a radioatividade.

Vista aérea das usinas de Angra 1 e Angra 2, envoltas pelo mar e floresta de Angra dos Reis — Foto: Maxar Technologies/Google Earth

Vista aérea das usinas de Angra 1 e Angra 2, envoltas pelo mar e floresta de Angra dos Reis — Foto: Maxar Technologies/Google Earth

Em uma usina nuclear, a energia é gerada pelo processo de fissão nuclear do urânio — ou seja, a quebra dos átomos — que ocorre dentro de um reator. O combustível usado no reator é formado por centenas de pastilhas de urânio, um material radioativo, que se torna ainda mais radioativo com o processo de fissão.

“Um acidente nuclear é basicamente o vazamento do material radioativo”, explica Roberto Schaeffer, professor do Programa de Planejamento Energético da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “É muito mais provável que outras barragens no Brasil se rompam do que ocorra um acidente em Angra. Ainda assim, me assusta mais um acidente em Angra, devido à possível severidade”, opina.

Segundo Guimarães, “a prática da indústria prevê uma probabilidade de acidente severo, com liberação de material radioativo para o ambiente, na ordem de um a cada um milhão de anos”.

Plano de emergência prevê evacuação de raio de 3 km

Caso as medidas de segurança e barreiras de contenção não sejam capazes de conter um vazamento, entra em ação o plano de emergência. Ele estabelece diferentes raios de ação, dependendo da gravidade do acidente.

O primeiro raio é de 3 km ao redor da Central Nuclear, englobando uma pequena vila de trabalhadores de Angra 1 e Angra 2, chamada de Praia Brava, e alguns pontos da Estação Ecológica de Tamoios – afetando em torno de 2.000 pessoas.

A cada dois anos, são realizados treinamentos de evacuação de emergência nessa área, diz a Eletronuclear. Esses testes contam com a participação do Exército, da Aeronáutica e da Marinha, além da Defesa Civil do Rio de Janeiro.

Em situações mais graves, o raio de ações de emergência subiria para até 15 quilômetros, o que inclui parte da cidade, a Praia de Tarituba em Paraty, e outros trechos da Estação Ecológica de Tamoios.

“Um acidente de média proporção poderia espalhar (radiação) por um raio maior do que isso. Mas não chegaria a São Paulo e Rio de Janeiro”, explica o professor Pinguelli.

Além do plano de emergência, a Eletronuclear monitora os níveis de radiação no meio ambiente ao redor das usinas. As conclusões, até agora, são que não houve alterações. Nossa reportagem acompanha.

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