Em vídeo nas redes sociais, médico de Assis (SP) diz que tomou as doses como forma de testar proteção às variantes do coronavírus; vacinação foi em intervalo de quatro dias. Segundo os promotores, conduta viola princípios da moralidade e pode configurar ato de improbidade administrativa.

O Ministério Público de Assis (SP) abriu nesta terça-feira (16) um procedimento de investigação através de inquérito civil contra um médico da cidade que foi às redes sociais para anunciar que tomou “por conta própria” duas doses de vacinas diferentes contra a Covid-19 num período de menos de uma semana.

O médico Oliveiro Pereira da Silva Alexandre disse em um vídeo postado nas redes sociais na segunda-feira (15), que foi removido na terça-feira (16), que tomou uma dose da CoronaVac e outra da Oxford/AstraZeneca.

O caso também é investigado pela Prefeitura de Assis e pela cooperativa médica à qual ele pertence através de possíveis processos na Justiça.

No vídeo publicado no Youtube, ao qual o G1 teve acesso, o médico Oliveiro, que se apresenta como “Dr. Oliveira”, admitiu que tomou primeiramente uma dose da CoronaVac e, segundo ele, menos de uma semana depois, outra dose da vacina de Oxford.

O procedimento contraria os protocolos de vacinação estabelecidos pelo Ministério da Saúde, fato que o próprio médico admite em sua fala no vídeo.

“Veja bem, lembra que eu falei para vocês que eu tomei a CoronaVac e, por minha conta, eu tomei a da AstraZeneca. Isso não pode, tá bom? Isso não pode”, disse o Dr. Oliveira no vídeo.

Segundo os promotores Fernando Fernandes Fraga (Patrimônio Público e Social) e Sérgio Campanharo (Saúde Pública), que assinam a portaria de instauração de inquérito civil, o médico teria violado “princípios norteadores da Administração Pública, especialmente o da moralidade, com a consequente configuração da prática de ato de improbidade administrativa”.

O procedimento do MP também dá prazo de 10 dias para que a prefeitura informe detalhes de como se dá a vacinação no município e explique as circunstâncias que possibilitaram que um agente público tivesse acesso às primeiras doses de imunizantes de fabricantes diferentes fornecidos pelo poder público.

Os promotores também cobram do Hospital Regional, onde o médico é servidor, informações sobre as providências adotadas para apuração da responsabilidade administrativa do médico, assim como informações de “eventual comunicação ao Cremesp [Conselho Regional de Medicina de SP] para apuração de falta ético-profissional”.

Em um novo vídeo postado na terça-feira, o médico disse que tomou a segunda dose, da AstraZeneca, porque a vacina teria sobrado e seria descartada.

“Eu não fiz nada errado, nada escondido, eu somente falei na live que eu tinha tomado a vacina da CoronaVac no Hospital Regional e depois tomei outra dose da Astrazeneca. Eu fui demonizado por isso, pintaram um quadro como se eu quisesse tomar todas as vacinas do mundo e que o resto do mundo se danasse.”

Prefeitura vai investigar médico Oliveiro Pereira da Silva Alexandre que tomou em 4 dias duas doses diferentes de vacina contra Covid em Assis — Foto: Reprodução/YouTube

O médico fala no vídeo que, dias após tomar a primeira dose (CoronaVac), recebeu uma ligação de um hospital particular para que fosse imunizado.

“Me ligaram mais ou menos 16h, dizendo: ‘doutor, vai parar a vacinação aqui às 17h. As vacinas que não forem usadas terão que ser descartadas por causa do resfriamento, vence o tempo dela ficar exposta e a gente não pode usar mais.’”

“Eu pensei: ‘bom, a vacina vai ficar perdida se eu não tomar, não faz diferença’. Mas eu posso trocar a outra dose da CoronaVac pela Astrazeneca, foi esse o meu raciocínio lógico. Eu vou lá, tomo da Astrazeneca, é dose única, já estou na linha de frente mesmo, estou protegido, e a última dose da CoronaVac eu não tomaria, fica à disposição para outro cidadão. Então ninguém tomou vacina de ninguém, ninguém ficou sem vacina por minha causa.”

Quatro dias de intervalo

Segundo a prefeitura de Assis, foi constatado de que o médico tomou as doses de laboratórios distintos num intervalo de quatro dias. A primeira, no dia 29 de janeiro, no Hospital Regional e na condição de servidor público que trabalha na linha de frente de combate à pandemia.

Já a segunda dose, da AstraZeneca, o médico conseguiu receber no dia 2 de fevereiro, como beneficiário de um convênio da cooperativa médica da qual ele é integrante e que montou um posto de vacinação para profissionais da saúde que atendem casos suspeitos na rede particular.

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