O enfrentamento ao tráfico de pessoas é daqueles poucos temas que conseguem unanimidade no que diz respeito à indignação e à perplexidade: como podemos, em pleno século XXI, aceitar que seres humanos sejam escravizados e comercializados?

Das diversas frentes de atuação para combater essa violência que afeta milhões de pessoas no mundo inteiro, uma das que proporciona avanços consistentes a médio e longo prazos é a produção de estudos e a disseminação de conhecimento sobre o tema.

A publicação de pesquisas e dados sobre tráfico de pessoas — suas vítimas, as rotas, o modo de agir dos perpetradores, os desafios e perspectivas no enfrentamento — permite novas reflexões e encaminhamentos para a definição de políticas públicas e ao mesmo tempo fornece suportes para ação cotidiana dos diversos órgãos e profissionais que lidam com a matéria em nosso país, seja na prevenção e repressão ao tráfico humano, seja no acolhimento às vítimas.

Para se ter ideia, o tráfico de pessoas é um tipo de crime que movimenta anualmente mais de 30 bilhões de dólares segundo a ONU. Por esta razão, é preciso mais debates e formas de repressão a essa prática.

Fazemos parte de uma sociedade onde tem pessoas que pensam que tudo tem um preço, inclusive a vida do outro. Daí a pergunta que encabeça este texto reflexivo sobre uma das questões mais graves da atualidade que acontece diariamente por trás das cortinas imundas do submundo do poder. “Quanto vale a vida?”.

Mais uma vez, Trata-se de uma campanha do Projeto Líbertas que pretende mobilizar e sensibilizar toda a sociedade brasileira, para o enfretamento ao tráfico de pessoas, que por sinal, em todo ano é comemorado no dia 30 de julho. Junto com isso, a campanha que é desenvolvida em parceria com o JORNAL DO ÔNIBUS de MARÍLIA, também pretende chamar a atenção do poder público para a promoção e inclusão social das vítimas e a garantia de seus direitos.

No Brasil, esse crime é especialmente grave, sendo considerado como uma forma de escravidão moderna, e, existe a necessidade de se auxiliar e ajudar a dar visibilidade a esse crime que infelizmente é muito invisibilizado por razões óbvias. Diante do silenciamento social, é de fundamental importância falar desse tema, porque infelizmente tem aumentado muito o número de pessoas vítimas do tráfico de pessoas, principalmente para fins de exploração sexual.

Essa pode ser uma pergunta polêmica, mas quando falamos de comercializar seres humanos: você sabe o quanto vale?

Quando falamos de tráfico humano, sempre pensamos em mulheres, jovens ou adultas, traficadas geralmente para fins de exploração sexual. Pensamos também, em uma pessoa que vai para outro lugar ludibriada e que muitas vezes, quando chega ao seu destino, é forçada a trabalhar em regime análogo à escravidão. Onde seu passaporte é retido, e essa pessoa muitas vezes não consegue ter contato com alguém que possa ajudá-la a sair dessa situação. Mas precisamos nos atentar em outras formas de exploração e também utilizada quando falamos do tráfico humano: o tráfico de órgãos.

LITORAL CENTRO - COMUNICAÇÃO E IMAGEM: Tráfico de Órgãos Humanos | Doação  de orgãos, Transplante de orgãos, Orgaos

Quem nunca em sua infância ficou apavorado com a história do palhaço que saia da velha Kombi, atraindo crianças com doces e brincadeiras, a fim de sedá-las (ou coisa pior) e retirar seus órgãos para vender no mercado ilegal ?

O que antes parecia uma lenda urbana, e que foi muito utilizada pelo mais velhos, para enganar crianças e ensiná-las a não aceitar coisas de estranhos e evitar contato com eles, hoje, pode ser algo mais real e atual do que pensamos. Muitas vezes, pessoas vulneráveis e de baixa renda são convencidas por aliciadores a vender um órgão por uma quantia baixa, já que grande parte do dinheiro fica com a rede de tráfico.

Essa pessoa recebe uma pequena quantia de dinheiro em detrimento da sua saúde, se expondo a inúmeros riscos e se mutilando, mas que tendo em vista sua situação de vulnerabilidade aceita a oferta para garantir sua sobrevivência.

Embora sob a perspectiva financeira a quantia possa ser baixa frente ao ato em que estará se submetendo, esse dinheiro faz muita diferença em sua vida, colocando comida na sua mesa, pagando contas em atraso e também melhorando um pouco a condição de vida da família, mesmo que de modo pontual e momentâneo.

Esse tipo de ação ocorre de países emergentes (os chamados países em desenvolvimento) para os países ricos, formando assim rotas da rede de tráfico de pessoas. Como a fila do transplante de órgãos é grande e morosa, pessoas com condições de vida melhor buscam formas de burlar a regra, chegando a pagar o valor de US$200 mil dólares por um rim, de acordo com Kevin Sack, do jornal The New York Times.

Entre os anos de 2009 e 2012, foi rastreada uma grande rede de tráfico de órgãos entre a Costa Rica e Tel Aviv, em Israel. A rede do tráfico, que foi desbaratada em 2013, era composta por um grupo de israelenses ricos. Na rede, havia um médico (de um hospital na capital San José) e alguns aliciadores, como taxistas que contatavam pessoas através de viagens que realizava, além do envolvimento de uma pizzaria local.

As pessoas que eram aliciadas tinham perfis semelhantes: pessoas humildes, que precisavam de dinheiro rápido para solucionar algum problema financeiro.

A Costa Rica é um dos países que possui uma das maiores rotas para tráfico humano, seja para comercialização de órgãos ou de pessoas, uma vez que a prostituição é legal no país; as exigências básicas para exercer a profissão é ter os exames de rotina em dia (para verificação de AIDS e outras doenças venéreas) e ser maior de 18 anos.

Além disso, o país é um bom local para esse tipo de comércio, pois a movimentação de dinheiro para cirurgias com fins estéticos é de aproximadamente US$ 330 milhões por ano, facilitando a entrada de turistas ricos com uma grande quantia de dinheiro, sob a alegação de fazer cirurgias plásticas, uma forma de ludibriar a fiscalização.

Devido a esses fatos, a Costa Rica endureceu suas leis em relação ao transplante de órgãos no país, mas é sabido por especialistas, que esse tipo de sistema favorece quem tem grande poder econômico e influência.

O tráfico de órgãos é uma das modalidades do tráfico humano, mesmo sendo um assunto muito delicado abordá-lo é de suma importância para conhecimento de toda a Sociedade Civil, já que os aliciadores estão em todos os lugares.

Quando alertamos que promessas de dinheiro fácil e rápido pode custar sua vida, as pessoas podem ter uma ideia da dimensão da realidade da atuação da rede do Tráfico de Pessoas, por isso a prevenção e conscientização são tão importantes na prevenção do crime, seja no Brasil, seja na Costa Rica.

Caroline da Silva é Embaixadora do Projeto Líbertas para assuntos na Costa Rica e América Latina e, de forma voluntária contribui como articulista para o JORNAL DO ÔNIBUS de MARÍLIA através de nossa colunista Drª Marília Mazeto. Mais do que um tema, é uma parceria selada em defesa de uma causa que busca despertar a atenção de nossas autoridades e classe política de uma forma mais ativa e que possa resultar em ações positivas em favor destas vidas.

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