Prazo de entrega, porém, ainda deve demorar para se estabilizar

A greve dos Correios pode terminar nesta segunda-feira (21) após julgamento do TST (Tribunal Superior do Trabalho) sobre a manutenção do acordo coletivo da categoria. Mas, independente do resultado, o estrago de mais de 30 dias de paralisação já é grande para quem depende ainda mais dos serviços desde o início da pandemia no novo coronavírus, em março.

Queixas de pessoas que não receberam seus produtos são comuns em canais de atendimento ao consumidor. “Faz mais de um mês que comprei um produto e foi enviado há mais de 20 dias. Está parado desde o dia 3 nos Correios! É um abuso”, conta no site Reclame Aqui um pai que aguarda o presente de aniversário da filha. “Estou profundamente aborrecida, porque comprei vários produtos e até agora não foram entregues por conta desta honrosa greve”, se queixa uma consumidora.

O Procon-SP já indicava aumento das reclamações contra o serviço durante a pandemia de 400%, quando a greve teve início ( 18 de agosto ). Novo levantamento da entidade indica que, nos 15 primeiros dias de setembro, já são 756 consumidores insatisfeitos. No mês todo em 2019 foram 132, o que mostra salto de quase 500% em apenas duas semanas.

Os Correios afirmam que a adesão ao movimento é baixa, de 18%. Mesmo assim, admite que só após a decisão judicial desta segunda poderá retomar sua “qualidade operacional”. “As paralisações regulares e inconsequentes, além de afetarem a imagem da instituição e de seus empregados perante a sociedade, trazem prejuízos financeiros não só à própria estatal: grandes e pequenos empreendedores brasileiros contam com o bom funcionamento da empresa para manterem seus negócios vivos, sobretudo no contexto atual”, diz em nota os Correios, que afirmam manter operações especiais para realizar as entregas em dia.

Já o Sindicato dos Correios de São Paulo culpa a empresa pela paralisação nos serviços. “Sem nenhum respeito à população brasileira, o governo federal e a direção da empresa provocaram única e exclusivamente essa greve em plena pandemia, sabendo de todos os riscos e restrições impostas por não acatar o julgamento de 2019 que validou o acordo por 24 meses, ou seja, válido até julho de 2021”, afirma em comunicado.

ORIENTAÇÕES DO PROCON-SP PARA QUEM DEPENDE DOS CORREIOS

Quando a entrega de encomendas e documentos não for prestada, o consumidor tem direito a ressarcimento ou abatimento do valor pago. Nos casos de danos morais ou materiais pela falta do serviço, cabe também indenização por meio da Justiça.

• Em caso de ter adquirido produtos de empresas que fazem a entrega pelos Correios, essas são responsáveis por encontrar outra forma para que os produtos sejam entregues no prazo;

• Empresas que enviam cobrança por correspondência postal são obrigadas a oferecer outra forma de pagamento que seja viável ao consumidor, como internet e depósito bancário;

• Não receber a fatura de cobrança que a pessoa saiba ser devedora não a isenta de fazer o pagamento. Caso não a receba por conta da greve, o consumidor deverá entrar em contato com a empresa credora, antes do vencimento, e solicitar outra opção de pagamento.

Em caso de reclamações, o Procon-SP disponibiliza canais de atendimentos à distância para receber denúncias, intermediar conflitos e orientar os consumidores: via internet (www.procon.sp.gov.br), aplicativo – disponível para Android e iOS – ou via redes sociais.

Fonte: Procon-SP

ENTENDA O IMPASSE ENTRE CORREIOS E TRABALHADORES

O TST (Tribunal Superior do Trabalho) definiu as normas coletivas para reger as relações entre Correios e empregados de agosto de 2019 a julho de 2021 em outubro 2019. O acordo coletivo tinha 79 cláusulas, como 30% do adicional de risco, vale-alimentação, licença-maternidade de 180 dias, auxílio-creche e indenização por morte.

No entanto, em agosto deste ano, o STF (Supremo Tribunal Federal) suspendeu a cláusula que estendia o acordo até 2021 de forma definitiva, a pedido da estatal. Com a decisão, o acordo passou a ter validade de apenas um ano, prazo que expirou em agosto, o que fez com que os trabalhadores dos Correios deflagrassem greve e o dissídio voltasse ao TST.

GRANDES QUEREM COMPRAR OS CORREIOS

As grandes empresas de compras virtuais têm investido em suas próprias redes de entrega, descolando suas imagens dos serviços dos Correios. Mercado Livre, Amazon e Magazine Luiza já oferecem produtos com prazos mais curtos, mesmo para o marketplace, quando o site abriga a loja de um terceiro.

O Mercado Livre, por exemplo, afirma ter investido neste ano R$ 4 bilhões no país, boa parte disto em sua malha de logística (leia mais ao lado). A empresa diz que o Mercado Envios já opera 96% de todas as vendas do site. Atualmente, são três centros de distribuição e oito de Cross Docking (sistema que não utiliza estocagem).

A gigante internacional Amazon anunciou no início do mês a inauguração de seu quinto e maior centro logístico no Brasil. Localizado em Cajamar (SP), ele tem 100 mil metros quadrados.

Em meio às mudanças na distribuição de produtos no país, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, afirma já ter grandes empresas do varejo interessadas nos Correios. “Não teremos um processo de privatização vazio. Já temos cinco players interessados, entre eles Magalu [Magazine Luiza], DHL e FedEx”, disse em live na semana passada, em que citou também a Amazon como possível compradora.

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