“A Vida Invisível”, filme do diretor cearense Karim Aïnouz, foi escolhido como o representante brasileiro na corrida do Oscar 2020. O longa-metragem premiado em Cannes foi eleito pela comissão indicada pela Academia Brasileira de Cinema. Anna Muylaert, que presidiu a comissão, explicou que a decisão não foi unânime.

“Das nove pessoas nessa comissão, passamos a manhã discutindo. Todos estamos muito felizes com esse número de filmes de alto nível de inscritos para discutir essa vaga brasileira no Oscar, inclusive três deles estavam em Cannes. Tivemos uma discussão de alto nível e um resultado muito dividido. Não foi meio a meio porque o número não era ímpar”, disse a cineasta paulista de “Que Horas Ela Volta?”

“Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho, que ganhou o Prêmio do Júri em Cannes em maio deste ano, era o outro título preferido pelos especialistas da comissão, composta também pelos cineastas e produtores Amir Labaki, Sara Silveira, David Schurmann, Ilda Santiago, Mikael de Albuquerque, Vania Catani, Walter Carvalho e Zelito Viana

O critério de escolha passou tanto pelo gosto pessoal quanto pela “crença de achar que os filmes x ou y teriam mais chances de agradar à Academia”, explicou Anna.

“Foi uma decisão bem dividida. Havia pessoas que acreditavam que a campanha do ‘Bacurau’ seria mais forte’, outros acreditavam que a do ‘Vida Invisível’ seria mais forte. Uma vez  que ganhou, a gente só pode dizer que é um filme de extrema qualidade, dirigido por um dos maiores nomes do cinema brasileiro, um diretor nordestino, que tem um produtor forte, que tem influência no mercado americano (Rodrigo Teixeira, de “Me Chame pelo Seu Nome”) e principalmente Fernanda Montenegro, que já concorreu ao Oscar (por “Central do Brasil” em 1999). Mas o que pesou realmente foi a qualidade do filme.

Há dois anos, outro filme de Mendonça, “Aquarius”, também foi preterido na escolha dos pré-indicados em favor de “Pequeno Segredo”, de David Schurman, na comissão deste ano. Como o cineasta pernambucano, a equipe e o elenco do filme passaram pelo tapete vermelho do festival francês com placas em que afirmavam que o  impeachment de Dilma Rousseff foi golpe, o próprio Mendonça afirmou que houve retaliação.

Neste ano, em meio a ameaças de sanção do presidente em dissolver a Agência Nacional do Cinema (Ancine), a comissão foi questionada pelo assunto. Segundo José Peregrino, diretor presidente da Academia Brasileira de Cinema, o secretário do Audiovisual, Ricardo Rihan, esteve presente na votação.

“Eu acredito que pelas palavras que ele disse, ele não interferiu em nada, claro.. Acredito que o processo normal de ajudar o financiamento da campanha desse pré-candidato vai seguir o seu curso”, disse Peregrino.

“Bacurau” estreia nesta quinta-feira (29) no Brasil. Já “A Vida Invisível” deve chegar às salas de cinema em 22 de outubro.

Saiba mais sobre os filmes inscritos para apreciação da comissão:

A Última Abolição, de Alice Gomes

Uma retrospectiva detalhada de um momento emblemático da história do Brasil, a abolição da escravidão, apresentado de uma outra perspectiva. Ao contrário do que foi pregado por livros didáticos e outras vertentes da história oficial por muito tempo, não foi meramente a assinatura da Princesa Isabel na Lei Áurea em 13 de maio de 1888 que libertou os escravos, e tampouco tal liberdade foi um presente ou um passo na direção da mitológica democracia racial.

A Vida Invisível, de Karim Aïnouz

Década de 1940. Eurídice é uma jovem talentosa, mas bastante introvertida. Guida é sua irmã mais velha, e o oposto de seu temperamento em relação ao convívio social. Ambas vivem em um rígido regime patriarcal, o que faz com que trilhem caminhos distintos: Guida decide fugir de casa com o namorado, enquanto Eurídice se esforça para se tornar uma musicista, ao mesmo tempo em que precisa lidar com as responsabilidades da vida adulta e um casamento sem amor.

A Voz do Silêncio, de André Ristum

O passar dos anos é impiedoso para todos. No filme, sete personagens aparentemente comuns conduzem suas vidas buscando, cada um, aquilo que acredita lhe trazer satisfação pessoal. Mas, mesmo com vidas distintas e distantes, eles se aproximam pela maneira como orientam suas existências com base em preocupações mundanas.

Bacurau, de Kleber Mendonça Filho

Pouco após a morte de dona Carmelita, aos 94 anos, os moradores de um pequeno povoado localizado no sertão brasileiro, chamado Bacurau, descobrem que a comunidade não consta mais em qualquer mapa. Aos poucos, percebem algo estranho na região: enquanto drones passeiam pelos céus, estrangeiros chegam à cidade pela primeira vez. Quando carros se tornam vítimas de tiros e cadáveres começam a aparecer, Teresa (Bárbara Colen), Domingas (Sônia Braga), Acácio (Thomas Aquino), Plínio (Wilson Rabelo), Lunga (Silvero Pereira) e outros habitantes chegam à conclusão de que estão sendo atacados. Falta identificar o inimigo e criar coletivamente um meio de defesa.

Bio – Construindo uma Vida, de Carlos Gerbase

Nascido em 1959 e morto em 2070, um homem tem uma patologia especial que não o permite mentir. Depois de sua morte, amigos e membros de sua família se reúnem para relembrar acontecimentos especiais pelos quais passaram juntos e que montam um interessante retrato da biografia do rapaz.

Chorar de Rir, de Toniko Melo

“Estrela do programa de TV Chorar de Rir”, Nilo Perequê (Leandro Hassum) é um grande nome da comédia no país. Quando ganha o prêmio de melhor comediante do ano, o humorista decide mudar radicalmente sua carreira e se dedicar totalmente ao drama, deixando sua família e seu empresário desesperados.

Espero Tua (Re)volta, de Eliza Capai

Um retrato do movimento estudantil que ganhou força a partir do ano de 2015 ocupando escolas estaduais por todo brasil. Acompanhando três jovens do movimento e com imagens de arquivo de manifestações desde 2013, o documentário tenta compreender as ocupações e as suas principais pautas a partir do ponto de vista dos estudantes envolvidos.

Humberto Mauro, de André Di Mauro

Um pioneiro do audiovisual brasileiro, Humberto Mauro fez história com uma grande carreira entre a década de 1930 e 1960, produzindo mais de 300 curtas, médias e longa metragens e se tornando diretor do Instituto Nacional de Cinema. Reunindo trechos de obras do cineasta e entrevistas, o diretor André Di Mauro faz um panorama da vida e da carreira desse grande nome do cinema nacional.

Legalidade, de Zeca Brito

Brasil, 1961. Quando Jânio Quadros renuncia à presidência do Brasil, o vice-presidente João Goulart torna-se o sucessor natural ao cargo. No entanto setores da sociedade, liderados pelos militares, clamavam pelo impedimento da posse de Jango, temerosos de suas posições de esquerda. Liderado por Leonel Brizola (Leonardo Machado), o movimento Legalidade é criado para garantir a posse do vice-presidente, colocando grande parte do Rio Grande do Sul contra o núcleo do exército. Em meio à turbulência política e social, um triângulo amoroso é formado entre Cecília (Cleo Pires), Luis Carlos (Fernando Alves Pinto) e Tonho (José Henrique Ligabue).

Los Silencios, de Beatriz Seigner

Amparo (Marleyda Soto) é mãe de dois filhos pequenos e está fugindo dos conflitos armados da Colômbia. Na tríplice fronteira do país com o Peru e o Brasil, ela e os meninos se abrigam em uma pequena ilha com casas de palafita no Rio Amazonas. No local, eles encontram o pai (Enrique Diaz), que supostamente estava morto.

Simonal, de Leonardo Domingues

Dono de voz marcante, carisma encantador e charme irresistível, Wilson Simonal (Fabrício Boliveira) nasceu para ser uma das maiores vozes de todos os tempos da música brasileira. No entanto, após anos de sucesso conquistado com muito trabalho, suas finanças descontroladas o levam a, num rompante de ignorância, tomar decisões que marcarão para sempre sua carreira.

Sócrates, de Alex Moratto

Depois da morte de sua mãe, o jovem Sócrates (Christian Malheiros), que foi criado apenas por ela durante os últimos tempos, precisa fazer tudo o que for possível para que consiga sobreviver na realidade da miséria, somado com o preconceito por ser homossexual. Seus valores e ideais são colocados na balança com o medo de não conseguir se virar sozinho.

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