A omissão do poder executivo e de nossos vereadores podem estar custando vidas de marilienses trabalhadores que dependem diretamente do transporte coletivo. A única medida tomada em meio a pandemia foi apenas o reajuste da tarifa que passou dos R$ 3,80 para R$ 4,50, uma das mais caras do estado de acordo com a quilometragem rodada, ultrapassando até mesmo a capital paulista.

Qualquer distanciamento social correto, numa fila em terminal de ônibus, se desfaz por dentro do veículo, e olhem que isto não ocorre no terminal urbano. Isso acontece não pela proximidade das poltronas, mas pelo excesso de passageiros ou, para melhor dizer, pela falta de veículos para atender à demanda numa pandemia, o que revela uma aglomeração que sempre foi tolerada, mas não poderia ser nestes tempos. É o que Marília tem vivido nos últimos tempos.

O acréscimo de veículos novos divulgado com ampla festa pela administração municipal, já caiu por terra, pois a própria empresa Grande Marília já os repassou para Bauru. Nos horários de maior movimentação aparece então o desespero da classe trabalhadora, e, por um motivo simples: a oferta sempre esteve muito aquém da demanda.

Vídeos com flagrantes de aglomerações nos terminais revelam que a máscara é o único item sanitário que tem sobrevivido no vai e vem de passageiros, mas não por culpa deles. Muitas pessoas usam dois ou mais ônibus por dia para trabalhar. Até os eventos sociais e culturais foram reduzidos drasticamente – quando não totalmente evitados em presença, o que apenas reforça que o passageiro está ali por necessidade funcional. Só nossas autoridades que não usam transporte coletivo não enxergam.

Os depoimentos de usuários têm confirmado isso, através das dezenas de reclamações e registro fotográficos ou em vídeo que recebemos diariamente em nossa redação. Ao mesmo tempo, é importante reconhecer que, se a pandemia pegou a todos de surpresa, um ano atrás, um problema histórico como a lotação de ônibus não seria resolvido no mesmo intervalo de tempo, mas, que poderia ser sanado seguindo os exemplos de outras cidades ou, com humildade aceitar as sugestões apresentadas reiteradas vezes por este jornalista através de matérias ou simples postagens em sua rede social própria.

Mas afinal, o que esperar de uma cidade que não tenho um amplo projeto de mobilidade urbana, embora já tenha sido adaptada a Emdurb para isto ?

Assim como os problemas históricos existentes em educação (dificuldade de tecnologia e conhecimento para acesso remoto) e saúde (infraestrutura hospitalar mínima), por exemplo, a crise causada pelo coronavírus criou um alerta por ainda mais pressa no que tange à mobilidade urbana. E até que se resolva, o que duvido muito, veremos filas enormes no terminal urbano e pontos de grande concentração nas principais artérias de trânsito.

O transporte coletivo ainda é a melhor saída de médio e longo prazo, apesar do coronavírus. No entanto, nossos políticos precisam reconhecer os gargalos evidentes na crise como um preparativo para as próximas. Tudo é uma questão de visão.

A falta de distanciamento social nos terminais urbano e rodoviário e as aglomerações existentes, principalmente em horários de pico, é apenas uma ponta do problema. A responsabilidade da aglomeração não pode recair sobre o usuário, especialmente aquele que está seguindo para trabalhar e ser economicamente ativo. Está na hora de vereadores, Ministério Público abraçarem a causa diante da omissão do poder executivo.

As empresas e a Prefeitura Municipal precisam se manter atentas ao controle da estratégia de mobilidade para essa período pandêmico: estudo de novas rotas, com base na demanda do usuário por região; rotina de higienização sanitária dos equipamentos (com fiscalização municipal) e a garantia de ônibus para que quem dele necessita não perca o direito a um distanciamento seguro, justamente em um período no qual a ausência de contato é tão fundamental. Será um avanço em saúde e mobilidade. Anotem, para não dizerem que nunca mencionei ou comentei nada a respeito.

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