Quando idealizamos abrir uma página específica no JORNAL DO ÔNIBUS DE MARILIA para retratar semanalmente temas de interesse desta população excluída e residente nas quase 20 comunidades de Marília, procuramos de uma forma minuciosa, detectar problemas comuns nas favelas não só de nossa cidade, mas, nos principais centros como um todo.

Antes de realizarmos visitas em loco, mapeamos alguns veículos de comunicação impressa, também de editorial de independente e que na mesma linha de raciocínio relatam as dificuldades dos moradores, de gente como a gente, que já começa o processo de superação diária, à partir do momento que abre a porta de sua casa ou barraco como queiram. A realidade fica bem distante daquelas que aparecem em novela.

Nosso primeiro “passeio” foi justamente pelo estado do Rio de Janeiro, o pioneiro no PROJETO FAVELA BAIRRO que reurbanizou boa parte de famosas favelas cariocas. O que nos chama a atenção é que; a dificuldade em comum é a mobilidade urbana, apesar das inúmeras benfeitorias conquistadas.

Mas, o pior mesmo é quando nos confrontamos com a realidade de Marília, onde apesar dos lindos discursos em todas as campanhas eleitorais, nenhum projeto de reurbanização foi realizado. Basta realizar uma visita no famoso “vermelhão” da vila barros, nas ladeiras da favela do Argolo, do Azaléia, Marajó e outros. Além de esgoto a céu aberto, moradores que residem em barracos insalubres, expostos aos intempéries do tempo e condições sub-humanas e dignas de habitação.

Por incrível que pareça, apesar da luta do extinto CAMOM ( Conselho das Associações de Moradores de Marilia ) que jogou um papel fundamental para a criação do Conselho de Habitação de Marília em 2006, inexplicavelmente ou por pressão de “algumas” construtoras NÃO EXISTE ATÉ HOJE UMA SECRETARIA DA HABITAÇÃO no município que direcione políticas para este fim.

É UM ABSURDO, não existir na cidade tal secretaria que justamente seria capaz de canalizar fundos para o fundo municipal de habitação, um caixa próprio para unificar recursos do orçamento municipal, federal, estadual e até do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID , que tem como prioridades a redução da desigualdade e a melhoria dos serviços públicos para desenvolver projetos semelhantes ou até superiores ao consagrado FAVELA BAIRRO. Vamos então a esta matéria de Jacqueline Cardiano, conhecer a história do Robson do Santos, que apesar de residir em uma comunidade carioca, se assemelha ao histórico de muita gente por aqui. Confira ;

Para uma melhor compreensão, no dicionário, a palavra mobilidade significa a capacidade de movimentar, de se mexer. Outra definição explica que é a possibilidade de se mover rápido. Não é o que acontece na cidade do Rio de Janeiro. Andar pelas ruas com buracos, calçadas desniveladas se torna um desafio muitas vezes desgastante. Mas essa realidade é ainda pior para quem tem dificuldades de locomoção e vive em favelas. Idosos e dificientes físicos precisam se adaptar à falta de transporte adequado, grandes escadas, falta de rampas e asfalto mal feito. 

Robson dos Santos vive no morro do Sereno, no Complexo da Penha, desde os quatro anos. Acostumado a descer e subir as ladeiras da localidade, viu sua vida ser transformada  no final da década de 90. Pois, foi atingido por uma bala perdida em outra favela, enquanto saia da casa da ex-namorada. Ficou paraplégico e precisou se adaptar à nova realidade. Com isso, a locomoção dentro da comunidade se tornou um desafio ainda maior. 

“É bem ruim porque carro e moto chegam em determinada parte da comunidade. E, depois, tem a escada. Eu subo de muletas, andando do jeito que dá, com muito cuidado. Mas é muito ruim, principalmente quando chove”, afirma Robson. 


FotoVilma Ribeiro / Voz das Comunidades

Robson anda de cadeira de rodas somente em longas distâncias. Ele afirma que tem paraplegia parcial, ou seja, consegue fazer a maior parte das atividades com muletas. No entanto, o esforço físico piora as dores crônicas, com as quais ele têm de conviver frequentemente. Segundo ele, andar de cadeira na comunidade seria impossível. 

“Na verdade, na comunidade não tem acessibilidade nenhuma. Nem para mim, nem para idoso. E também tem outro lado que ninguém olha. Pessoas que se acidentam temporariamente, quebram uma perna, e não podem descer pra fazer uma fisioterapia”. 

O morador relata que o local precisaria de um elevador ou de um teleférico para as pessoas frequentarem os compromissos delas com menos sacrifício. Porém, poucas favelas tiveram projetos de teleféricos e elevadores adaptados a esse contexto. No Complexo do Alemão, os teleféricos chegaram em 2011, mas desde 2016 não funcionam. No Complexo da Penha, não houve sequer um tipo de projeto parecido na região. 

A vida longe das ladeiras e escadas


Yedda Tupiniquim anda com ajuda de familiares e não conseguia mais subir as escadas no Morro do Sereno.
FotoJacqueline Cardiano

A mãe de Robson, Yedda Tupiniquim, de 84 anos, relata que, antes, a situação na região era pior. “Eu vim para cá quando eu tinha 26 anos. Não tinha escada, não tinha nada. Eu descia e subia, segurando o que eu visse na minha frente”. 

Apesar da região ter melhorado devido às obras do Favela Bairro, as condições ainda estão longe de serem as ideais, segundo Yedda. Por isso, diferentemente do filho, a idosa precisou sair da comunidade, pois anda somente com ajuda dos familiares. Atualmente, mora em um apartamento na Vila da Penha, alugado pelos netos, o que trouxe à ela um pouco mais de conforto. “Eu não conseguia ir ao médico, não conseguia fazer nada. Só vivia trancada em casa. Como eu ia subir as escadas?”, destaca a senhora. 

Contudo, revela que, apesar de todos os problemas, tem um carinho muito grande pela localidade. “Foi ali que criei meus filhos e meus netos. Sempre gostei muito dali, mas eu tive que sair, né?”.

Enfim, poderia ser uma história diferenciada, mas, é um fato comum que ocorre não só nos becos e vielas de uma favela ou comunidade ( assim denominada após investimentos em infra estrutura ) carioca ou paulistana, mas, também aqui em Marília onde mais uma vez reiteramos o descaso da classe política em geral, que só lembra desta população em períodos eleitorais, e olha, que nem todos, pois, alguns nem lá pisam para não sujar o sapatinho ou o scarpin. É ASSIM CAMINHA A MEDIOCRÍDADE…

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