A operação desmonte da saúde continua, pelo menos pela óptica da população, mas, com argumentações contrárias apresentadas pela administração do prefeito Daniel Alonso e do secretário municipal da saúde Cássio Luiz Pinto com o discurso de novo modelo de gestão.

A exemplo do que fizeram na UBS Bandeirantes, a UBS Costa e Silva, uma das mais antigas da cidade será, segundo o secretário municipal da saúde, inevitavelmente transformada em uma unidade PSF, independente da vontade dos moradores, pois seria uma opção do gestor da cidade, ou seja as reuniões seriam apenas para se cumprir um protocolo de explicações. Nossa reportagem apurou que a partir do dia 5 de abril a UBS Costa e Silva passará a ser mesmo USF (Unidade de Saúde da Família).

A primeira reunião ocorreu na ultima quarta feira, nas dependências da Escola Municipal de Ensino Fundamental Profª Myrthes Pupo de Negreiros no próprio bairro contando com a presença de apenas 20 moradores que reclamaram bastante da falta de divulgação, pois ninguém estava sabendo.

Para se ter noção, a unidade é referência para os moradores dos bairros Costa e Silva, Monte Castelo, Continental, Parque São jorge, Aparecida Nasser, Guarujá, Itaipu, Parati Portal do Sol e parte do Fragata. A população atendida é estimada em cerca de 14 mil pessoas. De forma estratégica, a reunião foi marcada justamente em um dia de culto na igreja católica do bairro ( Igreja Nossa Senhora da Guadalupe ) onde boa parte da população obviamente não estaria presente.

Além dos moradores, estiveram presentes alguns funcionários da UBS, a equipe técnica da secretaria da saúde, o próprio secretário e sua assessora adjunta Edinalva Neves Nascimento. Os funcionários excedentes serão designados para outros postos de trabalho, como aconteceu na UBS Bandeirantes, o que confirma a redução da equipe de atendimento. Já o presidente do COMUS, senhor Darci Bueno da Silva esteve presente como cidadão, visto que, por incrível que pareça, o conselho municipal de saúde com função deliberativa não foi sequer convidado.

FALTA DE SENSIBILIDADE : Mais de 10 mil moradores foram excluídos da unidade e terão que se deslocar quase 2 KM para serem atendidos

A insensatez administrativa e a frieza na decisão, segue o modelo que extinguiu farmácias das UBS’s, mesmo aprovado na última conferência, e também adotado na falecida UBS Bandeirantes, onde os moradores são obrigados a se deslocar para outras unidades em uma verdadeira “caçada” por especialistas.

No caso específico da unidade do Costa e Silva, segundo as próprias palavras do secretário, o atendimento será restrito a no máximo 4 mil moradores conforme preconiza o Ministério da Saúde e o programa de Estratégia de Saúde da Família. A ditadura é tamanha que os funcionários da unidade estão proibidos sumariamente de dar entrevistas, filmar ou tirar fotos da unidade.

Com a decisão os usuários excluídos para fora da unidade, cerca de 10 mil moradores, independente de idade, classe social ou qualquer outro critério, terão que se deslocar de 1 à 2 quilômetros até a UBS mais próxima seja a UBS Planalto ou UBS da Nova Marilia. Simplesmente mais um desmonte na sistema de saúde idealizado de forma brilhante na gestão do secretário José Ênio Sevilha Duarte.

O JORNAL DO ÔNIBUS DE MARILIA, mais uma vez, como um defensor do SUS e da melhoria na qualidade do atendimento a saúde, foi o único veículo de comunicação presente e apesar das críticas recebidas do nobre secretário, fez questão de entrevista-lo. Acompanhe parte da entrevista;

JORNAL DO ÔNIBUS DE MARILIA : O que é mais importante para o secretário municipal de saúde e para o prefeito municipal Daniel Alonso, a SAÚDE FINANCEIRA DOS COFRES MUNICIPAIS OU A SAÚDE DA POPULAÇÃO ?

SECRETÁRIO CÁSSIO LUIS PINTO : A saúde da população. Você pode acompanhar a explanação de nossos técnicos da melhoria no atendimento à população. É diferente, não é esperar o cidadão ficar doente, é cuidar para que ele não adoeça. Isto é fundamental. Respondendo ainda a sua pergunta, é que cuidando da população, n´os estaremos economizando recursos para melhorar ainda mais os serviços. Se eu não esperar ela ficar doente, obviamente meu gasto com ela quando adoecer será muito menor.

JORNAL DO ÔNIBUS DE MARILIA : A transformação de UBS em PSF tira das costas do município a obrigatoriedade do investimento, transferindo totalmente para o governo federal. Isto não é economizar em saúde com consequências na qualidade do atendimento ?

SECRETÁRIO CÁSSIO LUIZ PINTO : Eu não vou entrar no mérito de que este novo modelo tem todo o direcionamento do governo federal através do ministério da saúde. UBS não existe mais. A UBS é dinheiro integral do município, então alivia para o município, mas, o mais importante é que a economia de recursos não esperando que a população adoeça e sim cuidando para que ela não adoeça, porquê a medicina curativa é muito mais cara que a preventiva.

JORNAL DO ÔNIBUS DE MARILIA : De acordo com as palavras de sua equipe técnica o médico generalista vai atender somente acamados. O senhor confirma isto ou ele irá visitar todas as casas ?

SECRETÁRIO CÁSSIO LUIZ PINTO : Não, não, não. Irá atender toda a população. Vai alcançar toda a população. Cada agente comunitário atende 750 moradores, houve mais contratações e com isso vamos atender a todo mundo, um atendimento preconizado com cada unidade de ESF para o atendimento de 4 mil habitantes. Tudo esta sendo estudado para que na transformação a população sinta a diferença dos dois modelos de atenção primária a saúde.

JORNAL DO ÔNIBUS DE MARILIA : Foi colocado aqui também a questão de especialidades, ou seja; ginecologia e obstetrícia e pediatria. Pelo novo modelo que está sendo implantado, o médico generalista ou clínico geral vai prestar este tipo de atendimento extinguindo esses médicos dos postos de saúde ?

SECRETÁRIO CÁSSIO LUIZ PINTO JUNIOR : Ele fará o atendimento e posteriormente o encaminhamento. Especialidades é um dever do estado. Nós tínhamos 12 unidades, iremos transformar seis unidades, sendo que duas já ocorreram a mudança em PSF e está aqui já tem data para ser transformada e as 6 que restarem nós iremos transformar em clinicas de especialidades em atendimento especial. Nós estamos formatando um convênio para ter em Marília um centro de atendimento materno infantil que vai concentrar todo o atendimento da mulher e da criança. Isto responde a sua pergunta no que diz respeito a ginecologia e pediatria.

JORNAL DO ÔNIBUS DE MARILIA : Podemos entender então que o usuário ao passar por um atendimento e receber um encaminhamento ele irá para a fila dependendo de uma central de vagas ?

SECRETÁRIO CÁSSIO LUIS PINTO : Mediante a vagas, exatamente. A questão das vagas é que nosso modelo de atenção está ultrapassado. Para avançar é preciso mudar o modelo. Nós temos que tratar a população para que não adoeça, se adoecer ter para onde enviar.

JORNAL DO ÔNIBUS DE MARILIA : Qual o balanço que o senhor faz da mudança que foi feita na UBS Bandeirantes ?

SECRETÁRIO CÁSSIO LUIS PINTO : Nós vivemos uma pandemia até pouco tempo. Quero lembrar que a pandemia foi um fato novo para aprendermos a lidar com ela, e até hoje não sabemos. Quando todo mundo imagina que ela tinha ida embora veio novamente uma crise de síndrome gripais que lotaram as unidades de saúde. Até então estávamos vivendo em função da pandemia, a população adoeceu, a população deixou de se tratar e as filas aumentaram, mas, no máximo até semana que vem estaremos anunciando mutirões para a diminuição das filas para voltar a normalidade.

JORNAL DO ÔNIBUS DE MARILIA : O presidente do Bairro questionou a pouca divulgação e em consequência disto o pequeno número de pessoas. Irá acontecer uma nova reunião ou independe disto para uma decisão ?

SECRETÁRIO CÁSSIO LUIS PINTO : Independe pois esta é uma decisão do prefeito e do secretário. Nós estamos constantemente abertos e próximos da população por quantas vezes for necessário para acompanhar, orientar a todos. Estaremos mais próximos destas unidades que estarão sendo transformadas. Nós queremos melhorar…

Dois pontos interessantes da entrevista; O PRIMEIRO quando o secretário da saúde citou que a administração municipal estava formatando um convênio para ter em Marília um centro de atendimento materno infantil que vai concentrar todo o atendimento da mulher e da criança. Neste ponto trata-se do anuncio do vice governador Rodrigo Garcia que anunciou em sua última vinda em Marília A CONSTRUÇÃO DE UM HOSPITAL para a mulher e a criança, ou seja; primeiro deixa a entender que realmente a administração municipal caminha em sintonia com o deputado Vinicius Camarinha e o Governador.

O SEGUNDO ponto interessante é que trata-se de uma promessa em ano eleitoral em um prédio que ainda será construído próxima ao HC, se não for outra novela do tipo AME+ prometida em 2018. Quanto tempo demora uma construção ???

OUTRO DESTAQUE, foi para a pergunta sobre o balança dos três primeiros meses da agora PSF BANDEIRANTES. Claramente o secretário se esquivou da resposta, pois, o índice de reclamação é assustador. Vale lembrar que em duas audiência realizadas a população reprovou a mudança, porém em uma reunião à portas fechadas com a associação de moradores, estranhamente deliberou-se para a mudança. O caso está no Ministério Público. Se bem que o secretário já afirmou que o que vale é a vontade dele e do prefeito.

Vale aqui recordar matéria publicada pelo JORNAL DO ÔNIBUS DE MARILIA EM 25 de novembro de 2021, ou seja a questão de pouco mais de 4 meses de uma campanha do governo federal e do ministério da saúde em vigor em todo o Brasil, exceção claro, em Marília, uma mega campanha de valorização da UBS’s nos municípios com spots publicitários em rádios, TV’s, e logos em jornais e revistas para conscientizar as administrações municipais e a população sobre a importância e a consequente valorização destas unidades no atendimento primário, principalmente aos usuários do SUS. Relembre acessando o link abaixo :

Como se vê e citou o secretário, o objetivo é claro de aliviar as despesas dos cofres municipais com a alegação da melhoria no atendimento. O ditado é antigo; ” O tempo é senhor da razão “, e enquanto isto, a população continua cobrando médicos, sofrendo nas filas e não encontrando medicações básicas nas escassas farmácias do município.

O direito à saúde está assegurando na Constituição de 1988 e se trata de uma cláusula pétrea. Por causa disso, qualquer tentativa de aplicar a lógica da iniciativa privada dentro do SUS é inconstitucional.  Enquanto houver um fôlego de vida, se faz necessário uma melhor avaliação para estratégias que são adotadas para favorecer grupos empresariais interessados no lucro, enquanto a população fica apenas com o estado mínimo de atendimento. Quem quiser e puder, que faça um convênio. Esta é a lógica e a intenção encoberta nas entrelinhas.

Especialistas na área da Saúde atentam para o fato de, a atenção primária ser a “porta de entrada” do SUS, e o grande temor é o que esta prestes a acontecer em Marília, ou seja; a parceria com a iniciativa privada abrindo caminho para privatização do sistema que presta atendimento de saúde a população dos bairros e a consequente queda no já precário atendimento por falta de médicos. Quem cuida de PSF’s são ONG’s, muitas vezes de outras cidades, basta ver as inscritas para participar do processo de terceirização dos PSF’s, SAMU, CAOIM, CEREST, PA SUL e por aí afora.

Logo, passou da ora de reedificarmos os pilares de uma sociedade que defenda a vida acima dos lucros, que defenda um modelo de estado de bem-estar com garantias de direitos e não privilégios de mercados. Uma sociedade inclusiva, justa e solidária. Tarefa essa que não se faz, assistindo a banda passar, ou afirmando que a reforma previdenciária, trabalhista, administrativa, atinge somente a nova geração. Você que está lendo será sem atingido quando precisar de uma unidade de saúde.

É urgente não perdemos nenhuma oportunidade para reversão desse quadro, sendo ousados, criativos e comprometidos com um outro modelo de estado: firme, presente, responsável e cuidador das expectativas, sonhos e esperanças de cada indivíduo, família e comunidade mariliense. Só assim evitaremos que a Atenção Primária à Saúde e o SUS entrem de vez na cavalaria da privatização em nossa cidade. O primeiro passo é esta transformação.

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