Há uma avenida entre os radicalismos de esquerda e direita. Para ocupar esse vácuo, partidos ensaiam fusão. Pesquisa será contratada e PSDB pode até mudar de nome

A procura por caminhos alternativos à polarização política não se encerrou nas eleições. Com a derrocada de Geraldo Alckmin e a ausência de nomes capazes de atrair o eleitorado hoje fora da órbita de PT e PSL, respectivamente de esquerda e direita, partidos do espectro de centro se movimentam para ganhar musculatura política visando às próximas batalhas eleitorais. A escolha para relatar a Previdência do tucano Samuel Moreira (SP), a partir da aliança do PSDB com o DEM, foi o ensaio do que pode se materializar mais adiante. A ideia em gestação consiste em criar uma nova e robusta legenda com a fusão de tucanos e democratas, podendo depois contar com a adesão de políticos desertores de outras siglas, como o MDB, PSD, PP e PTB – desde que não sejam fichas-sujas, condição primordial para carimbar a ficha de filiação.

Início de tudo

O projeto começou a ser articulado pelo governador de São Paulo, João Doria, logo depois de ele vencer a disputa para governador em 2018, na qual se fortaleceu com ataques aos “socialistas”, inclusive alguns abrigados no próprio PSDB. Ao apresentar-se como um político liberal, aliando-se a Bolsonaro no segundo turno, Doria deixou claro que sua eleição mudaria os rumos do tucanato. “A partir de agora, o PSDB terá rumo, não mais em cima do muro”. Ao assumir o governo, ele pôs em prática seu plano: aproximou-se ainda mais de Bolsonaro, liderando os governadores para a aprovação da reforma da Previdência, e passou a ter encontros freqüentes com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e com o prefeito de Salvador, ACM Neto, os dois principais líderes do DEM. Com eles, o governador lançou a semente do novo partido.

ACM Neto ainda não está totalmente convencido do projeto, afirmando que “por enquanto, a fusão ainda não está na pauta dos Democratas”. Mas lideranças do DEM ouvidas por ISTOÉ em Brasília reconhecem que a nova legislação eleitoral, que acaba com as coligações proporcionais e impõe duras regras de cláusulas de barreiras, vai enfraquecer ainda mais os partidos médios, como o Democratas, PSDB, PR, PP e PRB — todos de centro —, ensejando a oportunidade de união, segundo admite Elmar Nascimento (DEM-BA), líder na Câmara. “Os partidos de centro vão ter que se reinventar e a fusão pode ser a solução”, disse outro parlamentar.

Um dos entraves para a criação da nova sigla, segundo lideranças do DEM, é que o PSDB nacional carrega figuras desgastantes no cenário nacional, como o deputado Aécio Neves, o ex-governador mineiro Eduardo Azeredo e o ex-governador do Paraná, Beto Richa, todos acusados de corrupção. Mas o grupo de Doria já prometeu que a nova sigla irá expurgá-los, por meio do Conselho de Ética.

Em junho, uma pesquisa será contratada para que filiados do PSDB e simpatizantes opinem, entre outros temas, sobre uma eventual mudança de nome da legenda e se concordam com a conversão ao centro do espectro político. Se concretizado, seria o gesto político mais brusco do partido desde o racha com o PMDB para fundar o PSDB, no final da década de 80.

Durante reunião do Diretório Estadual do DEM no último domingo 28, o presidente da sigla, vereador Milton Leite, afirmou que “a fusão com o PSDB está na mesa” e chegou a lançar uma chapa completa da nova sigla para disputar as próximas eleições: Bruno Covas (PSDB) para a reeleição de prefeito, Rodrigo Garcia (DEM) para governador e João Doria para presidente em 2022. Agora, é aguardar para ver se está para desabrochar realmente uma nova alternativa partidária capaz de mudar a configuração política nacional.

error: Conteúdo protegido por direitos autorais.