Especialista destaca que adesão de líderes é essencial para o sucesso do voluntariado empresarial

O Dia do Voluntariado celebra anualmente, em 28 de agosto, a atitude de pessoas que doam seu tempo e energia para ajudar o próximo. Mas além de ações individuais, as empresas também podem realizar projetos na área, a partir do chamado voluntariado empresarial.

O sucesso de projetos de voluntariado empresarial não depende apenas do interesse dos funcionários, segundo Marcelo Nonohay, diretor da MGN, empresa especializada em gestão de projetos de transformação social.

Ele considera que o primeiro passo para as empresas realizarem ações de voluntariado é entender não apenas sua importância social, mas também mercadológica.

“O voluntariado deve ser visto como um investimento da empresa na sociedade, na comunidade, em termo de horas dos seus talentos a serviço dos problemas que encontram na sociedade. Quando a empresa diz que quer fazer algo, mobiliza, busca ajuda dos colaboradores. Ela coloca na prática o quadrinho de valores”, diz ele.

O movimento também é positivo para os próprios funcionários, que passam a se identificar com o que a empresa defende, já que há um encontro com seus próprios valores pessoais.

“Quando se fala de voluntariado, fala-se de ‘vai quem quer’. Nunca vai ser 100% da empresa, mas mesmo quando é um grupo pequeno, o restante vê o programa acontecer e sentem orgulho disso, então, tem um efeito que, quando bem comunicado e organizado, chega a todo mundo”, diz Nonohay.

A escolha dos projetos de voluntariado acaba influenciado no próprio engajamento da empresa. O mais comum, segundo ele, é a busca de uma conexão entre o negócio e o projeto, como uma mineradora trabalhando com impacto ambiental ou um banco com educação financeira, o que ajuda no próprio aproveitamento dos conhecimentos dos empregados e pode dar mais sentido à participação.

É possível, porém, que a empresa encontre algo que faça sentido nas comunidades que estão próximas a ela, trabalhando com questões como educação ou pobreza, por exemplo. A importância, explica Nonohay, é buscar um “impacto positivo”, e garantir que o voluntariado não ocorra ocasionalmente, de forma incerta, mas sim de forma constante.

Grupo de voluntários
Engajamento interno é essencial para sucesso do voluntariado empresarial / Fonte: Freepik

Adesão de líderes é essencial no voluntariado empresarial

Outro elemento importante na hora de criar projetos de voluntariado empresarial é definir quem será o responsável por gerir essas iniciativas.

Nonohay diz que algumas empresas possuem estruturas como fundações e institutos que acabam cuidando, também, de projetos de voluntariado. “Outra possibilidade é que o voluntariado caia na área de sustentabilidade. A gente sempre tem, em muitos casos, relações com a área de gestão de pessoas”, diz.

A área, inclusive, é a recomendada pelo diretor para participar desses projetos, por já ter o conhecimento de como trabalhar com os talentos que a empresa possui.

Ele destaca que a doação é mais fácil de ser feita do que o voluntariado, exatamente porque o segundo envolve uma doação de tempo. Assim, ele considera que a chave para atrair os funcionários é não apenas ter uma proposta que faça sentido e atraia eles, mas também comunicar bem essas informações.

“Isso nem sempre é uma tarefa simples na comunicação interna porque, às vezes, falta atenção”, afirma. Ele também considera fundamental o apoio, reconhecimento e envolvimento das lideranças da empresa, em todos os níveis.

“Isso permite ter a certeza e a garantia de sucesso do programa. Isso mostra que é importante para a organização e não algo que o funcionário faz no tempo livre, escondido.”

Pandemia dificultou ações de voluntários

Segundo ele, o cenário da pandemia, que afetou em especial os mais pobres, teve momentos de mobilização do público, mas que isso não foi constante. Para ele, as ações de doação aumentam quando os indicadores epidemiológicos pioram, mas diminuem quando há uma melhora no cenário.

O levantamento Pesquisa Doação Brasil, coordenado pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), indicou uma queda nas doações em 2020, incluindo a de tempo, que caracteriza o voluntariado. Em 2015, 77% da população fez algum tipo de doação, mas, em 2020, o percentual foi de 66%.

O próprio cenário da pandemia dificultou as ações de voluntariado. “A pandemia deixou todo mundo meio perdido. Os programas de voluntariado precisaram ter cuidado com questões de compliance, então, muitas empresas tiveram de escolher de não expor as pessoas no trabalho voluntário”, explica Nonohay, citando os riscos de saúde e as recomendações de distanciamento social.

Ação de doação
Pandemia aumentou interesse das empresas para doações / Fonte: Unsplash/@jmuniz

Ele observa, porém, que o cenário da pandemia fez com que o interesse de empresas em realizar algum tipo de ação social aumentasse. Nonohay aponta que essa tendência “vem para ficar”, já que as ações de doação ou voluntariado ligam-se à agenda ESG (meio ambiente, governança e sociedade), dentro da área social, que tem sido cada vez mais importante para os investidores.

Se as doações apresentaram um comportamento de ondas, ele avalia que o voluntariado tem uma crescente. Conforme as empresas perceberam que seria possível realizar atividades de voluntariado de forma remota, essas práticas aumentaram. Nonohay cita como exemplo projetos de palestras, orientações gratuitas, lives para captar doações e conversas com moradores de asilos.

Assim, ele espera que o interesse inicial das empresas de ajudar no combate à pandemia se converta em uma agenda fixa de mobilização positiva, mas “talvez com menos intensidade”. O motivo é que ações contínuas de doação e voluntariado “dependem de um planejamento, para torná-las mais sustentáveis”.

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