Estudos mostram que manter estímulo mental, evitar obesidade e pressão alta ajudam a adiar o desenvolvimento da doença; veja outras formas

Há ao menos 21 maneiras conhecidas de reduzir o risco de desenvolver Alzheimer, todas apoiadas por fortes evidências científicas. A doença, incurável, é também a forma mais comum de demência (um termo geral para a perda de memória e habilidades intelectuais), tem evolução lenta, começa com perda de memória e termina com danos cerebrais graves.

Como até hoje a medicina não descobriu o que realmente causa a doença de Alzheimer, as medidas consideradas preventivas tendem a retardá-la, não evitá-la, explica a neurologista Jerusa Smid, coordenadora do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia (ABN). 

“Adotar as medidas preventivas pode fazer uma pessoa desenvolver a doença mais tarde. Em vez de os sinais aparecerem aos 70 anos, surgem aos 80, por exemplo. Um ganho de qualidade de vida de ao menos 10 anos”, explica a neurologista.

As medidas de prevenção foram elencadas em duas meta-análises (revisão de diversos estudos) divulgadas nas revistas científicas The Lancet e Journal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry, em 2020, que analisaram estudos sobre prevenção, tratamento e cuidados em casos de demência, sobretudo Alzheimer

O consumo excessivo de álcool, o sedentarismo, o tabagismo e a alimentação pobre em nutrientes, que aumente o risco de obesidade, diabetes, e hipertensão são os principais fatores de risco, segundo a publicação.

O estudo publicado na “The Lancet” apontou ainda que há mais incidência de casos de demência, incluindo Alzheimer, em negros, asiáticos, grupos minoritários e populações pobres. Diante disso, a desigualdade social e econômica, que envolve pobreza e discriminação racial, também foram  inclusas como fatores de risco, sobretudo para estas populações. 

Estes fatores, segundo os especialistas, precisam ser evitados com medidas sociais e educacionais para melhorar a vida destes grupos. “Essas ações requerem programas de saúde pública e intervenções individualizadas, concluíram os pesquisadores da University College London e da University of Plymouth, ambas no Reino Unido, que assinaram o trabalho.

A meta análise publicada no periódico de neurologia do British Medical Journal analisou 395 estudos prospectivos observacionais (um ou mais grupos de pacientes observados, cujas características são coletadas para análise) e ensaios clínicos randomizados (teste de um medicamento ou tratamento versus uso de placebo).

Os autores concluíram que dois terços das intervenções mais promissoras se concentraram em mudanças de estilo para uma vida saudável, focadas em evitar fatores de risco para doenças cardiovasculares, como pressão alta e níveis de colesterol.

Maneiras de tentar prevenir o Alzheimer

As principais ações preventivas (por indivíduos ou autoridades públicas) apontadas pelas duas meta-análises incluíram: 

  1. Manter o nível adequado de açúcar no sangue e o peso sob controle para evitar diabetes
  2. Manter o peso em um nível saudável, normalmente abaixo de um Índice de Massa Corporal (IMC) de 25
  3. Obter o máximo de educação escolar possível a partir da infância 
  4. Evitar traumatismo craniano (como concussões)
  5. Manter-se cognitivamente ativo com leituras e aprendendo coisas novas
  6. Evitar ou controlar a depressão
  7. Gerenciar o estresse
  8. Tratar a “hipotensão ortostática” (sensação recorrente de tontura ao se levantar)
  9. Manter a pressão arterial sobre controle a partir dos 40 anos 
  10. Examinar os riscos de perda de audição ao longo da vida e adotar aparelho auditivo se necessário (perda auditiva está associada a dano na região cerebral vinculada à memória)
  11. Evitar níveis elevados de homocisteína, um aminoácido que pode contribuir para a formação de coágulos nos vasos sanguíneos e danos nas artérias (prevenção com base em suplementação de vitaminas do complexo B, com recomendação médica)
  12. Praticar exercícios físicos
  13. Gerenciar a fibrilação atrial, que é uma frequência cardíaca rápida e irregular devido a sinais elétricos caóticos no coração (com acompanhamento médico regular)
  14. Comer alimentos com vitamina C ou tomar suplementos (frutas cítricas, como laranja e acerola; legumes, como cenoura, pimentão amarelo e pimentão vermelho, e verduras, como couve e brócolis) 
  15. Reduzir a exposição à poluição do ar e ao fumo passivo do tabaco
  16. Evitar abuso de álcool
  17. Evitar o hábito de fumar
  18. Ter sono de boa qualidade
  19. Evitar terapia de reposição de estrogênio no pós-menopausa (isso não se aplica em casos de menopausa precoce ou perimenopausa)
  20. Evitar o uso de medicamentos para demência como prevenção 
  21. Combater a pobreza e a discriminação racial 

Fatores de risco para o Alzheimer 

A doença foi batizada em homenagem ao médico Alois Alzheimer. Em 1906, o neuropatologista fez uma autópsia no cérebro de uma mulher que morreu após apresentar problemas de linguagem, comportamento imprevisível e perda de memória. O Dr. Alzheimer descobriu as placas amiloides e os emaranhados neurofibrilares, considerados as marcas da doença. Conheça alguns fatores que podem contribuir para seu desenvolvimento:

Idade: a probabilidade de desenvolver Alzheimer dobra a cada cinco anos após os 65 anos. Para a maioria das pessoas, os sintomas aparecem pela primeira vez após os 60 anos.  O Alzheimer de início precoce é uma forma incomum de demência que atinge pessoas com menos de 65 anos e geralmente tem fator hereditário.

História familiar: a genética desempenha um papel importante no risco de um indivíduo desenvolver a doença.

Traumatismo craniano: existe uma possível ligação entre a doença e traumas repetidos ou perda de consciência.

Saúde do coração: o risco de demência vascular aumenta com problemas cardíacos, como hipertensão, colesterol alto e diabetes.

Sintomas relacionados ao Alzheimer

Segundo a neurologista Jerusa Smid, da ABN, o diagnóstico de Alzheimer é feito com base em sintomas como dificuldade cognitiva. “Há testes que podem ser realizados para detectar a doença, mas geralmente não são solicitados porque o diagnóstico clinico é suficiente na maioria das vezes”.

Entre os sintomas listados pela Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz) estão: 

  • Perda de memória
  • Repetir perguntas e declarações
  • Dificuldade de discernimento
  • Posicionamento incorreto de objetos
  • Mudanças de humor e personalidade
  • Confusão mental
  • Delírios e paranoia
  •  Impulsividade
  • Convulsões
  • Dificuldade em deglutição (disfagia)

Tratamento do Alzheimer

Alzheimer ainda é uma doença sem cura. o uso do mendicamento experimental aducanumab, indicado para as fases iniciais da doença, foi aprovado pelo Food and Drug Administration (FDA) – agência reguladora dos EUA equivalente à Anvisa em junho de 2021. A agência não aprovava um novo medicamento contra o Alzheimer desde 2003.  

A droga foi desenvolvida para pacientes com deficiência cognitiva leve e tem o objetivo de retardar a progressão da doença – não apenas aliviar os sintomas. A farmacêutica Biogen e seu parceiro japonês Eisai desenvolveram o aducanumab, administrado por meio de infusão intravenosa para tratar a doença de Alzheimer precoce. Em julho de 2020, a Biogen concluiu seu pedido para a FDA e aguardava a aprovação desde então.

Esta é a primeira autorização que muda a perspectiva do tratamento contra o Alzheimer. “O medicamento atua na proteína danificada no cérebro de quem já tem a doença”, afirma a neurologista.

No entanto, há fatores controversos sobre o aducanumab, que ainda precisam ser esclarecidos. Eles envolvem resultados clínicos e de efeitos colaterais, que devem ser esclarecidos na fase 4 da pesquisa (que testa a medicação em um grupo maior de pessoas), segundo a neurologista.

“Faltam dados que comprovem a melhora clínica do paciente, além do fato de a medicação apresentar sangramento cerebral como efeito colateral, considerado grave”, afirma Jerusa. 

Outras drogas vêm sendo estudadas. Em março de 2021 o New England Journal of Medicine publicou um estudo indicando que o medicamento intravenoso experimental do laboratório Eli Lilly and Company, donanemab, pode retardar o declínio cognitivo em pessoas com a doença. 

Em 25 de julho de 2018, resultados adicionais de um ensaio clínico inicial para uma droga experimental, o anticorpo chamado BAN2401, mostraram que ele melhorou a cognição e reduziu os sinais clínicos de Alzheimer. Detalhes sobre a imunoterapia foram anunciados em uma entrevista coletiva durante a Conferência Internacional da Associação de Alzheimer no mesmo ano.

A primeira droga utilizada em larga escala e aprovada pelas agências reguladoras, em 1993, foi a tacrina. Porém, essa medicação caiu em desuso com o advento de novas medicações, pela dificuldade na administração e pelo risco de complicações e efeitos adversos.

As medicações que atuam na acetilcolina e que estão aprovadas para uso no Brasil nos casos de demências leve e moderada são a rivastigmina, a donepezila e a galantamina (conhecidas como inibidores da acetilcolinesterase ou anticolinesterásicos), segundo a Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz). “Todas disponíveis no Sistema Único de Saúde”, diz a neurologista da ABN.

“As medidas preventivas e o uso destas medicações tendem a melhorar sintomas e a retardar a progressão da doença, mas definitivamente não trazem a cura do Alzheimer”, afirma Smid.

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