Exatamente na semana que antecede a audiência publica que definirá ou não a transformação de uma das mais antigas UBS’s de Marília para o tão cobiçado Programa de Estratégia da Família, eis que, surpreendentemente alunas da Famema com supervisão da secretaria municipal de saúde invadiram as ruas dos 8 bairros pertencentes a unidade com prancheta e caneta na mão para uma suposta pesquisa de qualidade de atendimento.

A moradora e usuária decana da UBS, S.M.F.L, dona de casa, 58 anos, se surpreendeu com o papel que teve que assinar e aos questionamentos que foram apresentados; ” Eu já havia assinado um abaixo assinado contra a transformação na semana passada e notei que havia estranho na condução das perguntas, por esta razão pedi para rasgar o papel e encerrar a pesquisa, pois eu não vou mudar minha opinião”, declarou ela que, logo na sequência entrou em contato com nossa redação.

Já a moradora R.A.S, 42 anos, diarista, chegou a preencher o papel e só depois percebeu que tinha sido induzida a algumas respostas; ” Elas foram fazendo as perguntas e conversando e nisso eu acabei me deixando levar, sendo que só depois percebi que sem querer assinei uma coisa que eu não concordo”, reclamou.

A mesma enviou a imagem do documento para nossa redação que consta inclusive a assinatura do secretário da saúde, Cassio Luis Pinto Junior. Confira abaixo com exclusividade, uma cópia do mesmo, que está sendo levado de porta em porta pelas ruas da área de atendimento da UBS Bandeirantes, na qual, preservamos o nome e endereço da munícipe, para se evitar as rotineiras retaliações e constrangimentos.

Logo após o fato, nossa reportagem tentou um contato telefônico com o secretário da saúde, mas, infelizmente o mesmo não atendeu a nossa ligação. Saímos então as ruas para averiguar em loco o que estava acontecendo e fomos surpreendidos com uma automóvel com a logo da secretaria municipal de saúde onde a pessoa no interior do veículo passava as orientações para as alunas da Famema ( Faculdade de Medicina de Marília) que estavam todas em um outro veículo de propriedade da instituição de ensino, conforme a foto principal da matéria que foi realizada na praça central dos bairros em questão.

Após a foto, tentamos abordar o veículo da secretaria da saúde, mas, infelizmente o motorista acelerou o carro tomando rumo adentro a outras ruas do bairro. Esse foi o tempo suficiente para que também a perua utilizada para transportar as alunas se dispersasse do local aonde estava estacionada anteriormente. Lamentável o registro em um momento em que estamos com falta de material humano para atendimento nas unidades de saúde com os milhares de casos de pacientes de Covid e Dengue, mas, por incrível que pareça, com disponibilidade para efetuar supostas pesquisas de qualidade. Estranho não ?!?!?!?

Curioso se faz dizer que, a UBS BANDEIRANTES foi fundada em meados dos anos 80, ou seja, já há mais de três (03) décadas e nunca houve uma pesquisa neste sentido, com exceção apenas de questionários realizados em visitas pelos conselheiros do COMUS ( Conselho Municipal de Saúde ) que é feito exclusivamente nas unidades de saúde ouvindo os usuários em atendimento.

Outro detalhe que chama a atenção é que; a pesquisa começou a ser realizada justamente após se tornar publico a existência de um abaixo assinado com centenas de assinaturas que estaria correndo pelo bairro com o objetivo de impedir a transformação de UBS para PSF no programa estratégia da família. Nós tentamos um contato com a presidente do bairro, mas, infelizmente também não obtivemos retorno.

Uma ex funcionária da unidade, que preferiu não se identificar para evitar futuras perseguições, nos relatou que; hoje na unidade só trabalham três (03) funcionários do município, sendo que, o restante faz parte do quadro de funcionários da OS feminina Gota de Leite que, já gerencia as outras 40 unidades PSF’s do município, ou seja; a operação “desmanche” já teria se iniciado.

Manobra para a transformação se arrasta desde o dia 25 de fevereiro.

A noticia pegou a todos de surpresa, embora, como já citamos, uma primeira tentativa tenha ocorrido no ano de 2012 durante a administração do então prefeito Ticiano Toffoli. Segundo documento oficial da secretaria municipal de saúde e conselho municipal de saúde e, que foi alertada com exclusividade pelo JORNAL DO ÔNIBUS de MARÍLIA.

A primeira audiência foi realizada no dia 25 de fevereiro, tendo como local, devido ao grande número de pessoas, o pátio da Escola Estadual Oracina Correa de Moraes Rodine. A mesma contou com a coordenação do Conselho Municipal de Saúde.

Além do secretário municipal de saúde Cássio Luiz Pinto Junior, estiveram presentes, o vice prefeito Cicero do Ceasa, o vereador Danilo da Saúde e a vereadora Vânia Ramos e também, integrantes de outras unidades USF da cidade. A reunião contou com mais de uma centena de moradores.

Como já era de se esperar, além do próprio secretário, os integrantes do programa Estratégia da Família de outros bairros que estiveram presentes procuraram argumentar de todas as formas para convencer a aprovação, mas, não obtiveram o objetivo alcançado. No primeiro round, houve a vitória do povo.

Após a fala de diversos moradores e outras explanações do corpo técnico da secretaria e membros do COMUS ( Conselho Municipal de Saúde ), a mesa acabou acatando a sugestão apresentada da não transformação da UBS Bandeirantes em USF, com a retirada dos médicos especialistas existentes ( ginecologista e pediatra ), no entanto, com a ressalva da possibilidade de se incluir uma ou mais equipes do programa para se somar a já existente da unidade, em razão da grande área de atuação e a quantidade de moradores, em uma sugestão de uma própria enfermeira padrão do ESF.

Na realidade, por trás da cortina, acontece a grande corrida por recursos e o alivio da carga financeira que acaba pesando nos cofres da administração municipal. Com a escassez de recursos para o Sistema UBS de saúde a grande escapatória utilizada pelas administrações é justamente o projeto de ESF (Estratégia da Família ), como politica do governo federal e, que canaliza recursos de forma carimbada e com maior volume. Em outras palavras, o importante é tirar o pe$o das costas da administração com a saúde da população relegada a segundo plano.

Outra justificativa, é da possibilidade de terceirização, como já ocorre em Marília com as 40 unidades de PSF’s existentes que são coordenadas pela OS da Maternidade Gota de Leite, seguindo o exemplo de outras cidade de médio e grande porte e, que como já citamos, está ocorrendo na UBS Bandeirantes já há meses, preparando disfarçadamente para a tão almejada mudança.

Marilia possui hoje 40 PSF’s com possibilidade de atendimento de até 4 mil pessoas e 12 UBS’s, com capacidade de atendimento de até 12 mil pessoas, sendo que, nesta primeira etapa, pela ordem serão transformadas em PSF’s, caso consigam a aprovação dos moradores; a UBS Bandeirantes, UBS São Miguel, UBS Castelo Branco e UBS JK . As demais ficarão para a segunda etapa.

É apenas uma questão de tempo e, claro, do consentimento da população. No entanto, com essa nova estratégia adotada, fica claro que a manobra visa de uma forma estratégica mostrar que há uma aceitação legal da população para a mudança perante a tal pesquisa de qualidade de atendimento. É só observar…

O diário oficial de Marília deste sábado, torna público a reunião que foi convocada pelo COMUS ( Conselho Municipal de Saúde ) para esta que será a segunda e última audiência que decidirá os rumos da UBS BANDEIRANTES, que, em outros tempos, já foi considerada uma das melhores unidades de atendimento a saúde da cidade e, que infelizmente, pelo andar da carruagem e das MANOBRAS, parece estar com os dias contados. Lamentamos pela população que, caso não reaja, será mais uma vez prejudicada, a exemplo do que já ocorreu com a retirada das farmácias.

MENOS MÉDICOS, MAIS FILAS : Entendendo a diferença entre UBS e PSF

Conforme a SMS, a orientação começa pela Atenção Básica, a porta de entrada preferencial do SUS. As Unidades Básicas de Saúde (UBS), popularmente conhecidas como postos de saúde, são locais onde o cidadão pode receber os atendimentos gratuitos essenciais em saúde da criança, da mulher, do adulto e do idoso, além de odontologia, requisições de exames por equipes multiprofissionais e acesso a medicamentos, até a bem pouco tempo atrás quando houve a mudança para as farmácias regionalizadas.

Portanto, a Unidade Básica de Saúde convencional é aquela que funciona sob a lógica de atenção centrada no atendimento especializado e individualizado, a partir da procura dos usuários, com oferta de ações voltadas para os grupos priorizados pelos programas de saúde determinados pelo Ministério da Saúde (MS).

Em decorrência disso, a atenção torna-se principalmente focada no tratamento de doenças e descontextualizada em relação aos fatores socioeconômicos e culturais que interferem no processo saúde-doença.

Na UBS, o clínico geral também pode marcar consultas para procedimentos eletivos e exames mais específicos com especialistas da rede pública ou em clínicas credenciadas à Prefeitura por meio de licitação.

A ESF têm perfil semelhante, também voltada a atendimentos primários e o mesmo acompanhamento de pessoas com doenças crônicas, como diabetes e hipertensão. A diferença, no caso de uma ESF, está na promoção da prevenção de doenças com grupos de moradores de cada território, por meio de agentes comunitários e assistentes sociais.

Juntas, ambas as unidades resolvem grande parte dos problemas de saúde da população do zoneamento que está sob sua responsabilidade.

A ESF é pensada no intuito de operar a transformação do modelo de atenção, inaugurando uma nova lógica de organização da rede de saúde e, para a viabilização da expansão da cobertura da ESF no Brasil, a conversão tem sido uma opção, aproveitando-se a estrutura física e de recursos humanos das UBS.

As unidades convertidas passam então, a trabalhar na lógica da ESF, com equipes multiprofissionais, desenvolvendo ações centradas no território adscrito, por meio da atenção planejada de acordo com as necessidades e características da comunidade, com busca ativa dos usuários e atividades intersetoriais.

Desse modo, busca-se ampliar o acesso da população aos serviços de saúde, mas também o conceito de saúde quando o foco das equipes é o usuário, sua família e a comunidade em que vive, por meio de atividades de prevenção, promoção e educação em saúde. Dentro desta política de atenção, acaba por oferecer apenas “um médico de clínica geral para prestar o atendimento à todos”.

Especialistas na área da Saúde atentam para o fato de, a atenção primária ser a “porta de entrada” do SUS, e o grande temor é o que esta prestes a acontecer em Marília, ou seja; a parceria com a iniciativa privada abrindo caminho para privatização do sistema que presta atendimento de saúde a população dos bairros e a consequente queda no já precário atendimento por falta de médicos. As pessoas serão arremessadas para as filas de espera.

O direito à saúde está assegurando na Constituição de 1988 e se trata de uma cláusula pétrea. Por causa disso, qualquer tentativa de aplicar a lógica da iniciativa privada dentro do SUS é inconstitucional. Enquanto houver um fôlego de vida, se faz necessário uma melhor avaliação para estratégias que são adotadas para favorecer grupos empresariais interessados no lucro, enquanto a população fica apenas com o estado mínimo de atendimento. Quem quiser e puder, que faça um convênio. Esta é a lógica e a intenção encoberta nas entrelinhas.

Logo, passou da ora de reedificarmos os pilares de uma sociedade que defenda a vida acima dos lucros, que defenda um modelo de estado de bem-estar com garantias de direitos e não privilégios de mercados. Uma sociedade inclusiva, justa e solidária. Tarefa essa que não se faz, assistindo a banda passar, ou afirmando que a reforma previdenciária, trabalhista, administrativa, atinge somente a nova geração.

É urgente não perdemos nenhuma oportunidade para reversão desse quadro, sendo ousados, criativos e comprometidos com um outro modelo de estado: firme, presente, responsável e cuidador das expectativas, sonhos e esperanças de cada indivíduo, família e comunidade mariliense. Só assim evitaremos que a Atenção Primária à Saúde e o SUS entrem de vez na cavalaria da privatização em nossa cidade. O primeiro passo é justamente esta transformação que está sendo apresentada como a solução para o problema de saúde na cidade, o que sabemos que não é verdade.

Apesar da clara manobra, a população é contemplada pela constituição quando diz que; “O poder emana do povo”, com isso, se compreende que a vontade popular deve ser respeitada, principalmente quando expressa publicamente. No entanto, se faz necessário que esta mesma população se mobilize pelos seus interesses e, não se deixe levar pelos detalhes do canto da sereia, pois, é justamente aí que está a cilada preparada. O diabo se esconde atrás dos detalhes. Que venha o dia da audiência.

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