Levantamento foi feito a partir de dados da plataforma genômica da Fiocruz; em um intervalo de 35 dias, surgiram pelo menos 18 novas linhagens

Desde o início da pandemia, 110 formas diferentes do novo coronavírus circulam ou circulavam pelo Brasil. As informações são de um levantamento feito a partir de dados inseridos por pesquisadores na plataforma genômica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que inclui resultados de sequenciamentos genéticos feitos por outras instituições. 

Em verificação anterior, realizada no início de abril, havia até então 92 linhagens no país. Desde então, surgiram pelo menos 18, em um intervalo de 35 dias. 

E esse número tende a continuar crescendo. Ainda não consta na plataforma, por exemplo, a P.1.2, variante descoberta no Rio de Janeiro, detectada em uma parceria entre a Secretaria de Estado de Saúde (SES) e o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), em Petrópolis, órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, e anunciada na última quinta-feira (7).

Pesquisadora do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), unidade de referência para o coronavírus, Paola Serra entende que o aumento é natural.

“É da biologia do coronavírus apresentar alterações genéticas ao longo do tempo. Temos uma diversidade enorme de circulação mundial, algumas têm importância, outras não. As que têm importância hoje no Brasil são as variantes de interesse ou de preocupação”, explica a virologista. 

Há três variantes classificadas como de preocupação pela Organização Mundial da Saúde (OMS) : a de Manaus (P.1), do Reino Unido (B.1.1.7) e da África do Sul (B.1.35). 

Além da amazonense, nativa, as outras também foram detectadas no Brasil. As variantes de interesse são acompanhadas de perto pelos pesquisadores e podem ter impacto importante no cenário epidemiológico, mas estão restritas a poucas áreas, casos da P.2 e da N.9, ambas descobertas pelo LNCC no Brasil. 

Atualmente, de acordo com a Fiocruz, a linhagem P.1, de preocupação, é prevalente em todo o país. A segunda mais frequente é a P.2, de interesse. E a terceira mais comum é a B.1.1.28, da qual a P.2 teve origem. As mutações que, com um tempo, fazem com que os vírus de uma linhagem desenvolvam novas características e sejam interpretados como um novo grupo impulsionam esse aumento. 

Esse comportamento, de acordo com o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professor de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Alberto Chebabo, é comum e afetado pela circulação de pessoas e pelo amplo contato entre elas, diante de ausência de medidas restritivas mais severas. 

“É sempre importante conhecer as variantes, para saber o impacto que têm. Elas podem ter maior transmissibilidade, capacidade de evasão do sistema imune, como é o caso das variantes de preocupação. As demais em geral não têm nenhum impacto. Quanto maior o número de casos e de interações, maior a chance de replicação”, afirma o infectologista.

Desde o início da pandemia, mais de 423 mil pessoas morreram em função do novo coronavírus no Brasil. Ao todo, são 15,2 milhões de casos confirmados, com uma taxa de letalidade de 2,8%.

Nação mais vacinada do mundo, Seychelles enfrenta novo surto de Covid-19

Pesquisadores identificam possível nova linhagem de covid-19 no Brasil |  Agência Brasil

As ilhas Seychelles, que proporcionalmente é a nação mais vacinada do mundo, com cerca de 60% de sua população imunizada contra a Covid-19, está enfrentando um novo surto da doença. O aumento nos casos no pequeno país africano levanta uma série de questionamentos em relação à eficácia da vacina desenvolvida pelp Laboratório Sinopharm, que foi administrada na maior parte dos habitantes do país. 

De acordo com o Ministério da Saúde do arquipélago, mais de 2.400 pessoas foram diagnosticadas com a Covid-19 até a última sexta-feira (7). Isso significa que os casos mais que dobraram em relação à semana anterior, que teve menos de 1.100 casos. Entre os infectados, 37% havia recebido duas doses de vacina, mas o governo não detalhou qual dos imunizantes. 

Entre os imunizados em Seychelles, 57% receberam a vacina do laboratório chinês, o restante, cerca de 3%, recebeu o imunizante da AstraZeneca/Oxford com fabricação na Índia. Após o aumento dos casos, o arquipélago impôs uma série de restrições, como fechamento de escolas, cancelamento de eventos esportivos e a proibição de reuniões de famílias que não moram juntas. 

Apesar do aumento no número de casos, a maior parte das infecções é da forma leve da doença, disse a diretora de imunizações da Organização Mundial da Saúde, Kate O’Brien, ao The Wall Street Journal. “A vacina Sinopharm realmente requer duas doses. E alguns dos casos que estão sendo relatados estão ocorrendo logo após uma única dose ou logo após uma segunda dose”. 

Na pior hora

OMS tem "confiança muito baixa" em dados sobre efeitos colaterais da vacina chinesa da Sinopharm

O aumento repentino do número de casos em Seychelles coloca em xeque a real eficácia do imunizante produzido pela estatal chinesa. Além disso, a vacina da Sinopharm foi recomendada pela OMS para uso emergencial na última sexta-feira (7), o que libera o uso do imunizante em escala global.

O órgão anunciou a decisão após semanas de deliberação, o intuito é ajudar a acelerar o processo de imunização em países pobres ou em desenvolvimento. Essas nações têm sofrido com a escassez de doses, cenário que foi agravado com a paralisação das exportações da Índia após em razão do surto de Covid-19 enfrentado pelo país asiático.

Apesar de ainda não terem feito o sequenciamento genético do vírus circulante em Seychelles, acredita-se que a razão pode ser a variante B.1.352. Essa cepa, que foi descoberta na África do Sul, foi encontrada no arquipélago em fevereiro. Estudos envolvendo a vacina da AstraZeneca mostraram que ela é menos eficaz contra essa variante. 

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