Oi Gente !!! Antes de mais nada quero agradecer os inúmeros telefonemas e as mensagens parabenizando por esta matéria que iniciamos na edição impressa anterior e, que como prometemos, iremos dar continuidade para mostrar o grande potencial turístico sobre os trilhos de nosso país.

Como já citei, percorremos cinco ferrovias para passageiros no Brasil. Foi uma viagem por uma profusão de histórias, rostos, paisagens e muita coisa bonita. Até a publicação de dezembro estaremos reproduzindo esta maravilha de passeio. Nesta edição, conheceremos a Rota clássica com trens modernizados — Belo Horizonte (MG) → Vitória (ES), e descobriremos o segredo das montanhas capixabas – Viana → Araguaia (ES). Vamos nessa !!

Rota clássica, trens modernizados — Belo Horizonte
(MG) → Vitória (ES)

Entre cotoveladas de crianças eufóricas e pedidos para tirar fotos de
famílias inteiras com malas de rodinhas nas mãos, desisto de ter
pressa. Às 6h30, uma hora antes do embarque em Belo Horizonte, o
bafafá nas catracas já é grande. “Por que está tão cheio?”, pergunto a
um funcionário. “É que chegaram os novos vagões, todos com ar-
condicionado. Agora todo mundo quer andar de trem.”
Vindos da Romênia, os 56 novos vagões começaram a rodar em 2015.

  1. Operada pela Vale, a Estrada de Ferro Vitória a Minas,
    concluída em 1907, é o único trem diário de passageiros do Brasil –
    cada perna com 664 quilômetros. Só em 2013 cerca de 1 milhão de
    pessoas viajaram pela EFVM.

  2. A tendência, com o tal ar-condicionado e outras modernidades, é o
    bafafá crescer ainda mais. Cada vagão abriga quatro câmeras de
    segurança que tranquiliza quem quer andar pra-lá-e-pra-cá sem ficar
    neurótico com as malas.
    O primeiro pit stop é em Barão de Cocais, município próximo da Serra
    do Caraça, de onde saem trilhas para cachoeiras. A partir daí, o entra
    e sai de passageiros se repete 28 vezes.
    O movimento é tão intenso que complica o embalo do sono, assim
    como os atrativos da janela: ameace fechar os olhos que logo aparece
    uma coleção de bromélias, além de muitos vagões de minério no
    sentido contrário. São muitos mesmo: ao todo, eles transportam 37%
    da carga ferroviária do país.
    Por volta do meio-dia, o ferromoço (o comissário de bordo do trem)
    passa gritando “Marmitex!”, e por R$ 17 arrematei um estrogonofe,
    dentro de um isopor, bem no padrão “comida de avião”. Dica: no
    vagão-restaurante, a mesma refeição vem num prato. Vale a pena
    levantar.

Duas horas depois o Rio Doce aparecia, indicando a proximidade de
Governador Valadares, metade do percurso. A fim de conferir a
antropologia local, gastei sete minutos cruzando os vagões, do A ao
M, transpondo portas que se abriam magicamente ao toque de um
botão. Vi um pastor, munido de Bíblia, pregando em alto e bom som
para uma infinidade de gente entretida com os celulares.


Depois de muitos pães de queijo crocantes, paisagens verdes ad
infnitum e de estações que mais parecem estar no meio do nada,
rochas enormes brotam de um lago cristalino, antes da divisa com
o Espírito Santo.


Foram dez minutos de pura contemplação, até a noite cair. Eram
20h32 quando desci na estação Pedro Nolasco, em Cariacica, a dez
minutos de Vitória. Por mais confortável que seja o trem, a viagem é…
longa. Treze horas. Mas, se não houver pressa, não existe transporte
melhor – nem mais barato – para ir de BH a Vitória
 
Extensão: 664 km (13 horas de viagem).
Estações: 30 no total, com 28 paradas. Cada uma delas pode
demorar de 2 a 10 minutos.
Partidas: todos os dias. De BH, sai às 7h30. De Vitória, sai às 7h.
Onde comprar: no site, ou nas bilheterias das estações.
Fica a dica: é mais cheio no sentido BH–Vitória (são os mineiros
querendo chegar à praia…). Muita gente que faz um trajeto
completo de ida acaba voltando de avião.
Melhor lado do vagão: esquerdo (sentido BH–Vitória), pelos
vales que aparecem no meio do caminho, e principalmente pelas
rochas que brotam do rio, antes da divisa dos estados.

Descobrindo o segredo das montanhas capixabas –
Viana → Araguaia (ES)

Dos 56 passageiros a bordo, apenas eu e o fotógrafo não
éramos capixabas. “Os turistas que vêm para o nosso estado só ficam
nas praias, comendo moqueca”, disse o funcionário público Marcos
Barcelos, que curtia um domingão em família. “Este é um dos pedaços
mais intocados do Brasil”, completou.


É preciso concordar: repleta de cachoeiras, a região serrana do
Espírito Santo é verde, verde, verde. E a paisagem é apenas um dos
atrativos deste passeio de trem, que tem vendedores de biscoitos de
goiabada no caminho e um belo vilarejo de imigrantes italianos no
final.


O embarque é em Viana, a 22 quilômetros de Vitória. O percurso, que
nasceu em 1895 e fazia parte da Leopoldina Highway (homenagem a
Maria Leopoldina, a primeira imperatriz do Brasil), dura quatro horas.
O cenário não é para quem tem vertigem: os trilhos beiram inúmeros
precipícios, alguns a 500 metros de altura. Até a árvore que caiu no
meio do caminho, e que fez o maquinista parar tudo, parecia
encomendada para incrementar a aventura.


No todo, a viagem é um desfiladeiro por pontes de pedra, cânions,
fragmentos da Mata Atlântica, florestas de eucaliptos e bromélias que
brotam dos paredões.


Na única parada, na estação de Marechal Floriano (que tem fotos de
“gente importante” da cidade nas paredes), flertamos com os
vendedores de biscoitos. O hit é o Crispim, um casadinho de goiabada
com queijo parmesão.


Araguaia, o ponto final, tem 3 mil habitantes. A cidade é uma graça.
Muita gente dorme por lá e volta no dia seguinte, no trem de domingo.
Outros fazem bate e volta, almoçando no bufê italiano Bella Araguaia,
que é honesto, mas sempre lotado.


A terceira opção é voltar de van para Vitória, fechando um pacote com
a Serra Verde Express. Numa segunda viagem de três horas, fomos
almoçar na Casa da Bica (que tem quiabo com linguicinha e
minicachoeira) e, depois, para o pé da Pedra Azul, com seus 1 400
metros de altitude.

Tão bonita que nos fez questionar por que estávamos hospedados em
Vitória, e não ali, naquelas pousadinhas de arquitetura da escola
Zanine Caldas (quem não curtir rusticidade pode escolher o Arosa,
hotel neoclássico muito procurado para books de casamento).


No fim, quando já se entende que o Espírito Santo é muito mais do
que praia de areia escura, moqueca sem dendê e Roberto Carlos, há
o belo mirante da Vista Linda, de onde se vê o mar de  Guarapari ,
cidade-sede de quase todas as minhas férias de infância nos anos 90.
Meus pais bem que podiam ter aproveitado aquelas viagens para
conhecer seus arredores bucólicos.
 
Extensão: 46 km (quatro horas de viagem).
Estações: quatro (Viana, Domingos Martins, Marechal Floriano e
Araguaia), mas o trem só para em Marechal (15 minutos), antes do
ponto final.


Partidas: sábados,domingos e feriados. Sai de Viana às 10h30,
vai até Araguaia, onde há uma parada de 1h30, e depois retorna
para Viana.


Onde comprar: por enquanto, só com a Serra Verde Express, em
Vitória (27/2123-0228) ou em Curitiba (41/3888-3488).
Fica a dica: em Araguaia, vale visitar a Casa Rosa, que foi de um
engenheiro da ferrovia e hoje é um pequeno museu.
Melhor lado: direito (sentido Viana–Araguaia), na beira dos
precipícios mais arrebatadores e com as melhores vistas para o
Rio Jucu.

Você gostou ??? Então não perca a nossa próxima edição impressa ou nos acompanhe pelo SITE e pelas redes sociais onde publicaremos a continuação do passeio na trilha de um barreado diferente – Curitiba → Morretes (PR) e A longa e extrema viagem pelo Norte – São Luís (MA) → Parapuebas (PA).

CRISTINA DE LUCCHI é jornalista, apresentadora de TV e Coaching em Turismo. Participa do JORNAL DO ÔNIBUS de MARÍLIA como colaboradora contribuindo com seus conhecimentos nesta coluna.

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