Poupar dinheiro implica cortar gastos, conter desejos, adiar prazeres imediatos. E a dificuldade aumenta porque a recompensa para as privações do presente está em um tempo distante chamado “futuro”. Mas as pessoas precisam se conscientizar de que esse futuro chega rápido, afirma o educador financeiro José Vignoli, do SPC Brasil.

— Educação financeira não significa “não gastar”, é gastar conscientemente. Todos querem fazer as férias dos sonhos. Quanto custa isso? Será que eu poderia ir para outro lugar muito legal também, aproveitar bastante e gastar menos? — questiona o educador financeiro.

O contexto brasileiro favorece o endividamento. Temos acesso fácil a crédito, uma taxa de juro alta e um estilo de vida consumista comparado a outros países. No Japão, por exemplo, o governo tenta convencer a população a tirar o dinheiro da poupança. Soma-se às características brasileiras a falta de informação. Conforme pesquisa da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), 93% dos brasileiros nunca receberam lições sobre como cuidar do dinheiro, seja em casa, seja na escola.

Empréstimos são acessíveis, mas há uma regra no mercado: quanto mais fácil é tomar o crédito, mais caro será pagá-lo no futuro. Comprar parcelado também é uma forma de empréstimo, pois comprometemos um dinheiro que ainda não ganhamos para adquirir um produto. E, em geral, custa mais caro. Faça o teste: se houver desconto à vista é porque o juro está embutido no preço a prazo. Um número muito grande de parcelas também deve ser evitado, já que se corre o risco de esquecer as cobranças e, assim, acumular pagamentos.
 

Faça as contas: seus gastos refletem o que entra na sua conta bancária?

Tenha sempre em mente um questionamento: seu estilo de vida condiz com seu salário? 

— Muitas vezes, a pessoa é influenciada por quem tem um padrão de vida diferente e acaba gastando mais do que deveria. Às vezes, a solução é jantar fora com menos frequência ou se mudar para outro apartamento. Monte um planejamento, veja quanto você ganha, quanto você gasta e se você está gastando menos do que ganha — aconselha Adriano Severo, educador financeiro do GuiaInvest.

Se a questão é em família, há um consenso de que, quando o dinheiro é discutido sem tabus em casa, os filhos aprendem a dar valor ao que é gasto. Portanto, inclua a família nas decisões de economizar. Além de mandar apagar a luz ao sair do cômodo, mostre o quanto a conta de luz caiu de um mês para o outro e lembre que esse valor é o mesmo para jantar fora. 

Para quem saiu da casa dos pais há pouco tempo, o desafio é lidar com a queda no padrão de vida. Analise se o valor do aluguel e o estilo condizem com seu salário. Busque reduzir os gastos mensais: assim, sobra mais para o lazer. “Quem assume um padrão de vida mais econômico e com mais gastos variáveis tem a vantagem de viver melhor e mais motivado (porque pode desembolsar mais com o que o faz feliz)”, escreve o consultor financeiro Gustavo Cerbasi, mestre em Administração pela Universidade de São Paulo, no livro A Riqueza da Vida Simples.  Poupar envolve controlar desejos, algo que é difícil para quem não tem um objetivo claro. Defina uma razão para economizar: viagem? Carro próprio? Pós-graduação? Empreender? Com um sonho em mente, fica mais fácil reduzir gastos no presente e poupar para usar no pagamento de algo desejado no futuro.

Veja dicas práticas para implementar no dia a dia, divididas por faixa etária:

Infância

Pixabay divulgação / Pixabay divulgação
Ter um cofrinho e receber moedinhas incentiva as crianças a começar a entender o valor do dinheiro e do trabalho.

Semanada: para os menores, um mês de espera é muito tempo. Dê uma semanada em vez de mesada. Uma dica é dar a quantia da idade da criança – se o seu filho tiver quatro anos, dê R$ 4. 

Inclua nas compras: faça uma lista do que é preciso comprar no supermercado e delegue a seu filho uma tarefa: comprar um produto pelo preço mais baixo ou então escolher apenas uma comida entre várias que ele deseja. Além de se sentir entusiasmado com a responsabilidade, ele aprenderá a reparar no preço e que o valor baixo é uma característica a ser levada em conta na hora de fazer compras.

Ensine metas: pais devem cultivar metas no filho. Ensine-o que, se guardar o dinheiro, ele poderá ir ao cinema, brincar no parque de diversões ou usufruir de uma experiência da qual goste. Envolva-o com a própria semanada. Peça para ele desenhar algo que gostaria de ter com o dinheiro guardado e deixe o desenho na porta da geladeira. Assim, ele será lembrado do motivo de poupar. 

Não associe mesada a estudo: pais não devem incentivar a criança a estudar por meio do dinheiro. Caso contrário, a criança irá atrelar o bom desempenho escolar ao valor que receberá no fim do mês e não à importância de aprender. Deve ser reforçado que o estudo é uma responsabilidade.  

Incentive: quando seu filho pedir um doce, dê-lhe o valor da semanada. Diga que, se ele juntar com a moeda da semanada seguinte, poderá comprar algo melhor ainda. Assim, ele entenderá que juntar dinheiro possibilita conquistas maiores. 

Use o cofrinho: educação financeira é nada mais do que ensinar o valor do dinheiro para que a pessoa tome decisões conscientes. Compre um cofrinho e dê a seu filho a semanada em moedas – é importante que a criança sinta o metal com as mãos, uma vez que ela também aprende com o toque. Notas de papel de cores diferentes não têm o mesmo impacto. Preferencialmente, use um cofrinho transparente, para a criança acompanhar visualmente o crescimento da poupança. 

Dê o exemplo: não adianta nada ensinar o valor do dinheiro à criança se você gasta desenfreadamente. Ações falam mais alto do que palavras. Para isso, tenha também seu cofrinho transparente e mostre a seu filho que você também está economizando para comprar algo legal. Assim, ele irá se espelhar no seu comportamento.

Adolescente

Cláudio Silva / Agencia RBS
Jovens têm interesses materiais que podem ser encarados como oportunidade para treinar a educação financeira.

Aproveite a onda verde: a nova geração de jovens é sensível aos impactos causados ao meio ambiente. Aproveite o entusiasmo contra o desperdício para ensinar a importância do minimalismo e de noções de educação financeira: proponha uma varredura no guarda-roupas para encontrar peças deixadas no esquecimento. O que não é mais usado pode ser vendido – e o valor recebido pode ser usado para comprar algo que o adolescente deseje no momento.

Economize nas compras online: atentos às novidades da internet, adolescentes podem incorporar o hábito de pesquisar online preços antes de fechar negócio. Para isso, vale buscar os produtos em portais como o Zoom, por exemplo. Ele monitora preços ao longo do tempo e permite criar alertas para você saber quando o preço está no valor que você procura.

Negocie: nesta fase, o consumo é associado à identidade. Às vezes, é difícil lutar contra isso. Negocie com seu filho: se ele quer muito comprar um produto, peça para ele juntar a metade do dinheiro e prometa que você irá inteirar a outra metade. Assim, ele verá o valor de poupar. 

Foque no objetivo: todos temos metas, independentemente da idade. Muitos adolescentes têm objetivos materiais, que podem ser realizados com dinheiro. Pergunte a seu filho o que ele gostaria de comprar se tivesse dinheiro: celular? Videogame? Um tênis de marca? Uma vez que ele defina com clareza uma meta, terá mais facilidade em guardar um pouco de dinheiro a cada mês.

Adulto

Fabrizio Motta / Agencia RBS
Cálculo das despesas mensais é fundamental para a organização do orçamento e deve incluir gastos variáveis e eventuais.

Reduza a proporção de gastos fixos: em geral, cortamos gastos variáveis ligados ao lazer. Essa dose de sacrifício ao prazer dificulta a economia a longo prazo. O ideal então é reduzir os gastos cobrados mensalmente. Reveja escolhas, como assinatura de TV a cabo, plano de internet do celular, serviços de streaming, aluguel e carro.

Calcule despesas diárias: várias pesquisas sobre monitoramento de gastos mostram que o brasileiro coloca na ponta do lápis apenas os custos fixos, como aluguel, mensalidade escolar ou plano de saúde. Mas grande parte do nosso salário vai embora com gastos do dia a dia, como jantar fora, ir ao supermercado com fome ou usar aplicativos de transporte. 

Antecipe-se aos gastos: há gastos anuais que aparecem sempre, como IPVA, IPTU e matrícula escolar. Divida por 12 e poupe o valor da parcela mensalmente para ter o total guardado na hora de pagar.  

Use cupons de desconto: prática comum nos Estados Unidos e que, aos poucos, chega ao Brasil, o uso de cupons de desconto é uma boa saída para economizar. Há sites específicos para isso, como o Méliuze o Cuponomia. Vários sites de lojas enviam cupom de desconto para quem estiver inscrito para receber a newsletter de produtos.

Cozinhe: a média do prato feito em Porto Alegre é de R$ 29,24, segundo levantamento da Associação Brasileira das Empresas de Benefícios ao Trabalhador (ABBT), que representa empresas de vale-refeição. Quem almoça fora de segunda a sexta-feira gasta R$ 7,4 mil em um ano. O quanto isso representa frente a seu salário? Imagine o que você pode fazer com esse dinheiro se cozinhar seu próprio almoço para levar. Enquanto cozinha, aproveite o tempo para ouvir um podcast, assistir a uma série ou conversar com alguém. 

Negocie tarifas: compare as tarifas bancárias que você paga por mês com as que são cobradas por outro banco. Vá até seu gerente e peça a redução desses valores, caso contrário você trocará a conta para outra instituição. Não tenha contas abertas em vários bancos para evitar excesso de taxas.

Tempo é dinheiro: quando estamos com pressa, gastamos mais e compramos sem comparar preço. Por exemplo, usar o aplicativo de transporte em vez do ônibus ou comprar a comida pronta em vez de cozinhar. Planeje-se para não perder dinheiro.

Turismo nacional: com a cotação do dólar em alta, prefira destinos nacionais aos internacionais. Use sites de comparação de preços de voos, busque datas fora da alta temporada e use cupons de desconto. Optar por voos de madrugada pode reduzir o preço da passagem para até um terço do valor normal.

Automatize aplicações: se você tem dificuldade de manter o dinheiro na conta, automatize as aplicações. Por exemplo, programe uma transferência automática mensal de seu banco para a corretora e, na corretora, automatize a aplicação desejada. Assim, a quantia será investida sem que você precise lembrar todos os meses. 

Saiba o valor do trabalho :dona do maior canal de finanças do Youtube, Nathalia Arcuri dá um conselho em seu livro “me Poupe” ( Editora Sextante ) saber quanto você precisa trabalhar para ganhar R$ 100. Primeiro, descubra quanto você ganha por hora: pegue seu salário e divida por 176 (se você trabalha oito horas por dia, cinco dias por semana, nos 22 dias úteis do mês, serão 176 horas/mês). Agora, basta dividir 100 pelo valor de sua hora de trabalho para saber quantas horas leva para ganhar R$ 100. Tendo noção do quanto custa ganhar o dinheiro, você terá mais cuidado ao gastar. Por exemplo: Divida o valor do salário de R$ 4 mil por 176 é igual a R$ 22,7 por hora de trabalho. divida 100 por R$ 22,7 para ter o resultado de quanto tempo precisa trabalhar para pagar um gasto de R$ 100: 4,4 horas.

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