O mercado de trabalho para elas ainda continua repleto de diferenças e obstáculos, apesar de ações graduais de inclusão do mundo corporativo

O mundo está se transformando, sob vários aspectos. Ou, pelo menos, está tentando mudar. O preconceito histórico que envolve diversas questões, como classe social, religião, sexo ou orientação social, está sendo combatido gradativamente. Atualmente, a tolerância para situações ou comportamentos que levam à desigualdade e a constrangimentos é cada vez menor.

Porém, mesmo com esse movimento crescente, ainda estamos longe do cenário ideal. Isso porque, como já dito, são valores equivocados que vêm de séculos. São centenas de anos em que o preconceito predominava. Pior, ele se enraizou de tal forma que significativa parcela da população mundial continua acreditando em absurdos, como criticar ou condenar uma pessoa por sua cor de pele, por exemplo. Esse processo histórico trouxe situações de desigualdade. E não seria diferente com a condição das mulheres negras no mercado de trabalho.

Essa questão envolve dois preconceitos históricos: a desigualdade de gênero e a condição racial. A pesquisa “Potências (in)visíveis: a realidade da mulher negra no mercado de trabalho”, publicada no final de 2020, é um dos maiores levantamentos já realizados no Brasil sobre o tema de inclusão racial e de gênero no mundo corporativo. O trabalho é resultado da parceria entre a consultoria Indique uma Preta e a empresa Box1824.

Organizada no período de seis meses, a pesquisa não somente denuncia as dificuldades para a inserção das mulheres, como também destaca a necessidade de aprimorar ações afirmativas para ambientes de trabalho mais diversos.

Dados do IBGE

Os dados compilados são resultado de entrevistas com mais de mil mulheres negras de todo o país. E são alarmantes. As mulheres negras compõem 28% da população brasileira. Juntos, negros e negras representam 54,9% da força de trabalho do Brasil e 57,7 milhões de pessoas, segundo dados do IBGE. No entanto, são também os representantes mais comuns entre os profissionais desocupados e subutilizados.

Das trabalhadoras negras entrevistadas para o estudo, 54% não exercem trabalho remunerado e 39% delas dizem estar procurando emprego no atual momento. Mesmo nas empresas que adotam ações afirmativas de inclusão racial, a questão hierárquica ainda é branca e maior parte dos cargos para pessoas negras são para assistentes ou analistas juniores. Apenas 9% ocupam cargos de chefia, como gerentes, supervisoras ou coordenadoras, sócias ou proprietárias. Ou seja, a desigualdade está aí, comprovada em números.

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Exceções

Porém, existem exceções que desafiam a regra e mostram que é possível, sim, que mulheres negras trabalhem em igualdade de condições, desempenhando brilhantemente suas funções. Uma delas é Rachel Maia, 48 anos. Formada em Ciências Contábeis na FMU, galgou degraus em diversas empresas, mesmo tendo enfrentado dificuldades na infância. Após construir brilhante carreira, ocupou o cargo de CEO da Lacoste Brasil.

Um exemplo para identificar o óbvio. Que mulheres negras são capazes. O que precisamos é que os movimentos de combate à desigualdade ganhem mais força e representatividade. E que o mundo corporativo abandone ideias ultrapassadas e passe a considerar no seu processo de seleção o que realmente importa: a capacidade e engajamento profissional de cada um.

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