Ex-juiz abriu possibilidade de não disputar eleições de outubro e chamou crise entre STF e Ministério da Defesa de “mal entendido”

O ex-juiz e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, que abandonou o projeto presidencial no Podemos e se filiou ao União Brasil no mês passado, afirmou nesta segunda-feira ser possível que não dispute as eleições neste ano. A declaração foi dada durante sabatina ao portal UOL.

Questionado se ele disputará a Câmara dos Deputados caso o seu partido lhe negue a candidatura ao Senado, Moro deixou aberta a possibilidade de ter um papel restrito aos bastidores da política. Então terceiro colocado nas pesquisas para a Presidência da República, empatado com Ciro Gomes (PDT), ele havia desembarcado no União Brasil com discurso de candidato, mas foi logo reprimido pelos novos correligionários. Uma ala da sigla chegou a emitir nota descartando qualquer chance de permitir a Moro disputar o Planalto.

Desautorizado por parte da cúpula do novo partido, Moro passou a se definir como um “soldado da democracia” e que, independentemente de candidatura, quer ajudar na formação, segundo ele, de um “centro democrático” que viabilize uma candidatura contrária tanto ao ex-presidente Lula quanto ao presidente Jair Bolsonaro, de quem foi ministro até maio de 2020.

— Em relação a eventual outra candidatura, isso é uma questão que a gente ainda está discutindo. Pode ser que eu não seja candidato a nada. Eu vim com objetivo de ajudar a romper a polarização e a colocar o Brasil no caminho certo — disse ele.

Há duas semanas, o União indicou o presidente da sigla, Luciano Bivar, como o nome do partido para a disputa presidencial. A sigla negocia com o PSDB, cujo pré-candidato oficial é João Doria, e com o MDB, de Simone Tebet, uma candidatura única, a ser anunciada no dia 8 de maio.

Moro evitou opinar sobre se a figura de Bivar, nacionalmente desconhecido, seria capaz de arrebatar os votos necessários para levar a chamada “terceira via” ao segundo turno, e afirmou que não participa das negociações que estão sendo tratadas na cúpula da legenda.

Tensão entre Poderes

O ex-juiz também afirmou que a crise deflagrada entre o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso e o ministro da Defesa, Paulo Sérgio, é um “mal entendido”.

Após Barroso afirmar que as Forças Armadas “estão sendo orientadas a atacar e desacreditar” o processo eleitoral, durante sua participação em um seminário promovido por uma universidade alemã no fim de semana, o Ministério da Defesa publicou uma nota na qual “repudia qualquer ilação ou insinuação, sem provas”.

— Eu acho que esse episódio é todo um mal entendido e que não vale essa escalada. Claro que todos nós temos preocupações em relação ao nosso contexto político e temos que tentar serenar esses ânimos. Espero que esse episódio não escale — afirmou.

Ele também fez críticas ao STF. Para ele, o combate à corrupção simbolizado na operação Lava-Jato, na qual foi juiz, tem sido desmantelado nos últimos anos com ajuda de integrantes do Supremo e de outros Poderes.

Punição a Daniel Silveira

Moro ainda classificou a punição do STF ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) como “excessiva” e disse que Bolsonaro poderia ter concedido um “indulto parcial” ao aliado.

— O deputado se excedeu nas palavras. Ele proferiu ameaças e incitação à violência, isso não está protegido pela liberdade de expressão. E ali teve o processo. A pena, a meu ver, foi excessiva, com todo o respeito ao Supremo Tribunal Federal — afirmou Moro.

Sobre a possibilidade de o decreto ser uma “ameaça à democracia”, respondeu:

— Poderia, talvez, ter dado um indulto parcial para a diminuição da pena do deputado, em vez de uma anistia total. Uma anistia total me parece desproporcional aos ataques que ele fez ao Supremo Tribunal Federal — completou.

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