Poderia ser um ato comum e rotineiro no pós obra para revitalização de uma das mais importantes escolas da rede de educação infantil de Marília, no entanto, o projeto de lei 66/2019 de autoria do vereador Marcos Rezende prestando uma homenagem a Professora universitária e Advogada Simone Doreto Campanari, filha do ex-Deputado Doreto Campanari e falecida precocemente em abril de 2016, acabou gerando uma confusão generalizada entre mães de alunos, professores da ativa e aposentados que passaram pela escola.
Nossa reportagem foi acionada na tarde de hoje ( 09) por algumas mães de alunos, comerciantes, ex- alunos e professoras para registrar a indignação de todos pela alteração já anunciada para um ato cerimonial que ocorrerá na próxima terça feira (13 ) conforme faixas espalhadas pelo bairro e convite já publicado pela assessoria de imprensa do Prefeito Daniel Alonso nas redes sociais.
Segundo a Professora Aposentada V. R, é uma arbitrariedade o gesto do vereador em apresentar o projeto sem sequer discutir com a população do bairro; ” É um total afronte a toda a população que mora neste região, e criou seus filhos aqui nesta escola. Existem alunos que hoje são pais e até avós e estão com seu filhos aqui. Me causa estranheza um vereador apresentar um projeto desse sem sequer realizar uma reunião com os pais de alunos, os professores que por aqui passaram e até os ex- alunos que começaram a sua caminhada aqui, é hoje são formados, afinal são 37 anos de vida”, declarou.
Para a Mãe de Aluno, Carol dos Santos, a escola com esse nome é uma tradição da região e jamais poderia ser alterado; ” Eu estudei aqui e hoje trago minha filha. Com tanta coisa pra fazer na cidade ele vem logo querer trocar o nome da escola ?”, citou a mãe e ex aluna revoltada.
Já a Mãe e Avó Carolina Ribeiro dos Santos foi enfática ao manifestar a sua revolta; “Nem se fosse para homenagear uma pessoa do bairro, nós seriamos contra, por que nesta escola eu coloquei minha filha e hoje busco até minha neta. Este vereador quer apagar nossa história e isso não pode acontecer. Essa pessoa nunca passou por aqui, nem sabemos quem é, por que não deu o nome em outro escola nova e quer mudar justo esta ?”, concluiu questionando.
No momento de nossa reportagem, um abaixo assinado estava sendo coletado na porta da escola e no comércio e até a nossa saída do local já haviam sido coletadas mais de 400 assinaturas. Para uma professora da ativa e que estava auxiliando a mobilização, mas, que preferiu não se identificar temendo represálias, o objetivo é tentar barrar este ato através de uma ação de iniciativa popular no Ministério Público. ” Nós não concordamos com essa alteração, e nem a direção e tampouco os professores e mães de alunos foram ouvidos a respeito. Que decisão é essa, onde os principais envolvidos sequer são ouvidos ?” também questionou a professora.
Ainda entre uma assinatura e outra, esta mesma Professora nos questionou; ” porquê não prestaram uma homenagem a esta advogada nas escolas que inauguraram agora como no Flauta ou do bairro maracá ? Ela sequer deu aula nesta escola, alias, em nenhuma escola de educação infantil. Estão misturando as coisas por interesses políticos. Não sou contra homenagear, mas, que seja em algo referente a área dela que era sem duvida uma conceituada Professora universitária e advogada”, concluiu.
No comércio que circunda a região ouvimos todos os comerciantes, e um deles, E. F. S, da rua Antonio Polon também se posicionou contrário a alteração já aprovada; ” Nem moro no bairro, mas, minha clientela é toda daqui, e todos comentam a respeito. Se eles que moram aqui reprovam, não tem como eu ser contrário. Particularmente acho uma decisão descabida , e mesmo morando em outro bairro, tenho amigos que estudaram aqui e sei do conceito da escola que já tem uma história formada com este nome. Para quê mudar então?” concluiu perguntando.
Em visita a rua Onório Machado, a Comerciante E. S. G, já havia assinado o documento e acrescentou; ” Meu filho hoje, tem 22 anos, estudou aqui e o diploma dele leva o nome da escola sem qualquer acréscimo. Tenho certeza que o Prefeito Daniel Alonso é um homem inteligente e não vai deixar isso acontecer. Tenho amigos vereadores e vou ligar para eles para anularem essa decisão. Nós moramos aqui e não queremos essa alteração”, finalizou.
Apos reiteradas tentativas, conseguimos um contato com a assessoria de imprensa do autor do projeto, Presidente da Câmara Marcos Rezende que, divulgou a seguinte nota:
Resposta à demanda do Jornal do Ônibus
O presidente da Câmara Municipal de Marília, vereador Marcos Rezende (PSD), observa que o nome ‘Sítio do Pica Pau Amarelo’ não foi retirado e nem excluído da denominação desta importante e honrosa unidade de ensino da rede municipal de Marília. Sem desmerecer o mérito da obra literária de Monteiro Lobato, que deu origem ao nome original da escola, houve apenas a complementação com o nome de uma mariliense que durante sua trajetória de vida trabalhou, estudou, criou seus filhos e mostrou que a Educação consiste no autêntico o caminho para a vitória. Como consta no projeto aprovado por todos os vereadores de Marília, a unidade passa a ser chamada de ‘Emei Professora Simone Doreto Campanari – Sítio do Pica Pau Amarelo’. Ou seja, ficou mantido o legado cultural de um escritor que é paulista, mas não nascido em Marília (Monteiro Lobato é natural de Taubaté, na região do Vale do Paraíba), e houve assim a inclusão da homenagem póstuma a uma mariliense que em vida foi talentosa professora e dedicada advogada. Acrescenta ainda que Simone foi filha do único deputado Constituinte da região de Marília, Doreto Campanari, que ajudou a escrever a Constituição de 1988 vigente até os dias de hoje.
O projeto de Lei n.º 66/2019 recebeu parecer favorável da Comissão de Justiça e Redação, presidida pelo vereador Maurício Roberto (PP) e composta pelos vereadores membros Luiz Eduardo Nardi e Evandro Galete. A matéria legislativa foi votada e aprovada de forma unânime na sessão ordinária de segunda-feira, dia 5 de agosto, inclusive com as presenças de familiares da homenageada.
Justificativa do Projeto de Lei n.º 66/2019
‘O projeto de Lei que estamos propondo a apreciação dos nobres pares visa modificar a Lei n.º 2799/1982, que cria e denomina Emei ‘Sítio do Pica-pau Amarelo’ passando a denominação ‘Emei Professora Simone Doreto Campanari – Sítio do Pica-Pau Amarelo’ a escola municipal localizada na rua Onório Machado, nº 335, no bairro Vila Coimbra. Simone Doreto Campanari faleceu aos 7 de abril de 2016, com 48 anos de idade, filha do médico e ex-deputado federal Osvaldo Doreto Campanari e de Esther Pierini Doreto, deixando os filhos Lis e Yves. Era graduada em Direito pela Universidade de Brasília (1990) e tinha mestrado pela Univem (2007). Possuía experiência na área de advocacia Cível, Penal e Trabalhista, além de ser docente em Direito Penal, Direito das Obrigações, Prática Jurídica, Instituições do Direito Público e Privado, Legislação Tributária e Direito e Ética Profissional. Anexamos ao projeto, completo histórico de sua vida profissional e acadêmica. Solicito o apoio e a devida aprovação do Projeto, por entender que se trata de justa e merecida homenagem.
Marcos Rezende (PSD) – Vereador’
A nota possui o mesmo conteúdo da resposta do próprio vereador a uma Professora que está viralizando redes sociais, onde o nobre edil foi sucinto em sua resposta e justificativa da homenagem.
Quase ao final desta matéria, fomos informados que já existe outros projetos de alteração de nomes de escolas infantis com prestação de homenagens a personalidades do Município. Por um outro lado, Moradores e ex professores estariam se articulando para mobilizações na própria escola antes da cerimonia de revitalização e alteração do nome e provavelmente na sessão camarária da próxima segunda feira. Estaremos acompanhando.
A EMEI Sitio do Pica Pau Amarelo foi a primeira escola de educação infantil inaugurada na cidade e, possui um rico acervo de conquistas e prêmios ao longo de seus 37 anos, graças aos projetos desenvolvidos na mesma. Conta hoje com mais de 300 alunos e, é uma das mais procuradas pelas mães residentes na zona oeste de Marília.
