Em sete meses, pioneira entre as criptos salta de R$ 20,5 mil em março, no auge do tombo da pandemia, para o maior valor da história na paridade com a moeda brasileira

Na manhã desta quarta-feira (21), o bitcoin superou os R$ 70 mil e bateu seu recorde de preço em reais. Mais que isso: no horário de publicação desta reportagem, a criptomoeda já havia subido mais e chegava em R$ 71,4 mil.

Antes do recente rali, o maior valor que o BTC já havia atingido em reais havia sido de R$ 69,9 mil na abertura do mercado em 17 de dezembro de 2017, o momento de maior pico da moeda virtual até hoje.

O marco de hoje impressiona pela rapidez com que a pioneira entre as criptomoedas se recuperou do tombo que a pandemia do novo coronavírus causou nos mercados financeiros. Segundo um levantamento da exchange Mercado Bitcoin, a moeda abriu 2020 valendo R$ R$ 29.399, e, no auge dos temores com o recrudescimento da covid-19, em 12 de março, tocou no piso de R$ 20.510.

Desde então, só subiu, principalmente em agosto, passando por leve queda em setembro e, na sequência, por um novo rali – o atual – que elevou o preço para acima dos R$ 70 mil.

“Esse comportamento de recuperação também aconteceu com as bolsas, mas o bitcoin se destaca pela velocidade com que voltou aos patamares pré-covid”, comenta Daniel Coquieri, diretor de operações da exchange BitcoinTrade. Segundo ele, há uma tendência de alta da criptomoeda que não vem de hoje: “Mesmo com a alta volatilidade do mercado, fechamos 2019 com o BTC negociado a R$ 29 mil e isso já representou valorização de 95% naquele ano”.

Agora, a depreciação da moeda brasileira é um aspecto importante a ser considerado. Segundo a exchange NovaDAX, o bitcoin subiu 87% neste ano em comparação com o dólar, mas, na comparação com o real, a alta chega a 257%. “A combinação de valorização do BTC e desvalorização do real ao mesmo tempo produz um retorno espantoso”, comenta a CEO da exchange, Beibei Liu.

Por que sobes, bitcoin?

Bitcoin supera o marco de R$ 70 mil — Foto: Getty Images

Segundo Liu, a principal razão para o recente rali do bitcoin é o aumento dos investimentos na cripto por parte de institucionais. Ela lembra que companhias como Square, MicroStrategy, Grayscale e Bit Digital anunciaram recentemente ao mercado que haviam feito compras vultosas de bitcoins e que passariam a incorporar criptoativos em seus portfólios de longo prazo.

Liu também cita novas funcionalidades anunciadas pela Square, que passou a permitir compras e vendas de bitcoins em seu Cash App, e pela PayPal, que anunciou a intenção de desenvolver serviços com bitcoins e blockchain, a tecnologia por trás das criptos. “E há uma corrida de investidores individuais também, motivados pela emoção e pelo medo de perder uma oportunidade de lucrar”, explica.

Na visão dela, não é hora de embolsar lucros. “Acredito na valorização de longo prazo do bitcoin. O que sugerimos aos investidores é a estratégia de manter um padrão constante de recompra, o que tende a reduzir os riscos”, ela diz.

Além de reiterar a tese de que uma maior adoção por parte de institucionais estaria impulsionando o preço da cripto, Fabrício Tota, diretor de Novos Negócios da exchange Mercado Bitcoin e de seu braço de criptoativos MB Digital Assets, credita a valorização a uma fala recente de Jerome Powell, presidente do Fed, o banco central americano.

“O catalisador desta semana talvez tenha sido o discurso de Powell, que ressaltou o valor das moedas digitais de bancos centrais. Esse tipo de validação ajuda muito o principal ativo da categoria, o bitcoin”, pondera.

Ele também cita o anúncio da PayPal de que passará a aceitar bitcoin e outros criptoativos como pagamentos na sua plataforma, o que significa uma injeção de 346 milhões de novos investidores-consumidores na criptoeconomia, e vê com otimismo as perspectivas futuras: “Tudo isso nos permite avaliar que esse rali é mais uma sinalização de um possível ciclo de alta no mercado, que pode ser mais longo e sólido que o de 2017”.

Tota reforça a influência da questão cambial real-dólar, mas vê nela uma oportunidade para o brasileiro. “De certa forma, alocar em bitcoin tem duplo efeito: fica exposto à cripto, mas também à oscilação do dólar”, afirma. Ele também não crê que seja hora de realizar lucros: “Ainda há muito espaço. É tempo para comprar bitcoin se você não o tem”.

“O câmbio é o fator gigante de peso para o impacto do bitcoin no Brasil neste momento”, reforça Mayra Siqueira, líder no Brasil da exchange Binance. “Com a cotação de hoje do dólar, o recorde histórico do bitcoin em 2017 equivaleria a cerca de R$ 105 mil agora”, explica.

Segundo ela, a valorização recente é tão significativa que “Quem comprou na alta máxima do bitcoin aqui no Brasil e viu o ativo perder valor nos meses e anos seguintes já recuperou o investimento”.

Real fraco ajuda Bitcoin a bater recorde de preço no Brasil e superar R$ 70  mil | Portal do Bitcoin

João Canhada, CEO da exchange Foxbit, também cita a novidade da PayPal como um impulsionador. ” Depois do halving, em maio, que gerou escassez do bitcoin, temos amplos fundamentos para alta de longo prazo. E temos tido só boas notícias, como a de hoje, do PayPal passando a negociar bitcoins, embora em um modelo diferente do das exchanges. É um grande passo, serão milhões de consumidores a mais podendo comprar e vender”, afirma. Segundo ele, “Com a impressão desenfreada de dinheiro por parte dos governos, todos deveriam ter bitcoin para se proteger do cenário atual da humanidade”, afirma.

O CEO da Foxbit também aponta para a questão cambial como uma janela de oportunidades. “O último pico do BTC havia sido de US$ 19,8 mil, e o dólar estava em R$ 3,30. Hoje temos em US$ 11,8 mil e o câmbio em R$ 5,60. Não há dúvidas de que deve continuar subindo, com o Brasil com 101% de dívida sobre o PIB e um ano desastroso para a economia mundial”, comenta.

Universidade do Bitcoin: 2017

Segundo Canhada, graças à oscilação cambial, “Hoje não tem ninguém que tenha comprado BTC em real e tenha tido prejuízo na operação; todo mundo está no lucro”, e o horizonte é positivo. “Ainda estamos em pouco mais da metade do preço histórico em dólar. Para o brasileiro, faz todo sentido investir em bitcoin. Precisa ter investimentos em ativos que não estejam ligados ao governo brasileiro. Não é hora de embolsar lucro ainda. Garantir é uma palavra forte, mas há fundamentos sólidos que fazem a gente acreditar em mais espaço para alta”, completa.

Para Ricardo Da Ros, líder no Brasil da Ripio, não é surpreendente que o bitcoin tenha superado os R$ 70 mil: “A desvalorização do real tem sido relativamente amena quando comparada às moedas de outros países emergentes, mas ainda assim é constante e tem acelerado”.

Ele vê no marco atingido hoje um chamado urgente para o investidor que ainda não tem criptoativos em sua carteira. “O brasileiro não tem a cultura de proteger seu patrimônio e acaba não percebendo o efeito da desvalorização do real, que vai corroendo o valor de seus bens. O receio de entrar para a nova economia pode ter um custo de oportunidade muito grande”, pondera.

error: Conteúdo protegido por direitos autorais.