Cuidar e educar as crianças para uma adolescência saudável, não é uma tarefa fácil. Conversar e demonstrar compreensão, segundo os estudiosos é fundamental para o bom desenvolvimento psíquico no enfrentamento dos percalços da vida, prevenindo, assim, o surgimento de dúvidas, principalmente com relação a sexualidade.

Relato de uma adolescente dos anos 2000.

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” Minha menstruação veio aos 12 anos e minha mãe fez daquilo um evento contando a todos, para ela motivo de orgulho, para mim uma vergonha imensurável. Aos 15 eu era única virgem da minha turma, sendo com certeza a que ficava fora dos assuntos e motivos de muitas risadas e chacotas, por estar “fora” do que parecia ser normal. Aos meus 16 anos no último ano do ensino médio, engravidei, ano 2000 muitas transformações acontecendo no mundo; meu filho nasceria no mês de Agosto daquele ano, eu estava completamente perdida, sem nenhuma instrução , com medo, quem me instruiu e acolheu foi a mãe de uma amiga, a minha mãe só me deixava com mais medo, me fez casar , eu não escolhi os padrinhos, o bolo, o lugar , casei de preto em forma de indignação, eu gostava do meu namorado, mas nós não queríamos casar, só cuidar do bebê.
Meu primeiro contato com contraceptivo foi após o meu parto, na primeira consulta no posto de saúde do meu bairro. Não tinham comerciais na televisão ou visitas de agentes de saúde, tão pouco uma conversa dentro da minha casa ou na escola. A falta de conhecimento do meu corpo, limites e a imposição de que o prazer tinha que ser do homem, e que era vergonhoso uma adolescente saber falar ou ter acesso. Uma vida quase inteira para aos 30 e poucos anos entender que eu preciso me proporcionar conhecimentos do meu corpo e de minhas vontades”.

Relato de Juliana Fonseca

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Esse é um relato de uma mulher que engravidou na adolescência, no início dos anos 2000. O que se percebe, através desse relato acima é que as emoções, os sentimentos, os tabus e as crenças que envolvem a sexualidade e a gravidez na adolescência ainda permanecem latentes na sociedade.

As meninas são adultizadas desde cedo, por volta dos 8 anos de idade, quando são “estimuladas/encorajadas” a usarem maquiagem, pintar as unhas e …pasmem…. usar sutiãs de renda/bordados de cor preta ou vermelha.

Ao mesmo tempo, quando chegam na menarca (primeira menstruação), recebem informações contraditórias sobre seus corpos, seu ciclo menstruação/sangue menstrual e sua sexualidade, pois ao mesmo tempo que a mulher “é cobrada” em dar prazer ao homem, ela não pode se entregar e ter prazer na relação sexual.

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Uma questão muito presente ocorre na tribo de amigas, das adolescentes, principalmente se ainda é virgem aos dezessete anos de idade, ela sofre bullying, pois está “atrasada”. O que se vê atualmente, através das pesquisas são meninas vivenciando a sua sexualidade de forma desequilibrada, apesar de tanta facilidade às informações.

Os medos são diversos… de perder o namorado, de estar atrasada em relação às amigas; ficam querendo provarem, para si mesmas que não são feias e para não se sentirem rejeitadas. Entretanto, segundo dados do Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa), o índice de gravidez na adolescência no Brasil está acima da média mundial.

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Em 2020, registrou-se que, a cada mil brasileiras entre 15 e 19 anos, 53 tornam-se mães. No mundo, são 41. A média da América Latina é de 62 meninas, a cada mil, que engravidam nessa faixa etária. Os dados demonstram a necessidade de tratar a gravidez na adolescência como uma questão de saúde pública.

Tendo em vista esses dados, reforçamos o acesso a informações de qualidade e de uma educação sexual e o planejamento familiar, com orientações profundas sobre os benefícios e malefícios de todos os métodos contraceptivos através de um acompanhamento/ reuniões/rodas de conversa nos sistemas de saúde, no início da puberdade, com vistas ao acolhimento, respeito e não julgamento às escolhas dessas meninas, para que elas sintam segurança e confiança em si mesmas, nos seus corpos e conheçam todas as possibilidades de experimentarem sua sexualidade com consciência e amor próprio.

DIRETO DA REDAÇÃO COM TEXTOS DE AUTORIA DAS COLABORADORAS ABAIXO ELENCADAS ATRAVÉS DA DRª MARÍLIA MAZETO.

Sheila Gonzalez
Enfermeira Obstetra e ginecológica
Terapeuta em Ginecologia Natural
Voluntária no Comitê de Combate à Violência Contra a Mulher – Grupo Mulheres do Brasil , núcleo Barueri.

Juliana Fonseca
Pedagoga, mãe do Lucas de 20 anos e Luiz Fernando de 10 ,divorciada, hoje com 38 anos e apesar de muitos percalços fez um bom trabalho como mãe solo – Agente de comunicação voluntária no Comitê de Combate Violência Contra a Mulher – Grupo Mulheres do Brasil , núcleo Barueri.

Prof. Marília Vilardi Mazeto é advogada, Assistente Social e Professora Universitária com atuação na formação de muitas alunas ( os ) ao longo dos anos na Unimar. Apaixonada pela cidade, ela colabora com o Jornal do Ônibus de Marília, atuando como Colunista, com artigos e reflexões que possam contribuir com a mudança na forma de pensar do modo coletivo em beneficio da construção de uma sociedade mais justa, humana e igualitária.

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