Até o dia 11 de setembro de 2001, uma pergunta comum era facilmente respondida por duas gerações de americanos: onde você estava quando soube que o presidente John F. Kennedy foi assassinado?

Para os nova-iorquinos, a partir daquele dia, a pergunta passou a ser sobre um novo trauma. Onde você estava quando as Torres Gêmeas foram atingidas?

As memórias dos residentes ou visitantes que estavam em Nova York no dia do pior ataque sofrido pelos EUA desde o bombardeio japonês a Pearl Harbor, no Havaí, em 1941, variam de épicas -o terror diante do colapso das torres- a mundanas -pequenos gestos entre estranhos fugindo em meio à fumaça que cobriu o sul da ilha de Manhattan naquela manhã.

Mas, 20 anos depois, uma operação de salvamento monumental continua desconhecida pela grande maioria dos americanos. Durante cerca de nove horas, após o colapso das torres, 500 mil pessoas foram resgatadas da ilha em barcos. Foi o maior êxodo marítimo desde Dunquerque, no norte da França, durante a Segunda Guerra, quando 338 mil soldados aliados foram resgatados sob ameaça do avanço nazista.

A retirada em Dunquerque, no entanto, foi predominantemente executada por barcos comandados por militares. A fuga marítima de Manhattan foi espontânea, envolvendo barcos de pesca, de turismo, embarcações da polícia e da guarda costeira sem um comando centralizado.

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Uma hora e 46 minutos e quase 3 mil mortos. Foi esse o tempo que levou para quatro aviões comerciais norte-americanos serem sequestrados, caírem e fazerem com que aquele 11 de setembro de 2001 entrasse para a história mundial como um dia para não ser esquecido. Vinte anos após os atentados, relembre o passo a passo daquele dia e todos os acontecimentos que fizerem desse o maior atentado terrorista da história mundial.

Naquela manhã, os quatro aviões sequestrados decolaram com cerca de 43 minutos de diferença entre o primeiro e o último. Os 19 sequestradores passaram por detectores de metal, mas mesmo assim conseguiram embarcar.

O que se sabe sobre o que aconteceu dentro dos voos está no relatório final da comissão que analisou os atentados. Nele, estão contidos relatos de passageiros que ligaram para familiares e contaram o que estavam vendo e também dados das torres de controle. Dessa forma, foi possível saber, aproximadamente, o que ocorreu dentro dos voos.

Os pilotos foram os primeiros a serem mortos e quatro dos sequestradores, que tiveram treinamento, assumiram o controle dos aviões. Somente um deles não atingiu o alvo: o voo 93. Pelos relatos, é possível perceber que os passageiros tentaram invadir a cabine e isso fez com que os terroristas derrubassem o avião antes. Até hoje não se sabe ao certo qual era o alvo da aeronave, mas acredita-se que poderia ser a Casa Branca ou o Capitólio.

como estava cada um dos aviões

O grupo terrorista Al-Qaeda, liderado pelo sunita Osama Bin Laden, assumiu a autoria dos ataques. No mesmo ano, os Estados Unidos invadiram o Afeganistão, à época comandado pelo Talibã, sob a alegação de que o grupo fundamentalista estava dando abrigo para Bin Laden. As tropas norte-americanas só deixariam o país 20 anos depois, mais precisamente no mês passado, deixando mais de 75 mil mortos. Osama Bin Landen só seria encontrado, e executado, pelos Estados Unidos em 2011, em um esconderijo no Paquistão.

A Guerra ao Terror, política adotada pelo então presidente George W Bush, também levou à invasão ao Iraque, em 2003. O país, comandado por Saddam Hussein, era acusado de manter guardado um arsenal de armas que seria um ameaça terrorista para o mundo. Hussein foi enforcado em 2006.

O dia em que a Terra parou

Aquelas nove horas improváveis, quase surreais, formam a narrativa de “Saved at the Seawall: Stories from the September 11 Boat Lift” (salvos no quebra-mar: histórias do êxodo marítimo do 11 de Setembro). Jessica DuLong, autora do livro, é uma historiadora em posição privilegiada para descrever um drama passado nas vias navegáveis que cercam Manhattan.

Ela é marinheira licenciada pela Marinha Mercante e se aposentou como uma rara mulher engenheira de um barco bombeiro da cidade de Nova York. No 11 de Setembro, DuLong ainda não ocupava o posto no John J. Harvey, barco bombeiro fora de serviço, construído na década de 1930, que foi trazido à ativa para bombear água do rio Hudson no combate ao incêndio, já que os hidrantes da área haviam secado.

Quando as torres desabaram, a primeira às 9h59, a segunda às 10h28, milhares de pessoas correram para o quebra-mar da ponta sudoeste da ilha. Não se sabe quantos saltaram no Hudson, acreditando que podiam nadar até Nova Jersey. Houve resgates nas águas. Às 10h45, a Guarda Costeira pediu socorro para todas as embarcações disponíveis na área. E a resposta veio rápida e obstinada.

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“Saved at the Seawall” termina com uma reflexão sobre o hábito americano de designar heróis. “Na história das catástrofes”, DuLong escreve, “a primeira onda de socorro vem, em boa parte, de civis”.

A autora afirma acreditar que perdemos muito por essas histórias não serem mais bem contadas. “Separar heróis do resto de nós é uma forma de desumanizar, e vemos isso hoje na pandemia. Gentileza e compaixão são contagiosas. Nenhum bombeiro deixa o local do incêndio dizendo ‘eu sou um herói’. Não precisamos de heróis. Precisamos estar juntos.”

Não há argumento mais forte do que a extraordinária ação que salvou milhares naquele 11 de setembro.

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