“Não há motivo de alarme, mas de alerta”, afirmou a ministra da Saúde do Brasil, Nísia Trindade
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) para a mpox, na quarta-feira (14). Não se trata de uma pandemia, como foi declarado para a COVID 19.
O alerta implica em uma resposta internacional coordenada para facilitar o financiamento ao combate à doença e o compartilhamento de vacinas, testes e tratamentos. Diferente, a pandemia se refere a uma disseminação global.
Anteriormente, o nível de alerta para a doença havia sido declarado em julho de 2022. Em maio do ano seguinte, a organização reconsiderou o status diante da diminuição global no número de casos.
Agora, a situação mais preocupante tem sido registrada na República Democrática do Congo (RDC), que já registrou aproximadamente 14 mil casos somente neste ano, incluindo 450 óbitos, de acordo com o último relatório do Centro Africano de Controle e Prevenção de Doenças.
Segundo a OMS, “o surto continua com um baixo nível de transmissão” fora do continente africano. “A detecção e a rápida disseminação de uma nova variante de mpox na República Democrática do Congo, a detecção dessa mesma variante em países vizinhos que não haviam reportado casos da doença anteriormente e o potencial de disseminação em toda a África e além são muito preocupantes”, disse Tedros Adhanom, diretor-geral da organização, nesta quarta-feira.
“A OMS está comprometida em coordenar a resposta global nos próximos dias e semanas, trabalhando em estreita colaboração com cada um dos países afetados e alavancando nossa presença local para prevenir a transmissão, tratar os infectados e salvar vidas”, completou Adhanom.
“Está claro que uma resposta internacional de forma coordenada é essencial para interromper esses surtos e salvar vidas. Uma emergência em saúde pública de importância internacional é o mais alto nível de alarme na legislação sanitária”, concluiu.
Brasil
No Brasil, o risco de contaminação é baixo. Em 2024, foram registrados 709 casos confirmados ou prováveis. A título de comparação, em 2022, foram notificados aproximadamente 10 mil casos. De lá para cá 16 óbitos também foram contabilizados, sendo a mais recente em abril de 2023.
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, informou que será instituído um Comitê de Operação de Emergência no país, envolvendo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) conselhos de secretários municipais e estaduais de saúde. “Já estávamos acompanhando, tivemos reunião de especialistas há duas semanas, desde que começaram os casos e essa possibilidade [de disseminação da doença], e vamos analisar as questões como vacina. Não há motivo de alarme, mas de alerta”, afirmou a chefe da pasta, em coletiva de imprensa nesta quarta-feira (14).
Sintomas
A mpox é uma zoonose, ou seja, uma “doença ou infecção naturalmente transmissível entre animais vertebrados e seres humanos”, de acordo com a própria OMS. Isso significa que a transmissão pode se dar a partir do contato com animais silvestres, pessoas infectadas pelo vírus e materiais contaminados, como vestimentas, toalhas e roupas de cama.
A mpox tem semelhanças com a varíola humana, que causou crises sanitárias no mundo todo por séculos, até que foi controlada pela vacinação na década de 1970.
Entre os sinais da doença estão febre, dores no corpo e na cabeça, cansaço, gânglios inchados, lesões com feridas espalhadas pela pele, erupções cutâneas, calafrio e fraqueza. Os machucados causam dores e coceira e algumas manchas podem deixar cicatrizes.
O sintoma mais característico da doença são as lesões, que podem ser planas ou ficarem em relevo sobre a pele, contendo líquido claro ou amarelado e podendo formar crostas. De acordo com a OMS, as erupções tendem a se concentrar no rosto, na palma das mãos e na planta dos pés.
Pacientes com a confirmação da doença devem se isolar e quem esteve em contato com essas pessoas também precisa de monitoramento. O período de incubação sem sintomas costuma durar de 6 a 13 dias, mas pode chegar até 21 dias.
Vacinas
No Brasil, o imunizante contra a doença foi liberado pela Anvisa em agosto de 2022 e começou a ser distribuído em março do ano seguinte. Conhecida também como Imvamune ou Imvanex, a vacina Jynneos é produzido pela farmacêutica dinamarquesa Bavarian Nordic.
Na época, foram compradas 49 mil doses. Reportagem do Globo de novembro do ano passado, no entanto, mostrou que até aquele momento cerca de 22 mil delas haviam sido aplicadas. De acordo com o Ministério da Saúde, havia pouca procura pelo imunizante.
A pasta informou que, “caso novas evidências demonstrem a necessidade de alterações no planejamento, as ações necessárias” de imunização “serão adotadas e divulgadas”.
Suécia confirma primeiro caso de mpox do ‘tipo mais grave’
A Suécia confirmou nesta quinta-feira (15) seu primeiro caso de mpox do “tipo mais grave” da doença, que recebeu esta semana, o mais alto nível de alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Tivemos a confirmação durante a tarde de que temos um caso na Suécia do tipo mais grave de mpox, aquele chamado Clado 1“, disse o ministro da Saúde do país, Jakob Forssmed, em uma entrevista coletiva.
📝 ENTENDA: Clado é um termo técnico utilizado para distinguir as diferentes variantes do vírus. Um clado tem origem num grupo de organismos com um ancestral comum, como o vírus da monkeypox, que é da família do orthopoxvírus.
À agência AFP, o Ministério da Saúde do país informou que o paciente foi infectado pela mesma variante responsável pelo recente aumento dos casos na África, o Clado 1b, identificado na República Democrática do Congo (RDC) em setembro de 2023.
Esta é primeira vez que o Clado 1b é identificado fora do continente africano, ainda segundo o governo sueco.
Segundo a pasta, o paciente em questão foi infectado durante o período em que viajou para o continente africano, onde existe um grande surto de mpox do Clado 1b. Na Suécia, esse paciente teve a infecção confirmada e está sob cuidados médicos.
A nova variante que está preocupando a OMS faz parte justamente desse clado e parece estar se espalhando mais facilmente por meio de contatos próximos rotineiros, como é o caso entre crianças.
Mas além do Clado 1b, existem mais três variantes reconhecidas do vírus: o Clado 1a, presente na Bacia do Congo, com mortalidade de até 10%, transmitido principalmente por roedores e com pouca propagação entre humanos; o Clado 2a, que ocorre na África Ocidental, com baixa mortalidade; e o Clado 2b, que provocou o surto de 2022 no Brasil e em outros países do mundo.
Os cientistas ainda desconhecem a causa genética das diferenças na virulência (sua capacidade de produzir casos graves e fatais) e transmissão desses vírus.
Também não está claro se essas mudanças são resultado apenas de fatores comportamentais e ambientais ou se o vírus da mpox está se adaptando a um novo hospedeiro.
Mudança de nome
A mpox era chamada de varíola dos macacos porque foi identificada pela primeira vez em colônias de macacos, em 1958. Só foi detectada em humanos em 1970.
Entretanto, o surto mundial de 2022 não tem relação nenhuma com os primatas – todas as transmissões identificadas foram atribuídas à contaminação por transmissão entre pessoas.
Por causa disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou um processo de consulta pública para encontrar um novo nome para a doença e assim combater o racismo e estigma provocado pelo nome.
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