
O anúncio foi feito pela prefeita do município, Flavinha Cunha e pelo deputado federal Josimar de Maranhãozinho, ambos do PL, por meio das redes sociais oficiais da Prefeitura. O parlamentar é tio da prefeita.
“Olá, Zé Doca. Vamos fazer uma inovação para agradar toda população”, anunciou Flavinha. “O engraçado, prefeita, é que, nesse ano, não teremos o tradicional Carnaval em Zé Doca”, emendou Maranhãozinho. “Serão quatro dias de muito louvor a Deus”, prosseguiu a prefeita. “Com as melhores atrações do mundo gospel!”, completou o deputado.
O anúncio foi publicado nas redes sociais na segunda-feira (20), com uma música da cantora gospel Maria Marçal como trilha sonora. Os nomes dos artistas ainda não foram divulgados, assim como os valores que serão destinados pela prefeitura.
Este ano, o Carnaval vai de 1º e 4 de março, quando ocorrerá o “Adora Zé Doca”. Um dia depois da divulgação do festival gospel, a prefeita anunciou outra inovação: uma folia fora de época.
“Teremos atrações incríveis a nível nacional. Vamos sair na frente, a nossa folia será antecipada, 21, 22 e 23 de fevereiro”, destacou a prefeita em outro vídeo, sem divulgar os nomes das atrações.
Moradores se manifestaram por meio de comentários nas publicações das redes sociais da prefeitura. Alguns festejaram a iniciativa. “Nossa, que lindo. Glória a Deus”, escreveu. Mas muitos lembraram que o Estado brasileiro é laico.
Conforme o censo mais recente do IBGE, a religião predominante em Zé Doca é a católica, que tem duas ramificações na cidade: apostólica romana (o município é a sede da Diocese de Zé Doca) e apostólica brasileira – esta, inclusive, foi a pioneira na cidade, só depois foi celebrada a primeira missa romana.
Há também na cidade várias outras denominações evangélicas em crescimento, como, por exemplo, a 1ª Igreja Batista, Assembleia de Deus, Igreja Adventista do 7º Dia (uma por bairro), Testemunhas de Jeová, Igreja Deus é Amor, Igreja Batista Missionária, Igreja Universal.

Esquemas de corrupção
Flavinha Cunha foi eleita prefeita de Zé Doca em 6 de outubro de 2024. Ela tem 35 anos, é enfermeira. O vice-prefeito de Zé Doca é Edilson Romão, do PL, que tem 45 anos.
Já seu tio, Josimar de Maranhãozinho, é experiente na política e tem histórico de investigações por indícios de corrupção com dinheiro público. Empresário, com 48 anos, foi prefeito de Maranhãozinho (MA) entre 2005 e 2012.
Maranhãozinho ficou conhecido nacionalmente após uma ação controlada da Polícia Federal, autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), flagrar o parlamentar mexendo em uma caixa com dinheiro e a entregando a um homem desconhecido. Segundo a PF, o dinheiro seria fruto de corrupção.
Nos endereços do deputado, agentes encontraram cerca de R$ 2 milhões em dinheiro vivo. Ao se manifestar sobre a apreensão, o parlamentar afirmou que os valores são “oriundos de sua atividade pecuária e empresarial”. Esta investigação apura supostos desvios de emendas parlamentares destinadas à Saúde no Maranhão.
Em agosto de 2022, a Polícia Federal concluiu que Maranhãozinho participou de um suposto esquema que usava empresas fantasmas para fraudar obras de pavimentação em estradas em Zé Doca, no interior do estado, cuja prefeita era sua irmã, Josinha Cunha. Ao todo, estima-se que foram desviados R$ 1,8 milhão.
Maranhãozinho também foi investigado pela PF e denunciado em 2012 pelo Ministério Público Federal (MPF) acusado de ser o cabeça de uma organização criminosa que controlava, por meio de pedágios e outras práticas, a extração de madeira na terra indígena Alto Turiaçu. O caso está parado na primeira instância da justiça maranhense, e o deputado nega as acusações.
Em outubro de 2024, a Procuradoria Geral da União (PGR) apresentou uma denúncia ao STF envolvendo três deputados federais do PL, incluindo Josimar de Maranhãozinho.
As acusações são pelos crimes de corrupção passiva e organização criminosa em um suposto esquema de desvio de recursos de emendas parlamentares. O grupo ligado aos parlamentares teria agido para desviar parte dos recursos destinados à Prefeitura de São José de Ribamar, no Maranhão.
De acordo com a PGR, o esquema previa a devolução de R$ 1,6 milhão. O então prefeito de São José de Ribamar, Eudes Sampaio, relatou ter sido alvo de extorsões e ameaças, sendo pressionado pelo grupo a repassar parte dos recursos provenientes das emendas.
Em 2022, quando foi candidato à reeleição à Câmara dos Deputados, Maranhãozinho declarou ao TSE ter R$ 25,4 milhões em bens. Quando se elegeu prefeito pela primeira vez do município de Maranhãozinho, em 2004, ele informou não ter qualquer bem em seu nome. Em 2008, ao se reeleger, informou possuir R$ 463,9 mil. Ou seja, em 14 anos, o patrimônio do político cresceu 55 vezes.
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