A monotonia das relações afeta a todos os casais, sem exceção, e a solução para isso é uma via de mão dupla

Ser rejeitado dói. Ser rejeitado por quem a gente ama dói muito. Ser rejeitado sexualmente por quem a gente ama dói ainda mais. Porém, isso acontece em todas as relações: o namoro ou casamento vai entrando na rotina, os problemas do dia a dia atrapalham, os filhos vêm e o interesse sexual vai ganhando novos contornos. Transar sempre com a mesma pessoa implica que, com o tempo, o sexo “perca a graça”, afinal de contas não há, naturalmente, novidades na cama se são sempre os mesmos corpos. Além de tudo, ainda tem o conforto de, com o tempo, você já conhecer tão bem como a outra pessoa se satisfaz que o sexo já tem um roteiro pronto. Tudo isso afeta a libido do casal e, evidentemente, o interesse sexual pelo(a) parceiro(a) vai ficando prejudicado.

Isso quer dizer que não sou mais amada?

Com frequência, ouço mulheres concluindo que seus parceiros não as procuram porque estão em um caso extraconjugal, “têm outra”, mantêm uma relação fora do casamento. Nesses casos, elas entendem que se o homem não as procura mais, está de fato fazendo sexo em outro lugar, com outra pessoa. Mas nem sempre é assim. Apesar de estarmos acostumadas a ouvir sobre a virilidade masculina, os homens também perdem o interesse pelo sexo – e isso não necessariamente significa que perderam o interesse por suas companheiras. Então, antes de acusar seu parceiro ou sua parceira de infidelidade, é muito importante buscar entender as causas dessa falta de sexo.

Outra coisa comum, é ver mulheres que estão sempre esperando que o(a) parceiro(a) as procure. Isso também cansa! A responsabilidade de ter uma vida sexual ativa não deve ser apenas de uma parte da relação. Então, mulher, se você sente que seu parceiro ou sua parceira não te procura mais, pergunte-se se a iniciativa também tem partido de você ou se você só está esperando isso de mão beijada.

Mesmo quando tenho a iniciativa, sou rejeitada. E agora?

Nós, mulheres, não fomos ensinadas a lidar com rejeições. Ensinaram-nos a esperar sempre o príncipe encantado para nos salvar de um castelo, que resolverá tudo – inclusive o sexo – e a gente só precisa ficar ali, paradinha, esperando. Enquanto nós ouvíamos os contos de fadas, eles estavam sendo incentivados a tentar, a correr, a pular de grandes alturas e, se caíssem, era só levantar porque “homem não chora”. Ou seja: a educação masculina faz com que os homens saibam lidar melhor com a rejeição do que as mulheres. Então, sim, para nós dói muito esse sentimento. E isso não quer dizer que essa dor deva sinalizar o fim das tentativas. O importante, aqui, é saber qual é o seu limite. Quantas rejeições você suporta até tomar uma atitude diferente?

Há remédio para a vida sexual desgastada ou isso já sinaliza o fim da relação?

De fato, o afastamento sexual é um indício de que algo não está fluindo bem, então definitivamente é hora de abandonar velhas crenças e compreender que os dois precisam estar dispostos a encarar a relação a dois de uma forma diferente. Então, na melhor das hipóteses, uma parte desse relacionamento morre mesmo. Por outro lado, deve-se abrir espaço para que se encontrem saídas novas e possíveis.

Se os corpos são os mesmos, as práticas não precisam ser. Apostar em novas abordagens, em novidades, itens de sex shop, mensagens inusitadas, uma atenção para algo que está sempre em segundo plano… são ótimas vias para que você faça sua parte e procure seu(sua) parceiro(a), demonstrando interesse na vida sexual de vocês – além de, é claro, muito diálogo! Geralmente, parceiros que sofrem com entraves sexuais têm muita dificuldade de conversar livremente sobre o assunto, formam uma espécie de muro, onde o outro fica impossibilitado de acessar seus fetiches, vontades e desejos. Portanto, o diálogo e a atitude para a mudança andam juntos.

Mesmo assim, pode ser que você sinta que seu parceiro ou parceira não está afim de resolver.

Uma relação é uma via de mão dupla. Muitas de nós temos a estranha sensação de controle, de achar que podemos resolver tudo, de querer fazer por nós e pelo outro, mas isso é impossível. Se, mesmo depois de muitas tentativas e diálogos, as coisas não fluírem como o esperado, talvez seja mesmo hora de repensar a relação. Um afastamento temporário pode fazer o casal olhar tudo sob outros pontos de vista, sentir se não se tornaram, mesmo, bons amigos. A partir disso, é possível decidir se querem ficar em uma relação com pouco (ou nenhum) sexo, ou se devem seguir caminhos diferentes. Cada caso, aqui, é um caso: há casais que vivem muito melhor depois daquele fogo inicial da paixão; outros já não suportam uma vida sem sexo. Outros, decidem abrir a relação, viver outras experiências, seguir uma vida menos focada exclusivamente no parceiro. Então, talvez a pergunta diante de uma recusa sexual insistente do seu parceiro ou parceira já não seja o que fazer, e sim o que você quer a partir disso.

FERNANDA CASSIM Sexóloga e Psicanalista, graduada em Psicologia e em Letras, com Mestrado e Doutorado em Linguística e Pós-Graduada em Sexualidade Humana. Dedica sua carreira à educação sexual, empoderando mulheres para desejar e viver com mais prazer e menos tabus. É idealizadora do Podcast Vulvas no Divã, ama comunicação, viagens, linguagens, esportes e artes.

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