O assunto que abalou o Brasil nesta semana foi assassinato do menino Henry com apenas 4 ano de idade. A narrativa dos fatos, nos leva a relembrar o não tão menos famoso caso dos Nardoni, que, por brechas da justiça, já está a gozar dos benefícios de uma lei completamente ultrapassada para os nossos tempos.

Em 3 de janeiro de 2014, Ana Carolina Ferreira Netto, fez um registro por lesão corporal contra o médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho, com que teve um relacionamento de 21 anos. Dias depois, no entanto, alegando que o episódio tratou-se de uma crise de ciúmes, negou querer representar criminalmente contra o parlamentar. Intimada a prestar depoimento no inquérito que apura a morte de Henry Borel Medeiros, a dentista retornou a delegacia e confirmou que fora chutada após desistir de viagem de lua de mel.

Dr. Jairinho chegando na sede da Polinter na Cidade da Polícia

De acordo com o termo de declaração de Ana Carolina, ao qual O GLOBO teve acesso com exclusividade, ela contou que a “infelicidade” e as “traições” de Jairinho geraram um relacionamento “conturbado”, visto que as amantes do vereador a “perseguiam” e a “afrontavam”. Segundo ela, ele sempre teve um perfil de “namorar as amantes”. A dentista disse que o casal namorou por seis anos, morou junto por nove e então marcaram a cerimônia religiosa de casamento para 27 de dezembro de 2013.

Ana Carolina relatou que, dois dias após o enlace, ela estava fazendo as malas para a viagem de lua de mel quando recebeu uma ligação de um número restrito na qual uma mulher a ofendia e dizia que Jairinho, que saira de casa sob a alegação de encontrar um amigo, estava, na verdade, indo encontra-la. A moça contou ter descido até a garagem e encontrado o companheiro no carro, falando com uma mulher no telefone.

O menino Henry, morto aos 4 anos

A dentista lembrou ter dito: “Acabou” e retornado a cobertura onde moravam para desfazer as malas. Ao perceber que a mulher havia desistido da viagem, Jairinho teria a agredido com chutes. Na ocasião, Ana Carolina disse na delegacia que ele o vereador teve um “ataque de fúria”, a segurando pelo braço, a arrastando até a cozinha, a ofendendo e a chutando “por várias vezes com muita força”. Um laudo de corpo de delito confirmou lesões.

Apesar de ter narrado na ocasião que ele “sempre foi violento”, já a agrediu diversas vezes e tentou enforca-la em uma ocasião, ontem a dentista afirmou que esse comportamento violento do parlamentar só ocorreu no dia 29 de dezembro de 2013, negando, inclusive, que ele tenha batido nos dois filhos do casal. Ana Carolina mencionou um episódio de fuga de sua filha, em 2016, mas afirmou que o motivo seria a falta de vontade da menina em participar das aulas de inglês.

Como o EXTRA mostrou, em 2019, vizinhos da família denunciaram que a dentista e a menina sofriam “violências, humilhações, insultos e ofensas” por parte de Jairinho. Uma ligação a Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180) citava xingamentos e barulhos de objetos sendo quebrados no apartamento.

A denúncia foi encaminhada também a Ouvidoria do Ministério Público estadual, que a remeteu a 1ª Central de Inquéritos, que por sua vez acionou o Conselho Tutelar. Um documento assinado pela conselheira Elizabeth do Nascimento Silva Soares, em 22 de agosto daquele ano, afirma que foi feita uma visita à residência do casal. Recebida por Ana Carolina, a profissional relatou que a dentista negou a veracidade do conteúdo da denúncia.

Ela foi notificada e, dias depois, compareceu à sede do Conselho levando a filha. A filha garantiu que o relacionamento dos pais era “normal” e que às vezes eles chegavam a discutir, mas, se assim não fizessem, não seriam um “casal normal”. A adolescente também negou que tenha presenciado a mãe sofrer “algum tipo de violência”.

Mãe de Henry gastou R$ 240 em salão de beleza um dia após enterro

Mas qualquer indício disso ficou obscurecido pelo comportamento da mãe após a morte do menino – ela deu impressionantes sinais de frieza e de uma “vida normal” incompatível com o trauma da perda violenta que sofreu

Conversas por aplicativo de mensagem entre Monique Medeiros, mãe do menino Henry Borel, e a babá dele, Thayná Ferreira, obtidas pela Polícia Civil, indicavam que ela tinha alguma preocupação com agressões sofridas pelo filho de 4 anos. Mas qualquer indício disso ficou obscurecido pelo comportamento da mãe após a morte do menino – ela deu impressionantes sinais de frieza e de uma “vida normal” incompatível com o trauma da perda violenta que sofreu.

Detalhes que vieram à tona na investigação ajudam a conhecer um pouco a professora que trocou o emprego de R$ 4 mil em uma escola na zona oeste do Rio por um cargo de R$ 12 mil no Tribunal de Contas do Município. Também passou a morar com o namorado, Dr. Jairinho, em um condomínio na Barra da Tijuca.

Foi uma mudança e tanto para Monique, que se separou do pai de Henry no ano passado, e foi morar com Dr. Jairinho. Nas conversas com a babá Thayná, a professora parecia dividida. Demonstrava preocupar-se com o que acontecia com o garoto. Mas não deu sinais de ter tomado alguma providência. Na prática, segundo a polícia, permitiu as agressões e se tornou cúmplice dos crimes.

Suas preocupações, aparentemente, eram outras. Quando o caso foi descoberto e passou a repercutir, Monique pediu a amigos e parentes, por WhatsApp, “um grande favor”, segundo revelou a revista Veja. Queria uma declaração escrita sobre como ela se relacionava com o filho. O objetivo era apresentá-la como uma pessoa carinhosa e incapaz de causar mal à criança.

Sem luto

Os relatos apontam, porém, para uma mulher que parece não ter demonstrado sentimentos pela morte do próprio filho de 4 anos. Quando voltou às redes sociais, por exemplo, postou a foto de uma bolsa Louis Vuitton ao lado de copos de café da marca California Coffee. Um dia após o enterro, gastou R$ 240 num salão de beleza. E, antes de prestar depoimento à Polícia, testou mais de um look e consultou o advogado: queria escolher a vestimenta ideal.

A polícia diz não haver indícios de coação de Monique por Dr. Jairinho. Mas a versão não convenceu todo mundo. “Me chamou a atenção um diálogo divulgado entre a mãe e o pai de Henry sobre a reação dele em não querer voltar para casa. Ela parecia atordoada, não parecia só uma dificuldade de lidar com o filho”, aponta Raquel Narciso, coordenadora do Centro de Defesa da Vida (CDVida), voltado para o combate à violência doméstica. “É possível que a mãe de Henry estivesse num relacionamento abusivo, passando por coação.”

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