Você acha que cachaça, pinga e aguardente são a mesma coisa? A história não é bem assim e a diferença entre elas não está simplesmente na nomenclatura que carregam. A aguardente de cana de açúcar, muitas vezes, recebe o nome de cachaça erroneamente. O que difere as duas bebidas é basicamente o nível de graduação alcoólica, que é definido na hora da destilação. No entanto, o processo de fermentação das bebidas é o mesmo.

“Aguardente é o destilado feito da fermentação do suco de caldo de cana de açúcar, com graduação alcoólica entre 38 e 54%”, explica Jairo Martins da Silva, autor do livro Cachaça: o mais brasileiro dos prazeres. A cachaça, por outro lado, é o destilado feito do caldo da cana de açúcar, com graduação alcoólica entre 38 e 48%. Sendo assim, toda cachaça é uma aguardente de cana, mas nem toda aguardente de cana é cachaça.

Outra diferença entre a aguardente e a cachaça é a quantidade de açúcar das duas bebidas. “Quando se adiciona açúcar acima de 6 g/litro, a aguardente não pode ser mais chamada de cachaça e adota o nome de ‘aguardente de cana adoçada’”, explica o engenheiro, que se autointitula cachacista, uma espécie de sommellier das cachaças. Já quando o assunto é pinga, a questão muda. Cachaça e pinga são a mesmíssima coisa. E o que as difere é apenas o nome. Cachaça, que tem origem na palavra espanhola “cachaza” – que designava o mel de borras obtido durante o processo de produção do açúcar, é o nome oficial e pinga é o apelido popular.

No Dia Nacional da Cachaça (13), setor comemora aumento de 62% nas exportações e o impulso no mercado interno

Dados de exportação são do comparativo de janeiro a agosto de 2022 com 2021. Atualmente, a bebida brasileira é exportada para 66 países

No Dia Nacional da Cachaça comemorado nesta terça-feira (13), o setor celebra o impulsionamento no mercado externo e interno.

A variação percentual das exportações de Cachaça realizadas de janeiro a agosto de 2022, no comparativo com 2021, apresentou crescimento de 62,49 % em valor (US$ 13,10 milhões) e de 26,84% em volume (5,9 milhões de litros). Em 2021, nesse mesmo período, foram exportados o equivalente a US$ 8.066.791,00 em valor, e 4.710.930 litros em volume. Os dados são do Comex Stat (Ministério da Economia), compilados pelo Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC), entidade representativa do setor. Atualmente, a Cachaça é exportada para 66 países, principalmente para os Estados Unidos, Alemanha, Portugal e Itália.

No mercado interno, o tamanho do mercado da Cachaça também apresenta evolução. De acordo com relatório anual de bebidas alcóolicas da Euromonitor International, líder global no fornecimento de pesquisa de mercado, no comparativo entre 2021 e 2020, o crescimento foi de 30% em valor (atualmente, um mercado de R$ 15,55 bilhões) e 18% em volume (totalizando 469.725,2 milhões de litros).

Os números precisam ser comemorados e a perspectiva do setor – tanto no mercado externo, quanto interno – é fechar o ano com dados superiores a 2021. Mas é importante alertar que as perdas enfrentadas durante a pandemia foram significativas, em especial no mercado interno, quando o fechamento de bares e restaurantes, e outras restrições ao consumo de bebidas alcoólicas, afetou diretamente o mercado da Cachaça, que tem nesses locais os seus principais canais de distribuição. Esperamos que o cenário positivo continue, e que tenhamos mais motivos para comemorar”, enfatiza Carlos Lima, diretor executivo do IBRAC.

O momento pós-pandemia pode oferecer grandes oportunidades para o setor de Cachaça, à medida que os consumidores se sentem mais confortáveis em voltarem a consumir em bares e restaurantes. Teremos ainda um verão ímpar, com a Copa do Mundo e a volta do Carnaval, criando um cenário que, se bem trabalhado, podemos ver a Cachaça ser alavancada como um dos grandes destilados do mercado nacional”, destaca Rodrigo Mattos, analista de Alcoholic Drinks da Euromonitor International.

Cachaça – da Colônia à Independência do Brasil

O Dia Nacional da Cachaça é uma iniciativa do IBRAC, e já vem sendo comemorado desde 2009 pelo setor produtivo. O projeto de lei que estabelece o 13 de setembro como Dia Nacional da Cachaça está em tramitação no Senado Federal. 

escolha da data tem um motivo histórico: em 13 de setembro de 1661 acontecia a famosa rebelião de produtores brasileiros chamada Revolta da Cachaça.

Em 1635, quando os portugueses notaram que o mercado da Cachaça crescia e o produto tomava o lugar da bagaceira, produzido por eles a partir do bagaço da uva, o rei de Portugal proibiu a produção e a comercialização da Cachaça. Na época, os portugueses chegaram a ameaçar produtores de deportação, apreensão do produto e destruição dos alambiques. O cenário culminou no movimento liderado pelos produtores, o que abriu caminho para a legalização da bebida por Ordem Régia.  

A Cachaça é símbolo da resistência do povo brasileiro, pois enfrentou preconceitos desde a época do Brasil colônia, período no qual teve a sua comercialização proibida por várias vezes. Com mais de 500 anos de história, está ligada aos acontecimentos do Brasil e pode ser considerada o primeiro destilado das Américas, tendo sido produzida, pela primeira vez, de forma intencional, em algum engenho de açúcar do litoral brasileiro, entre os anos de 1516 e 1532, antes mesmo do aparecimento do Pisco, da Tequila e do Rum, explica o executivo do IBRAC.

Expansão no mercado externo

Iniciativas como o projeto setorial de Promoção às Exportações de Cachaça – Cachaça: Taste The New, Taste Brasil, desenvolvido pelo IBRAC em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos – Apex-Brasil, e o Programa de Qualificação para Exportação (PEIEX) Agro Cachaça, desenvolvido pela Agência com o apoio do IBRAC, fazem parte da estratégia para impulsionador a Cachaça no mercado externo.

Perspectivas para o setor

Apesar dos números favoráveis para o setor, o executivo do IBRAC destaca que os esforços da categoria estão relacionados às políticas tributárias nas esferas federal e estadual.

Um dos principais entraves para a categoria é a tributação, principalmente nos estados em que há a sistemática da substituição tributária relacionada ao ICMS. O fim dessa sistemática tem potencial para impactar positivamente uma parcela considerável da categoria, principalmente de micro e pequenos produtores. Alguns estados já acabaram com essa sistemática para algumas bebidas e é importante que o mesmo aconteça para a Cachaça e em uma escala nacional. Saliento que a Cachaça é uma bebida genuinamente brasileira, sendo a primeira Indicação Geográfica do país, e que gera cerca de 600 mil empregos diretos e indiretos”, frisa Lima.

“Neste ano, no qual celebramos os 200 anos da independência, precisamos reforçar a necessidade de um olhar atento, em reduzir esses entraves para garantir a sustentabilidade do setor tanto no mercado interno quanto no externo”, completa.

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