Saúde registra aplicação de doses vencidas de vacina contra a Covid-19 pertencentes a lotes importados da Índia. Segundo apurado, a cidade de Marília teria aplicado 51 doses na instituição Ágape.

Dois jornais de grande circulação no Brasil ( Valor Econômico do grupo Globo e Metrópoles de Brasília ) estão divulgando a informação que vazou já para todo o país e estourou como uma bomba desde a tarde de ontem, sendo repercutido na manhã desta sexta feira (30 ) por uma emissora de rádio local ( Rádio Clube de Marília).

A redação do JORNAL DO ÔNIBUS DE MARÍLIA, devido a gravidade do fato, imediatamente procurou detectar as informações junto aos sites mencionados e acessar o sistema da Ministério da Saúde para reproduzir a matéria de interesse público.

Segundo a informação divulgada até 160 cidades em 23 estados aplicaram vacinas vencidas contra a Covid-19 na população, incluindo a cidade de Marília, de acordo com dados oficiais do Ministério da Saúde. Os microdados de vacinação compilados pela pasta apontam que 1.254 pessoas foram inoculadas com doses de lotes do imunizante da Oxford/AstraZeneca cuja data de expiração já tinha passado.

Para chegar a informação, o (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles, cruzou as informações oficiais sobre vacinas aplicadas ( opendatasus.gov.br/dataset/covid19 ) com os registros de envios de imunizantes para as unidades da federação, onde constam a data de vencimento para cada lote.

O problema envolve as doses de três lotes de vacinas produzidas pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford fabricadas na Índia e importadas prontas pelo Brasil, os lotes 4120Z001, 4120Z004 e 4120Z005. São grupos de imunizantes cuja data de validade, de seis meses, já expirou.

Segundo os dados, Marília é a segunda cidade do estado e a terceira do país que mais aplicou doses vencidas.

Dados da Saúde mostram aplicação de 1,2 mil doses vencidas da AstraZeneca  em 23 estados

Segundo os dados divulgados com a relação das cidades que receberam os lotes, Marília é a terceira cidade do país que mais aplicou doses vencidas e a segunda do estado de São Paulo, perdendo apenas para Dracena, onde o prefeito municipal já admitiu o erro e tomou as devidas providências conforme o vídeo que encabeça esta matéria. Confira a relação de algumas cidades de nosso estado com o número de vacinas aplicadas segundo os dados cruzados e divulgados pelos respectivos sites mencionados;

  • ARAÇATUBA : 01
  • AMERICANA : 08
  • BAURU : 03
  • CAMPINAS : 01
  • LINS : 10
  • MARÍLIA : 51
  • JAÚ : 01
  • RIBEIRÃO PRETO : 01
  • SÃO PAULO : 23
  • DRACENA : 80

Secretário Municipal da saúde não confirma e alega que houve erro no cruzamento de dados.

Prefeito Daniel Alonso confirma que...

Em uma entrevista na manhã de hoje em uma emissora local, o secretário municipal da saúde, Cássio Luis Pinto, negou a possibilidade e afirmou que já havia detectado um problema no cruzamento de dados induzindo a informação dos sites ao erro.

Segundo o secretário, as vacinas são distribuídas pela DRS-São Paulo e são checadas tanto lá como aqui, no momento em que são entregues. No entanto, quando questionado pelo jornalista se houve um contato prévio com o Ministério da Saúde, o mesmo se esquivou e disse que estaria no momento se deslocando para uma reunião para tratar do assunto.

Pelo que foi divulgado na emissora local ( Radio Clube de Marília ) e pelos sites de noticias mencionados, conforme os dados do próprio Ministério da Saúde, o lote aplicado foi o de nº 4210Z001 e teria sido aplicada no mutirão realizado na comunidade Ágape, zona leste da cidade no inicio do mês deste mês de Abril.

Demora na liberação

A vinda dos primeiros lotes da vacina produzidos pelo instituto Serum, da Índia, sofreu com indefinições e idas e vindas. Ainda em 31 de dezembro do ano passado, a Fiocruz pediu e conseguiu autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária ( Anvisa ) para importar 2 milhões de doses.

Apenas para relembrar e confirmar as informações, duas semanas depois, no dia 14 de janeiro, o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, prometeu que um avião partiria do Brasil no mesmo dia para buscar as doses. A aeronave da empresa Azul foi adesivada pela equipe de marketing do governo, mas o voo acabou cancelado, e a Índia só liberou as vacinas na semana seguinte. Elas chegaram em 22 de janeiro, e começaram a ser distribuídas aos estados no dia seguinte.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável pela produção da Covishield no Brasil, apontou que os três lotes envolvidos vieram justamente nesse voo. Elas foram produzidos em outubro do ano passado no país asiático.

A validade

Segundo a bula da vacina no site da Anvisa, a validade do imunizante é de seis meses a partir da data de fabricação, e o produto não deve ser usado após o prazo previsto. “Não use medicamento com o prazo de validade vencido. Guarde-o em sua embalagem original”, diz o documento oficial.

De acordo com o registro no Ministério da Saúde, o lote 4120z001 foi autorizado para ser distribuído em 24 de fevereiro e vencia em 29 de março. A maior parte dos casos de aplicação de vacinas vencidas mapeados pela reportagem se refere a esse lote. Foram 869 casos identificados em cinco estados. Já os lotes 4120Z004 – com 108 casos em cinco estados – e 4120Z005 – 277 casos em 17 Unidades da Federação – foram autorizados em 22 de janeiro e venceram em 13 e 14 de abril, respectivamente.

As doses cujo registro oficial mostra quem estavam vencidas foram aplicadas nos seguintes estados:

Os dados oficiais registram a aplicação de vacinas até 21 dias após o vencimento.

“Erro de procedimento”

A epidemiologista Carla Domingues, que coordenou o Programa Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde entre 2011 e 2019, afirma em entrevista ao Metrópoles que a aplicação de vacinas fora da data de validade “é um erro de procedimento, cuja responsabilidade é de quem está na ponta: o município, a sala de vacina”.

Segundo ela, o sistema público tinha por norma não enviar ao entes federativos vacinas com menos de 3 meses de validade. “Numa situação especial, como agora, pode-se flexibilizar para um mês, mas precisa haver agilidade”.

“Não há autorização ou previsão para a aplicação fora da validade, as vencidas têm que ser desprezadas”, acrescentou. A especialista afirma ainda que há casos em que pode ser pedido à Anvisa a revalidação de datas de validade, mas que a decisão precisa ser baseada em critérios técnicos.

Procurada, a agência informou não ter recebido nenhum pedido nesse sentido e reforçou que “as condições de conservação, armazenamento e prazo de validade descritos em bula são baseados nos estudos de estabilidade e devem ser seguidos para garantir a qualidade de vacinas e medicamentos”.

O que pode acontecer

Ainda de acordo com a epidemiologista Carla Domingues, o problema da aplicação de vacinas vencidas é a possível perda de eficácia do princípio ativo. “Em princípio, um dia, dois dias, uma semana, não vai fazer diferença. Mas isso é teoricamente, e essa aplicação, se houve, não deixa de ser erro de procedimento, que não deve se repetir”, afirma ela.

Domingues afirmou ainda que, como no caso em que grávidas e crianças foram vacinados por engano contra a Covid-19, o indicado é que as autoridades acompanhem a saúde das pessoas durante algum tempo. “Por segurança. Em princípio, não há riscos à saúde, mas a chance de alguma perda de eficácia.”

Questionado sobre possíveis consequências de vacinas vencidas, a Fiocruz respondeu que podem ocorrer “eventos adversos, incluindo a inefetividade terapêutica”.

A Secretaria de Saúde do Maranhão apontou que, “nos estudos já realizados, os riscos da administração da vacina com prazo de validade vencido são a ocorrência de eventos considerados leves como dor e edema no local da aplicação, além da redução na eficácia da vacina”.

Cidades do Sul de Minas podem ter aplicado doses trocadas de vacinas da  Covid-19 | Sul de Minas | G1
Reaplicação da vacina em Dracena

Uma das cidades em que os dados oficiais mostram a aplicação de doses vencidas é Dracena, distante 196 quilômetros de Marília, que recebeu a maior quantidade de vacinas em todo o estado de São Paulo.

A cidade foi procurada pelo Metrópoles na terça (20/4) e não respondeu, mas nesta sexta (23/4), o prefeito do município, André Lemos (Patriota), admitiu que 80 pessoas foram inoculadas com doses vencidas, todas do lote 4120Z001. Esse é o mesmo número identificado no cruzamento realizado pela reportagem. “As vacinas da AstraZeneca chegaram ao município com um prazo de validade muito curto, de aproximadamente 30 dias”, afirmou o o chefe do executivo local.

A cidade irá vacinar novamente as pessoas que receberam as doses desse lote após o vencimento. Já pelos lados da cidade de Marília, até o momento da publicação desta matéria, nenhuma nota oficial havia sido publicada ou vídeo gravado, como de costume, pela administração municipal ou pela secretaria da saúde.

Dentro do nosso já tradicional espirito democrático e imparcial na busca sempre das informações fidedignas e verdadeiras, desde já, deixamos o espaço aberto para a manifestação e esclarecimento da secretaria municipal da saúde de Marília, até mesmo para tranquilizar a população e os que foram vacinados. As dúvidas são; “Se houve realmente a falha, seguirão o mesmo procedimento da cidade de Dracena ? Existe um controle dos nomes e consequentemente já há como monitorar estas pessoas ???

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