Essa matéria inaugura uma série de informações sobre fake news e é focada em eleições, redes sociais, pesquisas e urna eletrônica. Além de dicas e informações de especialistas e da equipe do Fato ou Fake, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) explica o que está sendo feito para filtrar e combater as mensagens falsas neste período.

Com o início da campanha eleitoral na ultima terça-feira (16), mais mensagens falsas deste tema circulam na internet. Na eleição presidencial de 2018, por exemplo, o Fato ou Fake desmentiu 114 mensagens relacionadas ao pleito. Se considerarmos também as informações ditas pelos próprios candidatos, o número de fakes é ainda maior: 700. A maioria delas colocava em dúvida a legitimidade do processo eleitoral ou disseminava dados mentirosos sobre os políticos.

Mas qual o impacto das fake news nas eleições? Como a Justiça Eleitoral lida com esse tema no Brasil?

Para responder a essas perguntas e entender o que tem sido feito por parte das plataformas digitais no combate à desinformação, o JORNAL DO ÔNIBUS DE MARILIA lança à partir deste sábado ( 20) informações focadas em eleições, redes sociais e urna eletrônica. Até o fim do processo eleitoral, nossa redação e especialistas explicarão: como os criadores de fake news tentam enganar as pessoas; se é crime ou não compartilhar mentiras; e por que as pessoas acreditam nelas.

Processo eleitoral e desinformação

Segundo o cientista político Vitor Marchetti, as fakes sobre política tentam atingir a legitimidade do sistema eleitoral.

“A fake tenta lidar com a ideia, a hipótese de que há interesses que manipulam os processos eleitorais a favor de algum candidato e em desfavor de outro”, explica Marchetti.

Vitor Marchetti, cientista político — Foto: Arquivo pessoal

Vitor Marchetti, cientista político — Foto: Arquivo pessoal

“Desacreditar o processo eleitoral passa por desacreditar a urna eletrônica como possibilidade de manipulação do voto. As fake news relacionadas à urna eletrônica tentam minar essa confiança do eleitor de que a verdade eleitoral vai ser traduzida na hora do voto. […] Boa parte das fakes têm a ver com um discurso mais geral contra o sistema”.

O professor também reforça uma dica-chave para não ser enganado por esse tipo de mensagem. “Um caminho seguro é sempre tentar identificar a fonte daquele conteúdo, a origem da notícia. Geralmente, a imprensa já apurou e tem os mecanismos de checagem. Então, […] tende a ser uma notícia mais confiável”.

Sabrina Almeida, pesquisadora e cientista política — Foto: Reprodução/g1

Sabrina Almeida, pesquisadora e cientista política — Foto: Reprodução/g1

Segundo a pesquisadora e cientista política Sabrina Almeida, quando uma mensagem falsa é compartilhada por um político ou uma personalidade, o dano no processo democrático é maior, porque há quem use a desinformação como estratégia de campanha. Em Marília já existe o registro de casos neste sentido.

“Muito do que a gente pesquisa é que parte dessas mensagens [falsas] são difundidas pelas [próprias] autoridades políticas. E, ao mesmo tempo, isso é utilizado como uma estratégia de manter a sua base engajada, e de muitas vezes deslegitimar o processo democrático”, diz a pesquisadora.

Crime eleitoral e perda de mandato

O candidato e o partido político têm a obrigação de confirmar que as informações usadas durante a campanha são verdadeiras, mesmo aquelas produzidas por terceiros. Se usarem dados falsos, podem responder por crime eleitoral, com pena de prisão ou multa.

A desinformação também pode ser entendida como abuso de poder midiático, que inclui a perda de mandato, como explica Victor Andrade, analista jurídico do TSE ( Tribunal Superior Eleitoral ).

“A desinformação já é tratada como uma discussão jurídica hoje, não afeta só a moral. Nós temos a resolução que trata da propaganda eleitoral e que já traz, inclusive, previsão de punição, deixando claro o caráter ilícito da desinformação em campanhas eleitorais“, diz.

“Essa responsabilização pela desinformação pode ser entendida como um abuso de poder midiático, que se encaixa na lei complementar 64/90, no artigo 22, que inclui a perda de mandato.”

O Código Penal brasileiro prevê sanções ligadas a boatos e mentiras: são os chamados crimes de honra (calúnia, difamação e injúria). — Foto: Getty Images

O Código Penal brasileiro prevê sanções ligadas a boatos e mentiras: são os chamados crimes de honra (calúnia, difamação e injúria). — Foto: Getty Images

Além dessas punições específicas, o Código Penal brasileiro também prevê sanções ligadas a boatos e mentiras; são os chamados crimes de honra (calúnia, difamação e injúria). Esse é o caso das fakes.

Comitê permanente do TSE

Além de responsabilização e punição, o TSE criou em 2021 um comitê permanente para combater as fakes, construir processos de inovação e criar um diálogo com parceiros. O grupo desenvolve ações focadas na educação digital do eleitor.

“A nossa preocupação em relação à desinformação é que já se percebe que ela tem uma capacidade de influenciar na vontade do eleitor, que a partir desses das informações equivocadas e descontextualizadas, toma uma decisão política que não tomaria se tivesse [acesso a] informações legítimas”.

O que fazer para evitar cair em fake news?

Os especialistas dão uma série de dicas simples de como evitar cair nas armadilhas das mensagens falsas. Veja abaixo as principais:

  • Procurar informações e opiniões contrárias às nossas: “Você vai votar no candidato 1? Legal. Entra no candidato 2 e vê o que ele está falando também. Tenha contato com informações que são aparentemente incompatíveis, pois isso vai lhe dar uma opinião mais sensata e equilibrada”, diz o psicólogo Cristiano Nabuco, do Instituto de Psiquiatria da USP.
  • Reler as informações: “Sempre que eu leio alguma coisa que eu sinto que fiquei muito irritado, que me deixou indignado, eu falo: ‘Opa, estão atuando em cima de mim. Vamos devagar. Vamos ler isso de novo. Será que isso é verdade? Isso que está escrito é factível? Será que, de fato, esse candidato ou essa pessoa falaria isso?'”
  • Checar as informações em várias fontes: “Cruzar informações, buscar a origem e ter certeza”, diz Nabuco. “Faça uma leitura lateral. Abra uma aba do lado e pesquise. Será que algum jornal falou isso?”, diz Yurij Castelfranchi, professor da UFMG.
  • Jogar um trecho da mensagem em um buscador: “Veja se aquele trecho já aparece em outras fontes. Eu sei que a maioria das pessoas que acredita em fake news não confia nos jornalistas, mas a mídia é diversa. Se ninguém fala não é porque todo mundo esconde, é porque é mentira”, diz Castelfranchi.
  • Não compartilhar caso tenha dúvida: “Na dúvida, não passar adiante, pois você também faz parte desse processo”, diz Nabuco.
  • Manter-se informado: Nabuco afirma que estar por dentro dos acontecimentos também ajuda a desconfiar e a não cair em informações falsas.

Justiça Eleitoral oferece ferramentas para combater a desinformação

TSE e parceiros já desmentiram uma série de notícias falsas disseminadas na internet sobre o processo eleitoral

Você está por dentro do processo eleitoral? O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) oferece diversas ferramentas e páginas virtuais que permitem a qualquer cidadã ou cidadão ficar por dentro de como funciona o sistema eletrônico de votação e se prevenir contra a disseminação de notícias falsas e desinformação durante as Eleições 2022.

Uma delas é a página Fato ou Boato, que desmente diversas inverdades propagadas pela internet contra o sistema de votação. Outro espaço virtual relevante para consulta é a página Urna eletrônica e a segurança do processo eleitoral. Ambas as páginas rebatem as notícias falsas fornecendo informações corretas e verdadeiras, provenientes da Justiça Eleitoral e divulgadas por mais de 150 parceiros do Programa Permanente de Enfrentamento à Desinformação.

Combate às fake news

O aumento significativo do uso das redes sociais, com a propagação de informações sem checagem nos canais digitais, fez crescer de forma preocupante o número de notícias que não têm compromisso com a verdade e induzem interpretações errôneas.

Para diminuir essa percepção, o TSE desenvolveu junto ao WhatsApp um o chatbot ( assistente virtual ). A ferramenta foi criada para promover o acesso a informações sobre o processo eleitoral, bem como fornecer dados dos Portais do TSE e dos TREs, de forma gratuita.

Para ter acesso ao chatbot é simples: basta adicionar o telefone +55 61 9637-1078 à sua lista de contatos do WhatsApp ou acessar por meio do link wa.me/556196371078. Aí é só mandar uma mensagem para o assistente virtual e começar o diálogo e receber as informações.

Além disso, no portal há também um espaço específico que informa as ações desenvolvidas pelo Programa Permanente de Enfrentamento à Desinformação da Justiça Eleitoral. O campo destaca as principais iniciativas implantadas pelo TSE e parceiros para combater os efeitos negativos provocados pela disseminação de notícias falsas.

Outras ações

No Portal do TSE, eleitoras e eleitores ainda podem encontrar inúmeras informações sobre a credibilidade do processo eleitoral brasileiro e sobre as diversas etapas de auditoria e fiscalização do sistema eletrônico de votação por entidades públicas, privadas e profissionais. No mês de junho, o TSE publicou a série #DemocraciaEmPílulas, que destaca as ações do Tribunal no enfrentamento da desinformação, entre outros assuntos. O JORNAL DO ÔNIBUS DE MARILIA É PARCEIRO DESTA INICIATIVA.

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