Sintomas combinados, como enjoos constantes e mudanças bruscas de comportamento, podem indicar que a criança está em perigo

As imagens ou denúncias chocam quando se tornam públicas. Casos divulgados pela imprensa acabaram até com a prisão de uma dona de creche em Goiânia no ano de 2010, sob acusação de torturar crianças de 0 a 2 anos. Poucos dias depois, em um programa de televisão, as próprias mães das crianças vitimadas levantaram o pesadelo de todas as mães ao se perguntar: como não percebemos antes?

Passados mais de 14 anos, podemos considerar a lição não foi assimilada em a preocupação continua. Outros casos foram registrados comprovando a tese de que nem todas as escolas privadas dispensam os cuidados necessários às crianças. Não existe lei municipal que obrigue, por enquanto o monitoramento por câmeras e muitas escolas ou hotéis infantis, funcionam na clandestinidade ou possuem mão de obra não qualificada.

De acordo com Anna Christina Mello, psicóloga da Vara da Infância e da Juventude do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, os sinais nem sempre são claros. Ela diz que nem todas as vezes a violência na escola leva a machucados visíveis. “No caso de uma criança menor, ela pode ser sacudida, o que não deixa marcas”, descreve.

A pediatra Renata Waksman, coordenadora do Núcleo de Estudos da Violência Doméstica contra a Criança e o Adolescente da Sociedade de Pediatria de São Paulo, aponta que as crianças que sofrem de algum tipo de violência tendem a mostrar mudanças de comportamento. Ela diz que essas crianças podem começar a desconfiar do contato de adultos, a ficar mais alertas e a ter um comportamento antissocial. “Passar por uma situação de muito estresse pode se refletir no sono e no comportamento alimentar”, completa.

Diego Vale, defensor público e membro da diretoria da Associação Brasileira de Magistrados, Promotores de Justiça e Defensores públicos da Infância e da Juventude, acrescenta à lista de sinais o desinteresse repentino em ir para a escola. “A atenção dos pais não deve estar somente ligada às crianças, mas também aos educadores e aos profissionais da escola”, diz Diego.

A psicóloga, a pediatra e o advogado concordam que os pais devem prestar atenção em comportamentos diferentes da criança. “Às vezes ela repete palavras agressivas nas brincadeiras. Se essas palavras não são ditas em casa, é preciso sabe de onde vieram”, diz Waksman.

Machucados sem explicação

“Os pais precisam conhecer o desenvolvimento da criança. Como ela cai, como são os machucados que ela costuma ter”, diz Waksman. Ela e Anna Christina Mello aconselham os pais a dar uma “varredura” no corpo das crianças quando elas voltam da escola, creches ou hotéis infantis.

Se o pai descobrir algum tipo de machucado, a primeira coisa a fazer, segundo elas, é perguntar para a criança o que aconteceu. Anna ressalta que os pais devem olhar na agenda das crianças – ela deve ser a base da comunicação entre casa e escola e tem de explicar qualquer alteração de rotina na escola, inclusive quedas, incidentes ou brigas com amiguinhos.

“Se a explicação for estranha e não parecer condizente com a realidade do machucado, os pais podem ficar mais atentos”, diz a pediatra. Conversar com a professora ou responsável pela creche e fazer visitas surpresa são algumas atitudes recomendáveis.

Assim que os pais perceberem algum tipo de machucado diferente (e não explicado) no corpo da criança, acompanhado de mudanças de comportamento, o que deve se fazer é falar com a escola. Diego e Anna Christina explicam que as atitudes legais dependem da gravidade do ocorrido. Se a criança sofreu algum tipo de violência mais severa, por exemplo, o correto a fazer é levá-la para fazer o exame de corpo de delito na polícia.

Prevenção

Antes que qualquer dessas coisas aconteçam, é imprescindível que as crianças tenham confiança nos adultos. Renata recomenda aos pais manter um caminho de comunicação aberto para falar com seus filhos. Assim, se eles sofrerem qualquer tipo de abuso, o caminho natural será contar para os pais.

“A criança tem que ser ensinada e orientada, desde cedo, que ninguém pode maltratá-la. Ninguém tem o direito de fazer com que ela chore e se sinta mal. E tem que ser dito que, se ela perceber que isso está acontecendo em qualquer lugar, ela deve denunciar”, completa Renata.

Observe que tipos de atitude do seu filho podem indicar que ele sofre algum tipo de violência

1. Ansiedade e tentativa de esconder algum machucado

2. Agressividade ou irritação anormal em brincadeiras

3. Desinteresse repentino pela escola ou por atividades que sejam ligadas a ela

4. Receio de se aproximar de adultos ou comportamento antissocial

5. Sono excessivo ou enjoo recorrente depois que volta da escola

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