“Um dos grandes desafios dos professores da educação básica é ensinar a leitura para os alunos, mas ensinar não só a decifrar códigos, e sim a ter o hábito de ler. Seja por prazer, seja para estudar ou para se informar, a prática da leitura aprimora o vocabulário e dinamiza o raciocínio e a interpretação. Infelizmente, com o avanço das tecnologias do mundo moderno, cada vez menos as pessoas interessam-se pela leitura”.

Um ato de grande importância para a aprendizagem do ser humano, a leitura, além de favorecer o aprendizado de conteúdos específicos, aprimora a escrita. O contato com os livros ajuda ainda a formular e organizar uma linha de pensamento. Dessa forma, a apreciação de uma obra literária é uma aliada na hora de elaborar”.

“O hábito da leitura pode também funcionar como um exercício de fixação, pois boa parte dos assuntos estudados na escola é ensinada apenas na teoria. Além disso, durante a leitura, é possível notar faces diferentes de um mesmo assunto, descobrindo um mundo novo, cheio de coisas desconhecidas.”

A resolução de “ler mais” é, talvez, uma das mais populares quando se fala em promessas para o ano que começa. Teoricamente é simples. Não há necessidade de ferramentas complexas ou conhecimentos inacessíveis. Na prática, os espaços de tempo no dia a dia são cada vez mais competitivos para o excesso de tarefas que nos cercam e nos seguem.

A era digital trouxe um infinito de facilidades, a internet nos aproximou do resto do mundo, colocou à nossa disposição uma quantidade de conhecimentos e informações tão imensa que, por termos as respostas para quase tudo à mão, não conseguimos as respostas para muita coisa. A distração é um dos grandes problemas do mundo moderno. Se até apaixonados pela leitura se vêm numa rotina bem diferente da rotina de dez, quinze anos atrás, imagina quem já tinha dificuldade de se concentrar e pegar um livro antes da distração da “internet sempre à mão”.

Apenas para lembrar, o mister das redes sociais, Mark Zuckerberg, CEO e fundador do Facebook, publicou um post no seu próprio perfil no dia 3 de janeiro de 2015, exatamente com a resolução de ler mais. O projeto pessoal, porém, trouxe, na ocasião, algumas especificidades notáveis. Segundo ele, a ideia surgiu com a combinação de algumas sugestões de resoluções para aquele ano. Um amigo sugeriu aprender sobre uma nova cultura do mundo a cada semana, outra sugeriu terminar um livro por mês, outros tantos seguidores indicaram até ler a Bíblia.

Eis que surgiu a ideia de ler um livro a cada duas semanas e gerar discussão sobre o mesmo. Mark criou então a página A Year Of Books (Um ano de livros), onde ele mesmo postava as informações sobre cada obra que começar e deixar o espaço de comentários aberto para a troca de ideias. Os comentários eram moderados, dando-se preferência apenas aos de quem leu e aos que realmente agreguem conteúdo para o debate. Ele também especificou que a ênfase era aprender sobre diferentes culturas, crenças, histórias e tecnologias.

A página, definida como o maior clube do livro do mundo, apenas no primeiro mês já possuía mais de 220 mil curtidas e foi elogiadíssima em diversos blogs e colunas internacionalmente. A importância da leitura foi um dos temas mais revisitados.

Durante a pandemia, o hábito voltou a crescer mundialmente, mas infelizmente caiu novamente, cedendo espaço a tecnologia do mais fácil na palma da mão. Mesmo assim, O JORNAL DO ÔNIBUS DE MARÍLIA, “O NOSSO JORNAL”, não desiste e insiste na melhor ferramenta para o saber e o exercício da massa cerebral. Para tanto, lançamos um desafio para você leitor (a) diferenciado (a) de nosso site, com a indicação de alguns livros que poderão fazer parte do seu dia a dia no transcorrer deste ano.

“É comum algumas pessoas dizerem que não têm paciência para ler um livro, no entanto, é tudo uma questão de hábito, de transformar a leitura em prazer. Vale lembrar que, além dos livros didáticos, previstos em diversas etapas dos estudos, é importante buscar outras obras de interesse, independentes do conteúdo.”

VOCÊ CONSEGUE: Indicamos os 20 melhores livros para ler em 2023

Reunimos aqui dicas de leitura bastante ecléticas com títulos de praticamente todos os gêneros. Também não nos restringimos a um tempo histórico ou a um país específico, o nosso único critério foi recomendar livros que façam a diferença no seu ano. CRIE ESSE HÁBITO, “LER FAZ BEM”.

1. O Despertar de Tudo, de David Graeber e David Wengrow

livro O despertar de tudo

Lançado no Brasil em agosto de 2022O Despertar de Tudo é de autoria dos historiadores David Graeber e David Wengrow.

O livro lança um novo olhar sobre a história da humanidade, trazendo aspectos pouco conhecidos para traçar uma linha do tempo histórica desde o surgimento da agricultura até os dias contemporâneos. Assim, trata de assuntos como a desigualdades, democracia, liberdade e escravidão.

Pouco tempo depois de publicada, a obra já se tornou um sucesso de vendas e vem recebendo elogios da crítica especializada.

2. Quando deixamos de entender o mundo, de Benjamín Labatut

Quando deixamos de entender o mundo , de Benjamín Labatut

Esse é um livro de contos publicado em 2022 pelo chileno Benjamín Labatut que promete muitas reflexões.

Cada uma das histórias é sobre pessoas que revolucionaram a ciência e a humanidade com suas descobertas, como por exemplo Einstein e Schrödinger.

Usando fatos biográficos desses pensadores e aliando à narrativas ficcionais, Benjamín cria universos cheios de tramas e relações entre a vida particular e o trabalho científico.

3. O som do rugido da onça, de Micheliny Verunschk

o som do rugido da onça

Vencedor do Prêmio Jabuti de 2022, esse romance da pernambucana Micheliny Verunschk traz uma mistura de poesia, ficção e textos jornalísticos para traçar um panorama da história de exploração e desamparo dos povos indígenas no Brasil.

A narrativa conta sobre Iñe-e e Juri, duas crianças indígenas que são sequestradas no século XIX e levadas para a Europa. Um livro emocionante que traz uma faceta difícil da história do Brasil e que fala sobre pertencimento e identidade.

4. A filha perdida, de Elena Ferrante

A filha perdida livro

Esse romance da escritora italiana Elena Ferrante foi publicado em 2006 e ganhou uma bela adaptação para o cinema no final de 2021.

A autora, que mantém sua identidade em sigilo, trabalha questões difíceis e polêmicas que permeiam o universo das mulheres.

Em A filha perdida, a protagonista é Leda, uma mulher madura que decide viajar sozinha para o litoral da Grécia. Lá se depara com uma família que acaba tirando sua paz.

Leda conhece Nina e sua filha Elena. A dinâmica entre a jovem mãe e a criança desperta memórias dolorosas em Leda e sentimentos conflituosos acerca de sua própria relação com as filhas.

Um livro corajoso, com uma narrativa potente que apresenta a ideia de maternidade e família de uma maneira realista e crua.

5. Solitária, de Eliana Alves Cruz

capa do livro Solitária

Solitária é um romance da escritora carioca Eliana Alves Cruz que foi lançado em 2022 e faz um recorte bem específico para contar os dramas e desafios de uma importante parcela da população que costuma ser ignorada, a das empregadas domésticas.

A trama traz as protagonistas Eunice e Mabel, mãe e filha, que vivem em um insalubre quarto de empregada na casa de seus patrões ricos.

Assim, a autora aborda temas cruciais como justiça, exploração do trabalho, sobretudo da mulher, além de traçar um paralelo entre o presente e o passado escravocrata no Brasil.

O romance ganhou a atenção da também escritora Conceição Evaristo, que disse: “Eliana narra com a maestria da linguagem de alguém que sabe lidar com as palavras.”

6. Memória de Ninguém, de Helena Machado

memoria de ninguem livro de helena machado

Helena Machado nos presenteia com uma história sobre perdas, memórias e relações familiares nesse romance lançado em 2022. A protagonista é uma mulher que, após perder o pai, volta à casa que viveu na infância e precisa lidar com lembranças e traumas antigos.

Com uma escrita envolvente e fluida, a autora nos convida a entrar na vida dessa personagem – sem nome – e olhar também para a nossa própria história.

7. Torto arado, de Itamar Vieira Junior

Torto arado

O primeiro romance do escritor baiano Itamar Vieira Junior arrebatou uma série de prêmios importantes como o Jabuti de Literatura e o Prêmio Leya de Livro do Ano e foi lançado em 2019.

Passado no sertão baiano em um contexto rural, conhecemos uma família de descendentes de escravos que segue sendo explorada – apesar da lei Áurea já ter sido assinada há mais de 100 anos, em 1888.

As duas protagonistas, as irmãs Bibiana e Belonísia, lidam de formas bastante distintas com a condição em que vivem ao lado da família. Enquanto Bibiana tem uma postura mais conformada com o destino, Belonísia é revoltada com a condição em que a família vive e deseja com todas as forças lutar pela terra onde trabalham.

Quando retirei a faca da mala de roupas, embrulhada em um pedaço de tecido antigo e encardido, com nódoas escuras e um nó no meio, tinha pouco mais de sete anos. Minha irmã, Belonísia, que estava comigo, era mais nova um ano. Pouco antes daquele evento estávamos no terreiro da casa antiga, brincando com bonecas feitas de espigas de milho colhidas na semana anterior.

Num contexto marcado pelo preconceito racial e de gênero, pelo conservadorismo e sobretudo pela exploração, Belonísia sente que o seu papel é lutar pela emancipação dos trabalhadores explorados e oprimidos.

Torto arado é um livro corajoso que pretende fazer um retrato da vida rural da Bahia.

8. Tempos ásperos, de Mario Vargas Llosa

Tempos asperos

O escritor peruano, que é Prêmio Nobel da Literatura, dessa vez resolveu contar para o público uma história que se passou no tempo da Guerra Fria e mistura realidade e ficção.

A obra fala sobre o golpe político que aconteceu na Guatemala, nos anos 50, e sobre as consequências sociais não só para o país como para a América Latina como um todo.

Embora desconhecidos do grande público, e apesar de figurarem de maneira muito pouco ostentosa nos livros de história, provavelmente as duas pessoas que mais influenciaram o destino da Guatemala e, de certa forma, de toda a América Central no século XX foram Edward L. Bernays e Sam Zemurray, dois personagens que não podiam ser mais diferentes entre si por sua origem, seu temperamento e sua vocação.

Lançado no final de 2020, esse romance histórico é uma aposta do escritor peruano para tentar entender melhor o mundo contemporâneo em que vivemos.

Para Vargas Llosa, a queda do presidente da Guatemala (Jacobo Árbenz), eleito democraticamente, foi fundamental para a radicalização política que vigora cada vez com mais força até os dias de hoje.

O antigo presidente Árbenz caiu graças a um golpe militar cautelosamente orquestrado, deixando a Guatemala numa perigosa situação política e social.

9. Tudo sobre o amor, de bell hooks

tudo sobre o amor, livro de bell hooks

A intelectual e ativista afro-americana bell hooks é um daqueles nomes que deveriam ser conhecidos por todos. Falecida no final de 2021, ela deixou como legado uma obra potente que busca a transformação do mundo em diversos âmbitos, olhando principalmente para a questão de raça e gênero.

Tudo sobre o amor: novas perspectivas, lançado no início de 2021,traz o pensamento da autora sobre esse sentimento tão conhecido e ao mesmo tempo complexo que envolve as relações entre casais, amigos e familiares.

De maneira afirmativa e embasada, bell hooks relaciona o amor à uma atitude política que deve estar presente em nossas vidas de maneira natural.

Amor-próprio é a base de nossa prática amorosa. Sem ele, nossos outros esforços amorosos falham. Ao dar amor a nós mesmos, concedemos ao nosso ser interior a oportunidade de ter o amor incondicional que talvez tenhamos sempre desejado receber de outra pessoa.

10. A cachorra, de Pilar Quintana

Livro A cachorra de Pilar Quintana

Lançado em 2020 no Brasil, esse é um romance visceral da colombiana Pilar Quintana, voz importante na literatura contemporânea da América Latina.

Exibe a história de Damaris, uma mulher humilde que divide sua vida com Rogelio, mas sente uma profunda solidão e frustração por não ter conseguido gerar filhos.

Assim, ela resolve adotar uma cachorra, o que a colocará diante de situações e emoções intensas e contraditórias, como é comum também na maternidade.

Escrito durante o puerpério da própria autora, ou seja, pouco depois dela dar à luz, A cachorra foi recebido com muito entusiasmo pela crítica e público, ganhando o prêmio Biblioteca de Narrativa Colombiana em 2018.

O casebre em que moravam era de madeira e estava em mau estado. Quando caía uma tempestade, tremia com os trovões e balançava com o vento, a água entrava pelas goteiras do teto e pelas frestas nas tábuas das paredes, tudo ficava frio e úmido, e a cadela punha-se a choramingar.

Fazia muito tempo que Damaris e Rogelio dormiam em quartos separados, e nestas noites ela se levantava depressa, antes que ele pudesse dizer ou fazer algo.

Tirava a cachorra da caixa e ficava com ela na escuridão, acarinhando-a, morta de susto por causa das explosões dos raios e da fúria do vendaval, sentindo-se diminuta, menor e menos importante no mundo do que um grão de areia do mar, até que a cachorra se aquietava.

11. Para Viver Em Paz o Milagre da Mente Alerta, de Thich Nhat Hanh

Para viver em paz o milagre da mente alerta

Para os que se interessam por práticas meditativas e buscam desacelerar da rotina estressante, esse é um livro que certamente fará diferença.

Publicado em 1975, é considerado uma espécie de “manual” sobre meditação, a obra é do mestre zen vietnamita Thich Nhat Hanh, falecido aos 95 anos no no início de 2022.

Com exercícios práticos, o autor nos orienta pelos caminhos da mente, nos ajudando a desenvolver um olhar apurado para o momento presente, buscando despertar em nós a atenção plena de maneira objetiva e amorosa.

12. Os da minha rua, de Ondjaki

ondjaki os da minha rua

Ondjaki é o pseudônimo do escritor Ndalu de Almeida, um dos maiores nomes da literatura contemporânea angolana.

O livro Os da minha rua, de 2007 reúne breves histórias independentes que traçam um panorama da infância vivida pelo autor em Luanda.

O Jika era o mais novo da minha rua. Assim: o Tibas era o mais velho, depois havia o Bruno Ferraz, eu e o Jika. Nós até às vezes lhe protegíamos doutros mais velhos que vinham fazer confusão na nossa rua. O almoço na minha casa era perto do meio-dia. Às vezes quase à 1h.

Com um forte teor autobiográfico, o livro consegue ser ao mesmo tempo pessoal e universal. Ele fala de uma infância específica, embora cause também muita identificação com todos nós.

13. O dilema do porco-espinho, de Leandro Karnal

O dilema do porco-espinho, de Leandro Karnal

O livro do historiador Leandro Karnal gira em torno de uma das maiores questões contemporâneas: a solidão.

A obra não enfoca apenas na solidão literal – no estar sozinho propriamente dito – mas também na sensação de solidão que persiste mesmo quando estamos acompanhados.

Em O dilema do porco espinho, de 2018,vemos um apanhado de ensinamentos recolhidos de diversos filósofos e pensadores – retirados inclusive da própria Bíblia – e nos perguntamos: por que nos sentimos sozinhos? A solidão é necessariamente má? Como podemos processa-la de modo saudável?

A explicação do título do livro pode ser encontrada já nas primeiras páginas e é um mote que guiará toda a narrativa:

Somos uma espécie de porco-espinho, pensava o filósofo Arthur Schopenhauer. Por quê? O frio do inverno (ou da solidão) nos castiga. Para buscar o calor do corpo alheio, ficamos próximos dos outros. Efeito inevitável do movimento: os espinhos nos perfuram e causam dor (e os nossos a eles). O incômodo nos afasta. Ficamos isolados novamente. O frio aumenta, e tentamos voltar ao convívio com o mesmo resultado.
A metáfora do filósofo alemão trata do dilema do humano: solitários, somos livres, porém passamos frio. A dois ou em grupo as diferenças causam dores.

14. Felicidade Clandestina, de Clarice Lispector

Felicidade clandestina

A reunião de contos intitulada Felicidade clandestina não é nova – na verdade foi lançada em 1971 -, mas merece ser lembrada aqui devido a sua beleza e profundidade.

A obra reúne 25 textos curtos e tem como tema o amor, a família, a solidão, a estranheza, as angústias existenciais e o descompasso com mundo.

A escrita – muitas vezes composta em estilo fluxo de consciência e com um traço autobiográfico – deixa ver a marca da autora Clarice Lispector.

Com a sua sensibilidade ímpar lemos, por exemplo, o conto Amor, narrado em terceira pessoa, que traz como protagonista Ana, uma mulher comum: mãe, esposa, dona de casa, com um cotidiano simples.

Um belo dia, andando de bonde, Ana vê um cego mascando chiclete. Dessa imagem surge um profundo questionamento existencial que a inquieta e a faz considerar todos os aspectos da sua vida pessoal. Amor é uma pequena obra-prima de Clarice Lispector.

Indicamos a leitura de Felicidade clandestina a espera que você se delicie com pérolas como os contos O ovo e a galinha, Menino a bico de pena e Restos do carnaval.

Conheça mais sobre o livro Felicidade Clandestina.

15. Terra Sonâmbula, de Mia Couto

Terra sonambula

Considerado dos doze melhores livros africanos do século XX, Terra Sonâmbula talvez seja o livro mais consagrado do escritor moçambicano Mia Couto.

Vale lembrar que o autor recebeu em 2013 o Prêmio Camões, o mais importante galardão da literatura de língua portuguesa.

Publicado em 1992Terra Sonâmbula está dividido em onze capítulos e lembra muito a escrita de Guimarães Rosa – além de ser extremamente poética, é intimamente relacionada à sua terra.

O título faz uma referência à situação política e social de Moçambique, que passou por uma dura guerra civil durante anos a fio (1977-1992). Sonâmbula é uma maneira de sublinhar como aquele território não teve descanso.

Com uma história que mescla sonho e realidade, ficamos conhecendo os protagonistas Muidinga e Tuahir. O primeiro personagem perdeu a memória e o segundo é um velho sábio da região que passa a guiar Muidinga depois da guerra.

Conhecido por compor uma prosa regionalista, que se apropria da linguagem local e das lendas e mitos da região, o romance irá conduzi-lo por horizontes inimagináveis.

16. Toda poesia, de Paulo Leminski

Toda poesia, de Paulo Leminski

Publicado em 2013Toda poesia, do brasileiro Paulo Leminski, reúne a enorme produção do poeta em um só lugar.

Se você é amante de poesia ou pelo menos tem curiosidade acerca dos versos, vale a pena se debruçar sobre esse título que é considerado das maiores antologias já publicadas no país.

O livro abarca poemas já conhecidos do grande público como “Incenso fosse música”:

isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além

Mas também traz a tona uma série de escritos que pareciam ter se perdido no tempo em publicações pontuais e com pouca tiragem.

A lírica de Leminski é extremamente coloquial, com fortes traços de humor e descontração. Seus poemas podem servir de trilha sonora ou legenda para alguns dos momentos importantes das nossas vidas e merecem ser celebrados e partilhados com os mais chegados.

18. A chave de casa, de Tatiana Salem Levy

A chave de casa

O romance da escritora Tatiana Salem Levy recebeu o Prêmio Portugal Telecom. O livro de 2007 é assumidamente autobiográfico, é uma procura pela sua ancestralidade:

Escrevo sem poder escrever e: por isso escrevo. De resto, não saberia o que fazer com este corpo que, desde a sua chegada ao mundo, não consegue sair do lugar. Porque eu já nasci velha, numa cadeira de rodas, com as pernas enguiçadas, os braços ressequidos. Nasci com cheiro de terra úmida, o bafo de tempos antigos sobre o meu dorso.

Existe uma tradição dos judeus sefarditas guardarem a chave da casa que precisaram abandonar, esse é o pontapé inicial da narrativa de Tatiana. A sua protagonista recebe uma chave de casa do avô, que mudou-se para o Brasil e deixou para trás um lar situado em Esmirna, na Turquia.

A missão transmitida para a neta é que a jovem reencontre não só a casa, como também os parentes que ficaram para trás e tente reconstruir parte da história da família.

O romance A chave de casa é, ao mesmo tempo, uma procura exterior – pela casa, pela família, pelas raízes – e interior – uma tentativa de ordenar o caos interno da protagonista.

19. Caim, de José Saramago

Caim José Saramago

Um dos livros mais bem humorados do premiado José Saramago é o breve romance Caim, de 2009. Laureado com o Nobel, Saramago aqui se debruça sobre um episódio específico da Biblía.

Apesar de ter sido criado em um contexto português católico e conservador, Saramago olha para a religião de maneira questionadora e reconta história de Caim, que ouviu tantas vezes, provocando uma nova leitura.

Quando o senhor, também conhecido como deus, se apercebeu de que a Adão e Eva, perfeitos em tudo o que apresentavam à vista, não lhes saía uma palavra da boca nem emitiam ao menos um simples som primário que fosse, teve de ficar irritado consigo mesmo, uma vez que não havia mais ninguém no jardim do éden a quem pudesse responsabilizar pela gravíssima falta

Se para muitos fiéis o romance de Saramago pode ser considerado uma heresia, para o leitor não religioso as páginas garantem uma leitura bem humorada, irônica e por vezes até debochada.

20. Elizabeth Costello, de J. M. Coetzee

Elizabeth Costello

O título do livro do sul-africano J. M. Coetzee, publicado em 2004, é o nome da sua protagonista, uma intelectual e romancista australiana cheia de ideologia.

Elizabeth Costello é uma escritora, nascida em 1928, o que lhe dá sessenta e seis anos de idade, quase sessenta e sete. Escreveu nove romances, dois livros de poemas, um livro sobre a vida dos pássaros e um corpo de trabalhos jornalísticos. É, por nascimento, australiana. Nasceu em Melbourne, onde ainda mora, embora tenha passado os anos de 1951 a 1963 no exterior, na Inglaterra e na França. Casou-se duas vezes. Tem dois filhos, um de cada
casamento.

Defensora dos animais, ela viaja o mundo proferindo uma série de palestras. A obra de Coetzee não é propriamente um romance, sendo nesse caso considerado mais uma reunião de palestras dadas pela intelectual com um pouco da sua vida pessoal, nesse caso narrado pelo filho, já com um tom ficcional.

Elizabeth Costello é uma personagem que acompanha o autor já por outros livros e é considerada por muitos críticos como uma espécie de alter ego de Coetzee.

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