A NUVEM NEGRA CONTINUA NA CIDADE DE MARÍLIA. Se para alguns a grande maldição da cidade é somente a atual classe política, se enganou, pois infelizmente o município continua vivendo o drama de ser a cidade do interior paulista com maior incidência de tentativas de suicídio e ações consumadas contra a vida.

Está difícil diagnosticar os porquês e as razões, mas fato é que nos últimos 45 dias, cerca de 10 ocorrências de suicídios foram registrados e o 11º ocorrido na manhã de ontem, sexta-feira (6), no bairro Toffóli, zona sul da cidade.

Como de praxe, adotamos o critério de não citar o nome da vítima em respeito da dor dos familiares. Fato é que um jovem de apenas 32 anos era portador de diabete e como tal, fazia uso de insulina diária. No entanto, vivia uma vida normal com todos.

Por motivos ainda a serem apurados pelos policiais da DIG, o mesmo teria injetado uma grande quantidade do medicamento via intraderme atentando assim contra a própria vida. Familiares ao notarem acionarem rapidamente a unidade de socorristas do SAMU que ao chegarem ao local, encontraram a vítima deitada sobre sua cama em seu quarto, mas nada puderam fazer, o corpo já estava gelado e só restou, constatar o óbito.

Infelizmente é mais uma vítima da depressão, da tristeza, da decepção, onde o único remédio neste momento é o diálogo com um médico, psicólogo ou psiquiatra. A saúde de Marília está relegada a segundo plano e claramente se percebe a carência de um plano emergencial de enfrentamento para esta situação. Verdade é que, muitas vezes por trás de um sorriso, pode estar pedindo um socorro.

É inadmissível haver APENAS um psiquiatra para uma cidade de quase250 mil habitantes, enquanto Pompeia com pouco mais de 20 mil moradores possui 4 profissionais. É inaceitável desfrutar de duas faculdades e o município não ter a iniciativa de selar uma parceria com estagiários de psicologia em todas as unidades de saúde para não sobrecarregar os CAP’s.

Como os governantes podem ajudar a reduzir as taxas de suicídio?

O governo tem papel fundamental em conseguir criar as alianças, criar suportadores dessas ações, para que essas ações sejam consistentes, com participação da própria sociedade. É importante a divulgação e a conscientização do fenômeno do suicídio, é importante que este processo seja feito com bastante consciência dos possíveis riscos que os meios e os modos de fazer a divulgação podem acarretar. 

Então, alguns tópicos são bastante importantes: que a difusão da informação não se centre, por exemplo, nos métodos de conseguir fazer suicídio; que também não glamourise, não torne as situações excessivamente dramáticas, mas que possam ser de tal forma dramáticas que se tornem atraentes.

A ideia da conscientização do suicídio deve estar muito focada em difundir a informação de que é possível as pessoas buscarem e encontrarem apoio, cuidado e suporte nas situações de maior dificuldade. Difundir a ideia de que com a colaboração de outras pessoas as coisas podem se transformar. E assim, facilitar o acesso das pessoas a serviços de saúde é um segundo ponto extremamente importante.

Em Marília se faz necessário de forma emergencial da implantação de um centro avançado de enfrentamento com ações que partem desde a contratação de médicos psiquiatras e psicólogos até parcerias com igrejas, clínicas de repouso, clubes de serviço e outros. É preciso ter atitude, pois os números são preocupantes se analisarmos que o mês passado (setembro) foi justamente o que registrou o maior número de casos.

A nivel mundial citamos, por exemplo, o Japão que viveu uma experiência não muito distante, a partir de 2006. O Japão quebrou todos os paradigmas e trouxe a público a questão do suicídio. Para quem não se lembra, o mesmo era um dos países que tinha uma das taxas mais altas de suicídio no mundo.

O Japão elaborou, inclusive, uma lei especial de prevenção do suicídio. Do ponto de vista cultural, houve uma ruptura com uma lei do silêncio, um certo tabu em torno da questão do suicídio e iniciou-se a criação de espaços de diálogo, espaços de conversação, tanto para as pessoas que tentaram suicídio, quanto para as famílias que restaram após a perda de seus parentes. Essas ações foram difundidas no conjunto do país e eles conseguiram reduzir bastante o índice de suicídio da população japonesa. É sem dúvida um modelo a ser seguido na cidade que mais registra ocorrências no interior paulista.

DIRETO DO PLANTÃO POLICIAL

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