Como nos áureos anos de ouro, o quadrilátero da Rua 9 de Julho (entre as Ruas São Luiz e XV de novembro), centro da cidade, foi palco para mais uma noitada festiva de um dos mais tradicionais clubes associativos da região, o Clube dos Alfaiates.

Tratava-se do aniversário da Associação dos Alfaiates de Marília, a mais antiga entidade de classe em plena atividade em Marília, que descerrou na noite de ontem, terça-feira (19) a placa comemorativa dos 80 anos de fundação.

Na oportunidade, se fizeram presentes o engenheiro Roberto Monteiro e a senhora Dagmar Camarinha, que juntos, representaram o casal Abelardo Camarinha e Fabiana Camarinha, frequentadores assíduos do clube, que inclusive realizaram a visita antecipada na semana anterior.

Foto tirada na década de 50 em frente a Associação dos Alfaiates:
terno (colete, calça e paletó), traje cotidiano da época

Em uma cidade onde os clubes estão em extinção, o Clube dos Alfaiates mantém sua imponência festiva com o clima dos anos de ouro de bailes e eventos que reuniam a nata da sociedade mariliense, famílias e autoridades com presenças em shows marcantes como os Incríveis, orquestra de
Tupã, Jet Boys, e tantos outros.

Para o atual presidente da entidade, José Ferreira (popular “Da Bahia”), 79 anos, falar de toda a história do Clube e da Associação ficaria difícil, devido à idade e o tempo. “Sócio eu sou há 54 anos. Era garoto e entrei para trabalhar como alfaiate, aliás aprendiz. Sei que tem uma história muita bonita e não pode acabar. Ainda lembro que para dançar aqui, você antigamente tinha que estar de termo e gravata, senão não dançava”, comentou.

Escola de Corte e Costura “Santo Antonio”; diretora: Fumiko Yamaguti; professora: Satsuki Yamaguti; Marília, 18 Dezembro 1948. Foto tirada na Associação dos Alfaiates de Marília (AAM); as formandas e seus respectivos padrinhos, com o prefeito Miguel Argolo Ferrão sentado entre a diretora e professora

Sobre o comentário do risco de encerrar as atividades, o mesmo complementou o raciocínio; “Eu vejo, por exemplo, o Clube dos Bancários com o fim lamentável e no que se transformou hoje. É uma judiação. Aqui é uma estrutura menor, mas nosso quadro associativo é pequeno com apenas 40 associados e a renda é complementada com a locação de um salão que fica logo na entrada. Estamos dando encaminhamento para o tombamento histórico do prédio, mas a vida social dele precisa continuar com a realização de bailes, a volta do clube de carteado e outros eventos”, esclareceu o presidente.

José Ferreira, o Da Bahia, se especializou como “calceiro” (confecção de calças). Também atuou como jogador profissional de futebol no antigo São Bento e jogou em clubes da várzea. “Tive que trabalhar muito como calceiro para pagar o hotel onde eu morava e meus estudos”, conta ele, que se formou em três faculdades (Educação Artística, Educação Física e Pedagogia). Esta última para atuar como professor da rede estadual de Ensino, onde se aposentou.

Na sequência, nossa reportagem ouviu o economista, contador e formando de direito, Adelino Brandt Filho vice-presidente da entidade, cujo genitor era justamente outro alfaiate famoso na cidade, o saudoso Adelino Brandt, também com um histórico importantíssimo dentro do clube que é seguido hoje por toda família.

Ele assim nos relatou; ¨De fato, eu nasci no meio dos alfaiates, minha mãe era costureira. Meu pai, logo que veio para Marília, teve uma vida dedicada a este clube, morreu com 90 anos. Digo com muita propriedade que isto é uma parte de minha vida onde tive o prazer de testemunhar os eventos que eram realizados aqui. As famílias vinham todos os sábados e domingos. Nós éramos crianças e acompanhávamos nossos pais. Tem uma área muito boa aqui embaixo, onde eram realizadas atividades e a gente podia passar o dia, tinha ping pong e era divertido”, comentou,

Adelino falou sobre um dos mais lindos projetos do Clube dos Alfaiates. ” Depois de um certo tempo veio a Chácara do Clube, que foi doada pela Prefeitura Municipal de Marília, situada na zona sul de Marília. No local era desenvolvido um projeto de repercussão nacional, onde os alfaiates que não tinham família, na sua velhice, ficavam morando lá. É uma história que arrepia e emociona a todos porque era algo diferenciado para a classe a nível nacional”, detalhou

Hoje a Chácara é locada, mas mantém a finalidade social. “Exato, com a extinção dos alfaiates nós realizamos uma parceria com o projeto Louvor e Glória da igreja católica que realiza um trabalho maravilhoso com drogaditos, moradores de rua e dependentes quimicos em geral, na qual convidamos toda a imprensa e a população mariliense para conhecer”.

Sobre sua atuação na associação, Adelino comentou; “Eu fui convidado quando o José Ferreira assumiu e aceitei com muito orgulho para homenagear meu pai. Eu não sou alfaiate, assim como a maioria dos filhos de alfaiate, também não seguiram a carreira de seus pais. Os filhos dos alfaiates foram estudar e com isso a profissão hoje é quase inexistente. Por esta razão me sinto lisonjeado em fazer parte desta diretoria em uma forma de homenagear meu saudoso pai. Esse clube é minha paixão e se depender de mim, ele ainda via demorar muito tempo para morrer”, finalizou.

O único alfaiate em atividade no clube, José Ferreira Neto, também falou a nossa reportagem expressando a sua felicidade pela data, mas lamentando a mudança nos tempos; “A profissão de alfaiate está em extinção. As indústrias de confecções absorveram praticamente todo o mercado, principalmente as indústrias de calças jeans, que não existiam até a década de 70. Os tecidos usados eram brim, tergal e linho”. “Praticamente não existe mais alfaiatarias. Eram muitas em Marília, mas foram fechando”. O principal motivo, é o custo para os clientes. Para você ter uma ideia, um terno (três peças) feito por um alfaiate profissional sob medida e encomenda, custa cerca de R$ 1.500. A pessoa vai numa loja do comércio e compra pelo menos dois ternos novos por esse valor”. Hoje a gente vive de conserto e reforma” comentou.

Sobre a data, o “Ferreirinha” comentou; “É com muita alegria. É muito bom. Estou aqui desde 2008 e apesar das dificuldades a gente consegue manter a tradição e dar vida para este clube”.

Marina de Oliveira Vieira, é a comandante das noitadas no Clube e nos falou sobre os anos produzindo a trilha sonora para milhares de casais que frequentam a casa; “Há 30 anos atrás, o Calandrim quando assumiu, me convidou para realizar os bailes, foi então quando começamos. No início foi difícil, mas depois o pessoal foi se achegando e segue assim até hoje” explicou.

A cantora falou sobre os investimentos realizados e sobre a frequência de público; “Antes era muito quente o salão, o pessoal chamava de buraco quente. Então, nós investimos em ventiladores e ar climatizado e hoje, toda sexta-feira é um ponto de referência na cidade. Eu tenho casais como diretores de escolas, pessoal da polícia militar aposentado, pessoal da polícia civil e muitos outros. Eu já testemunhei muitos casais que se conheceram aqui, se casaram e foram embora, nunca mais voltaram”, concluiu sorrindo.

Após o descerramento da placa realizado pelo presidente José Ferreira com o auxílio do ex vereador Roberto Monteiro e da professora Dagmar Camarinha, representando o casal Abelardo Camarinha e Fabiana Camarinha, ocorreu o baile comemorativo com buffet servido aos presentes. CONFIRA ABAIXO, FOTOS DO EVENTO QUE MARCOU A NOITE DOS 80 ANOS DO CLUBE DOS ALFAIATES DE MARÍLIA.

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