O pequeno aparelho que limpa o chão de casa e reconhece objetos e paredes, atendentes virtuais e até o garçom em forma de tablet para o jantar a dois. O check-in no aeroporto, a telefonista automática e até o “self-service” no restaurante são serviços, cada vez mais, mediados por robôs e/ou pela inteligência artificial.

Um estudo inédito feito com dados pelo Laboratório de Aprendizado de Máquina em Finanças e Organizações da Universidade de Brasília (UnB) mostrou que essas máquinas movidas por tecnologia de inteligência artificial devem, nos próximos anos, ganhar ainda mais espaço – e seguir substituindo postos de trabalho.

Segundo a pesquisa, até 2026, 54% dos empregos formais do país poderão ser ocupados por robôs e programas de computador. A porcentagem representa cerca de 30 milhões de vagas. O trabalho, desenvolvido ao longo de 2018, avaliou uma lista de 2.602 profissões brasileiras.

Levando em consideração o número de trabalhadores com carteiras assinadas no fim de 2017 – de acordo com os dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho –, os pesquisadores chegaram ao resultado de que 25 milhões (57,37%) exerciam funções com probabilidade muita alta (acima de 80%) ou alta (60 a 80%) de automação naquele ano.

Robocalipse’?

Um dos professores responsáveis pelo levantamento, Pedro Henrique Melo Albuquerque, disse que cada vez mais os brasileiros estão entrando em uma nova fase do avanço da tecnologia sobre os postos de trabalho.

Primeiro, máquinas substituíram atividades mais simples, como funções em linhas de montagem de fábricas. Agora, com o avanço da robótica e da inteligência artificial, há uma ameaça cada vez maior a profissões que requerem habilidades complexas.

Esse cenário gerou duas correntes de pensamentos sobre o futuro das profissões. Uma pessimista, chamada popularmente de “robocalipse”, defende que a automação causará uma avalanche de desemprego.A segunda, otimista, acredita que o desenvolvimento da inteligência artificial vai impor adaptação dos empregados, mas criará demanda para empregos em tarefas que não podem ser realizadas por robôs e profissionais mais criativos. O pesquisador Albuquerque integra essa corrente.

Habilidades como originalidade e inteligência social são características difíceis de se automatizar, segundo o estudo. Por isso, quanto maior a subjetividade e a complexidade da tarefa, menor a chance de um computador roubar a cena.

“Acredito na perspectiva positiva. Algumas profissões vão desaparecer, como aquelas que desenvolvem atividades rotineiras e que podem ser automatizadas, como ascensorista. Outras se adaptarão”, disse o professor.

De acordo com Albuquerque, há ainda um empecilho presente nos países em desenvolvimento que dificulta o pleno avanço da automação. Para o docente, essas nações raramente coletam e disponibilizam dados de “qualidade” – componentes essenciais para alimentar as máquinas e, assim, ensiná-las suas funções.

Outro ponto a ser levado em conta é o ético-social. “Será que todo mundo ficaria confortável, por exemplo, andando em um carro sem o motorista? Em caso de um acidente, quem seria responsabilizado?”, pondera o pesquisador.

A base de dados usada no estudo da UnB foi a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). Por meio das informações disponibilizadas pelo Ministério do Trabalho, os pesquisadores consultaram 69 acadêmicos e profissionais especialistas em aprendizado de máquina – uma forma de Inteligência Artificial na qual computadores analisam grandes conjuntos de dados para fazer projeções ou identificar padrões e anomalias.

Esses profissionais, então, leram as atividades e as classificaram. Com essas classificações, o grupo da UnB usou técnicas de análise das descrições das profissões e modelos estatísticos para calcular os riscos associados a cada uma das ocupações.

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