Durante o depoimento, senadores exibiram vídeos e declarações de Luciano Hang promovendo aglomerações e criticando medidas de isolamento social .

Foi sem dúvida nenhuma o depoimento mais esperado e ao mesmo tempo, o mais polêmico da CPI Covid do Senado. O empresário bolsonarista Luciano Hang afirmou depois de depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), nesta quarta-feira (29/9), que se sentiu humilhado pelos senadores. 

“Fui perseguido e humilhado. Passei por um tribunal de inquisição. Mas sei que o povo brasileiro estava todo ao meu lado”, disse ao sair da sessão.

Conhecido por ser apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Hang foi confrontado por seu apoio as medidas contra a Covid-19, assim como pela divulgação de informações sobre a doença e um suposto apoio financeiro a blogueiros investigados pelo SFT ( Supremo Tribunal Federal ).

O empresário declarou que não tinha colaborações com o “gabinete paralelo” e que não era um “negacionista”, além de refutar que tenha financiado a propagação de fake news sobre a pandemia.

Confira os principais trechos do depoimento de Luciano Hang

A CPI da Covid encerrou no fim da tarde de ontem, quarta-feira (29) o depoimento do empresário bolsonarista Luciano Hang, dono das lojas Havan.

Na sessão, marcada por tumultos e uma suspensão, Hang negou ter financiado esquemas de divulgação de fake news e feito parte do chamado Gabinete Paralelo. Também afirmou que não pediu para que a Covid-19 não constasse do atestado de óbito de sua mãe, Regina Hang.

Entenda os principais pontos da oitiva:

Fake news e Gabinete Paralelo

“Quero afirmar aqui nesta Casa, com a consciência tranquila e com a serenidade de quem tem a verdade a seu lado, que não conheço, não faço e nunca fiz parte de nenhum gabinete paralelo. Nunca financiei nenhum esquema de fake news e não sou negacionista”, declarou Hang logo no início do depoimento.

EXPLICAÇÃO : No começo deste mês, ele foi incluído oficialmente no rol de investigados pela comissão, suspeito exatamente de financiar publicações em defesa de medicamentos ineficazes e de compor uma espécie de ‘ministério das sombras’, responsável segundo “eles”, por influenciar decisões de Jair Bolsonaro na pandemia.

Morte de Regina Hang

Luciano Hang disse ter tomado conhecimento da ausência de menção à Covid-19 no atestado de óbito pela própria CPI. “Pode ter sido um erro do plantonista, que colocou aquelas doenças. Mas quando foram fazer o documento que vai para a secretaria de estado foi colocado Covid. Não vejo interesse do hospital de mentir sobre a morte da minha mãe”, declarou.

Em um momento de tensão, Hang afirmou que não aceitaria que a morte da mãe fosse usada politicamente. Ele alegou ter sido aconselhado por amigos a levá-la a um hospital da rede Prevent Senior. Após a morte de Regina, o empresário publicou nas redes sociais um vídeo em que sugeria que ela poderia ter sobrevivido se tivesse recebido o que chama de ‘tratamento preventivo’.

“Eu sempre falo: não podemos mais cuidar de quem morreu, mas podemos cuidar de quem está vivo. Tome a decisão acertada. Eu me cobro hoje que eu poderia ter salvado a minha mãe, de repente, se eu tivesse feito o preventivo. Será que nós não poderíamos ter feito isso? E agora eu fico me perguntando, e se eu tivesse feito, será que ela não estaria viva?”, dizia no vídeo.

“Eu disse que eu lamentava que eu não tinha feito o tratamento preventivo com a minha mãe. Tratamento preventivo é antes de a pessoa adquirir o vírus. Então, eu faço tratamento preventivo, ainda, e fiz durante toda a pandemia”, afirmou. “Aqui eu vou desenhar: Preventivo é uma coisa e inicial é outra. São duas coisas diferentes”.

Financiamento e defesa de outros remédios

Em outro momento significativo da oitiva, Hang confirmou ter participado de uma campanha com empresários de Brusque (SC) para comprar medicamentos do chamado ‘kit Covid’, contra o novo coronavírus.

Questionado pela senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), o depoente afirmou que arrecadou recursos e doou a quantia a hospitais. “Fiz, está na rede social. Fiz e doamos o dinheiro”, disse.

Resistência à vacinação

O empresário bolsonarista também informou a comissão que não se vacinou contra a Covid-19. O ‘argumento’ ao qual o depoente recorreu é o mesmo utilizado pelo presidente é o mesmo utilizado pelo presidente Jair Bolsonaro.

“Não tomei vacina. Vou mostrar por que não tomei”, disse Hang, antes de exibir para a câmera uma folha de papel. “Eu não tomei vacina porque tenho um índice de anticorpos altíssimo. Eu tenho neutralizante natural”.

A postura de Luciano Hang irritou integrantes da comissão, em especial o presidente Omar Aziz (PSD-AM). O senador também criticou a defesa de medicamentos contra a Covid-19.

“É um negacionista, mesmo. Espero que o Ministério Público de Santa Catarina e todo cidadão em Brusque que tomou esse medicamento prescrito pelo senhor Luciano Hang e teve efeitos colaterais entre em processo contra ele. Todos os efeitos colaterais… A responsabilidade é do verde e amarelo aqui”, disse Aziz.

A relação com intermediadores de vacinas

Hang admitiu ter atuado para comprar vacinas e destiná-las a funcionários da Havan. A declaração foi dada ao relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), que o questionou sobre a afirmação feita pelo diretor-presidente da Belcher Farmacêutica de que Hang e o empresário Carlos Wizard teriam se articulado para adquirir doses. O dono da Havan confirmou a intenção.

“Fomos no Ministério [da Saúde] perguntando se o que queríamos iria prejudicar a vacinação do governo. Eles diziam que já tinham comprado 560 milhões de doses de vacinas. Não queríamos os mesmos fornecedores para não atrapalhar a vacinação do SUS, íamos atrás de outros fornecedores no mundo para que a gente pudesse ‘urgenciar’, aumentar a velocidade da fila do SUS”, disse o empresário.

Contas no exterior

Logo no início da oitiva, o empresário admitiu que possui “contas no exterior, offshore, umas duas ou ou três, declaradas na Receita Federal, todas essas declaradas e auditadas”.

ACUSAÇÕES CONTRA O EMPRESÁRIO

Em sua participação no depoimento, o senador Humberto Costa (PT-PE) afirmou que Hang “estava rindo porque achava que a CPI não iria dar em nada, mas vai dar, terá de responder no Ministério Público”.

E continuou ; “O senhor é acusado de ser um criminoso contumaz nessa pandemia. Primeiro, perigo para a vida ou a saúde de outrem, artigo 132. ‘Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente’. O senhor vai ser processado por infração de medida preventiva, artigo 268. “Infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa”, disse Costa.

Enfim, mais um capítulo de uma CPI que aos poucos soa a ser mais política do que qualquer outra coisa. Ainda durante a oitiva, senadores exibiram vídeos de Luciano Hang promovendo aglomerações dentro da própria loja e criticando medidas de isolamento social adotadas por estados e municípios como supostas provas para incriminá-lo.

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