Se a solidão na terceira idade já era um problema antes mesmo da pandemia, atualmente esse problema ganhou uma nova perspectiva, com milhares de idosos tendo que interromper suas rotinas e atividades sociais para permanecer em casa.

Isto acabou desencadeando um nova problema; a depressão de uma rotina provocada pelo isolamento. Em função disso, aumentou consideravelmente o número de suicídios entre os idosos. Fato recente ocorreu no último sábado na cidade de Rio Claro, distante 292 quilômetros distantes de Marília.

Na noite de sábado (27), o casal foi encontrado morto a tiros em sua residência que fica na Rua 20, bairro Jardim São Paulo, em Rio Claro (SP).

Segundo informações colhidas nossos correspondentes que acompanham o Plantão Policial daquela cidade, a mulher de 70 anos, atirou na nuca do marido de 72 anos, que morreu no local, ele era cadeirante, em seguida ela atirou entre seu queixo e garganta, tirando a própria vida.

As identidades dos envolvidos serão preservadas. No entanto, sabe-se que se trata de um casal da vizinha cidade de Garça, onde o homem era muito conhecido no município.

Foto do rosto de uma idosa cobrindo a face com as mãos

Pesquisadores da Universidade de Chicago descobriram que o isolamento pode aumentar o risco de morte em 14% nas faixas etárias mais avançadas, pois gera no organismo uma reação de estresse que acaba reduzindo a produção dos leucócitos, responsáveis por defender o organismo de infecções. Nos dias de hoje, o impacto do isolamento na imunidade dos idosos torna-se ainda maior se a pessoa tiver acesso constante a notícias (ou mesmo a informações falsas) que podem causar ansiedade e agravar o quadro de estresse.

Recentemente, um grupo de pesquisadores da Universidade de York divulgou um estudo indicando que a solidão e o isolamento social podem aumentar o risco de doenças cardíacas em 29% e o de acidentes vasculares em até 32%. No que se refere à depressão, o isolamento social pode ser tanto um sintoma quanto um fator desencadeador da doença. Isso vale especialmente para os idosos que estão acostumados a uma vida social mais intensa, como atividades em grupo e passeios ao ar livre, por exemplo.

A psicóloga Claudia Weyne Cruz, especialista em saúde da Escola de Saúde Pública (ESP/RS), e com doutorado sobre o tema “suicídio de idosos em municípios do Rio Grande do Sul”, avalia que nesta fase da vida a pessoa acumula perdas próprias da idade, entre elas, do cônjuge, do vínculo com o trabalho e de amigos. “Muitas vezes o desejo de antecipar o fim está associado também à perda de saúde, de autonomia e de papéis sociais”.

A especialista explica que o comportamento suicida é resultado da interação de diversos fatores e que por vezes os idosos manifestam a intenção suicida, de forma indireta, por meio de verbalizações: “estão todos bem e não precisam mais de mim”; “não quero incomodar ninguém, já vivi demais”; “meu último compromisso era ver meu filho encaminhado”, “estou cansado de viver”. A comunicação verbal pode estar acompanhada de mudanças repentinas de comportamento, como desinteresse por atividades antes consideradas prazerosas, descuido com a alimentação, medicamentos e aparência, desejo súbito de distribuir pertences, bens, patrimônio e herança.

“Esses sinais muitas vezes são uma forma de despedida silenciosa da vida e não devem ser negligenciados por familiares, amigos e profissionais de saúde”. A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que para cada suicídio consumado há cerca de vinte pessoas que o tentam. Entre idosos, a razão entre tentativas e suicídios efetivados chega a ser de aproximadamente dois para um. Isso demonstra que os mais velhos são menos ambivalentes em relação a morte, ou seja, tem menos dúvidas em relação à antecipação do fim. Claudia ressalta que as doenças incapacitantes, a dor física, as dificuldades de acesso à saúde, a falta de recursos financeiros, a solidão, o abandono e outras tantas violências praticadas contra os idosos podem levá-los a desejar a própria morte.

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