A inflação nos últimos 12 meses na Argentina é de mais de 110%. O país está no meio de uma eleição presidencial. Ninguém aguenta..

A Argentina está vivendo uma onda de saques a supermercados e lojas, principalmente em cidades da região metropolitana de Buenos Aires. Pelo menos 200 pessoas foram presas.

O país está no meio de eleições para presidente –o primeiro turno está marcado para o dia 22 de outubro. A inflação está descontrolada: o principal índice de preços, o IPC, passa de 110% nos últimos 12 meses.

1) O que aconteceu?

Os incidentes ocorreram entre a última sexta-feira e esta quarta-feira (23).
Grupos supostamente convocados pelas redes sociais forçaram a entrada em supermercados e outros estabelecimentos. Roubaram e causaram destruição nas seguintes províncias:

  • Buenos Aires (a mais populosa, com quase 40% da população total do país),
  • Mendoza,
  • Córdoba,
  • Neuquéne
  • Río Negro.

Uma loja na capital (a cidade de Buenos Aires é uma região autônoma) também foi alvo de um ataque, mas os vizinhos repeliram os assaltantes.

De acordo com relatórios oficiais divulgados em coletivas de imprensa, foram 150 tentativas de saques e 94 pessoas detidas em bairros da periferia da capital.

Em Mendoza, foram 66 presos. “São criminosos que agem de forma organizada, com a participação de menores de idade”, segundo o comunicado do governo.

O promotor de Córdoba, Ernesto de Aragón, informou que “foram presas 23 pessoas por diversos ataques a comércios”. Também foram registradas mais de uma dezena de detenções em Neuquén e Río Negro.

2) A quem se atribuem os ataques?

Raúl Castells, antigo dirigente de movimentos sociais grevistas e pré-candidato presidencial, disse ao canal TV Crónica: “Eles estão saindo em busca de comida e se não encontrarem comida, nós, que somos os que estamos convocando isso (saques), estamos dizendo a eles que, sem roubar dinheiro ou quebrar nada, levem o que puderem para trocar por comida”.

A equipe de checagem da agência de notícias AFP identificou a circulação de vídeos, nas redes sociais, de saques que não correspondem ao momento atual.

Embora isolados, os acontecimentos remetem aos saques violentos registrados durante os governos dos sociais-democratas Raúl Alfonsín, em 1989, e Fernando de la Rúa, em 2001. No entanto, as tentativas reais de saques e roubos foram confirmadas pela polícia e pela imprensa.

Segundo o governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, “moradores e moradoras não participaram em massa nisso” e “muitos moradores tentaram impedir que os violentos realizassem essas ações”.

3) Qual foi a reação do governo e da oposição?

O presidente peronista Alberto Fernández, que não concorre à reeleição, afirmou que considerou os saques organizados, pediu para “cuidar da convivência democrática” e prometeu cuidar “dos problemas dos argentinos e suas rendas”, mas lhes pediu “que preservem a paz social, por favor”.

O ministro da Segurança, Aníbal Fernández, afirmou que “o que aconteceu não pode ser atribuído a fulano ou sicrano”. Como o país está no meio das eleições presidenciais, o tema virou parte do debate político rapidamente.

A porta-voz do governo, Gabriela Cerruti, disse à imprensa que os candidatos opositores Javier Milei e Patricia Bullrich “constroem seu discurso público com base no desejo que têm de que a democracia se desestabilize”.

Para Milei, o candidato mais votado nas primárias de 13 de agosto, com 30% dos votos, “é trágico ver novamente depois de 20 anos as mesmas imagens de saques que vimos em 2001. Pobreza e saques são duas faces da mesma moeda”, afirmou ele nas redes sociais.

Bullrich, que ficou em segundo lugar com pouco mais de 27%, disse que é preciso “restaurar a autoridade”.

4) Em que contexto ocorrem os ataques?

Além da inflação, uma das mais altas do mundo, o índice de pobreza aumentou na Argentina e chega a 40%.

Há 10 dias o governo e o Fundo Monetário Internacional fizeram um acordo para desvalorizar o peso, a moeda local. O país pôde então desbloquear um fundo de US$ 44 bilhões (R$ 217 bilhões na cotação atual). O ministro da Economia, Sergio Massa, é o candidato à presidência do grupo que hoje governa o país. Logo depois da desvalorização, os preços subiram muito –cerca de 30%. A população reclamou.

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