Trinta e cinco funcionários do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira ( Inep ), órgão responsável pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem ), pediram exoneração na última segunda feira, segunda-feira (8) dos cargos que ocupavam. A prova será realizada nos dias 21 e 28 de novembro, daqui a menos de duas semanas (veja mais no vídeo acima).

Inicialmente, 13 nomes haviam se demitido de suas funções. Ao longo do dia, outros 22 servidores pediram exoneração e se integraram ao grupo

A prova acontece em 21 e 28 de novembro e já está pronta, por isso as datas não devem ser alteradas. O MEC (Ministério da Educação) divulgou nota no início da noite afirmando que o cronograma do Enem “não será afetado” pelos pedidos de demissão, mas não deu detalhes sobre como a crise será resolvida (leia mais abaixo).

Servidores ouvido , no entanto, dizem que as mudanças no organograma em funções estratégicas podem atrapalhar os processos que acontecem após aplicação do exame, como a correção e a divulgação das notas.

Parte dos funcionários que pediram desligamento do cargo serviam como uma espécie de “radar”, monitorando possíveis problemas e apontando soluções no dia do exame. Na edição de 2020, houve alguns incidentes que precisaram ser contornados, como salas superlotadas, o que impediu diversos alunos de fazerem o Enem.

Além disso, a operação de aplicação do exame é bastante complexa, com toda uma logística para manter o sigilo das provas. As empresas envolvidas temem inclusive uma falta de interlocução com o instituto após a saída desses profissionais mais experientes.

Também pode haver impacto no cronograma para a edição de 2022, que deveria começar a ser feito nas próximas semanas. Foi apurado que um dos exonerados, por exemplo, tinha a tarefa de acompanhar a empresa terceirizada para a aplicação da prova, para fiscalizar se seriam cumpridos os requisitos e termos acordados em contrato.

Desmonte no Inep: mais 20 gestores pedem demissão às vésperas do Enem

Outros servidores faziam parte do envio em tempo real de informações sobre o exame para o Inep, além de estarem envolvidos com a análise das perguntas. Vestibulares tradicionais contabilizam apenas o número de erros e acertos, atribuindo um valor fixo às questões, mas o Enem funciona diferente. Usa uma metodologia especial, chamada Teoria de Resposta ao Item (TRI).

Neste modelo estatístico, o valor de cada uma das questões varia de acordo com o percentual de acertos e erros dos estudantes naquele item. Os itens que os estudantes acertarem mais serão considerados fáceis e, por essa razão, valerão mais pontos na composição da nota final. Já os itens com menor número de acertos por parte dos estudantes serão considerados difíceis e, por essa lógica, valerão menos pontos. É por isso que é muito comum dois participantes acertarem o mesmo número de itens, mas terem médias finais diferentes no Enem.

Caso o participante erre uma questão fácil e acerte uma difícil, o TRI leva em consideração chutou a pergunta mais difícil e, por isso, ela valerá menos. Como essa comparação é volumosa e sensível, leva alguns meses para ser feita —normalmente as notas são divulgadas em março do ano seguinte. Ainda não se sabe como essas vagas serão preenchidas ou como esse problema com o know-how desse sistema será resolvido.

Ao todo, o Inep tem 383 servidores. O grupo que entregou os cargos deixa suas funções, mas não a carreira de servidor no órgão.

35 demissões em uma semana.

Os pedidos de demissão acontecem de forma coletiva e, pelo que foi apurado, como uma medida para pressionar pela saída do atual presidente do órgão, Danilo Dupas, que se mantém no cargo pela relação pessoal com o ministro Milton Ribeiro.

Inicialmente, foram confirmadas 13 demissões nesta segunda. Depois, o número aumentou. Na semana passada o UOL já havia noticiado o pedido de demissão de Eduardo Carvalho Sousa, coordenador de Exames para Certificação, e Hélio Júnio Rocha Morais, coordenador da Logística de Aplicação.

No pedido de dispensa encaminhado à diretoria do Inep, os servidores justificam a saída pela “fragilidade técnica e administrativa da atual gestão máxima” do órgão. Também mencionam episódios de assédio moral, expostos em uma assembleia realizada na quinta feira (4 ).

“Cronograma está mantido”, diz MEC.

Presidente do Inep é chamado na Câmara para explicar debandada de  servidores | Brasil | Valor Econômico

Em nota, o MEC afirma que o cronograma está mantido e que “não será afetado” pelos pedidos de exoneração. “Cabe esclarecer que os servidores colocaram à disposição os cargos em comissão ou funções comissionadas das quais são titulares, mas que continuam à disposição para exercer as atribuições dos cargos até o momento da publicação do ato no Diário Oficial da União”, diz o texto. A nota foi replicada pelo ministro Milton Ribeiro, no Twitter. Ele não fez comentários complementares sobre a crise no Inep.

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