Mais uma vez, nossa reportagem foi acionada por usuários do transporte coletivo que denunciam o descaso e o desrespeito para com os usuários, sejam trabalhadores ou estudantes, por parte da empresa Grande Marília.

Desta feita, ela se origina do bairro Jardim Renata, zona norte da cidade, onde a linha ofertada pela concessionária é de número 6, identificada como Distrito Industrial.

Segundo a senhora S.M.S.R., comerciária, os ônibus não estariam cumprindo o itinerário constante no próprio Site da empresa e com isso prejudicando a estudantes e trabalhadores que se quiserem são obrigados a levantar mais cedo para pegar a primeira volta no sentido ida ou se deslocar até a avenida João Martins Coelho, à várias quadras do bairro.

“Ocorre que eu sempre fiz uso deste ônibus para levar a minha filha na escola, isto há anos, porém minha filha necessitou realizar um tratamento médico e nós paramos de utilizar. Agora que ela voltou as aulas, eu percebi que não havia mais o carro na linha. Eu entrei em contato com a empresa e eles relataram que a empresa agora só passa pelo bairro na primeira volta de ida e não retorna mais, passando pela rua Bento de Abreu Filho, conforme consta no site oficial, pois a empresa teria que ajudar a linha do Santa Antonieta / Parque das Nações que estava lotada e necessitando de mais ônibus e a única alternativa foi retirar do Jardim Renata”.

Ela continuou; “No caso da minha filha, eles orientaram ela a se deslocar até a entrada do bairro para pegar o ônibus quando ele sobe, pois o retorno não mais acontecerá pela rua Bento de Abreu Filho, como antes. A menina tem 16 anos, é atraente e o horário ainda está escuro em um trecho que todos conhecem pelo risco. Eles não estão nem aí”, concluiu.

É um absurdo, mas é a mais pura verdade, que ocorre também em outros bairros na operação chamada de “Suprimento de Linhas”, quando acaba sacrificando os moradores de um bairro e unificando em um só percurso, dando prioridade para o bairro de maior demanda. A moradora ainda continuou;

“O problema é que não é somente nos primeiros horários do dia, pois mantive contato com outras moradoras e trabalhadores, que me relataram que em outros horários do dia também estão fazendo a mesma coisa, ou seja: ao invés de colocar outro carro para a linha do Parque das Nações, eles preferem fazer a população do Jardim Renata acordar mais cedo para pegar somente a primeira volta ou se quiser andar várias quadras até a avenida. E o que faremos em dias de chuva?”, perguntou ela.

A diferença do horário anterior para o que a empresa está impondo para os moradores no bairro gira em torno de pelo menos 40 minutos. Antes o ônibus que passava pela rua Bento de Abreu Filho, passava por volta das 6h25 até 5h30, agora a população é obrigada a pegar o ônibus das 5h45 ou se deslocar para a linha da avenida, independente das intempéries do tempo.

A decisão da empresa, de acordo com os interesses da mesma e sem qualquer fiscalização do SAF (Serviço Auxiliar de Fiscalização), Emdurb, Câmara Municipal ou principalmente da Administração, prejudica não só os estudantes, obrigados a chegar mais cedo na escola e ficar esperando a abertura do portão, mas também trabalhadores, diaristas, comerciarias e tantos outros profissionais que às vezes acabam se cotalizando em uber’s.

Sobre os finais de semana e feriados, a dona de casa somente confirmou o que já ocorre em todas as linhas, diante dos olhos omissos de nossos governantes; “Final de semana piora, pois você não sabe a hora que eles irão passar. Posso te citar um exemplo; minha filha ficou em um domingo, 4 horas esperando o ônibus para vir para casa. Ela ficou no terminal urbano das 4 da tarde até as 20h para aparecer um carro e ela vir para casa. É um descaso total. Só em Marília você vê esse tipo de coisa e sem nenhuma atitude de prefeito e vereadores”, lamentou.

Devido à posição da empresa, nossa reportagem questionou junto a moradora sobre o fluxo de pessoas, principalmente nos horários de pico e a mesma foi categórica; “Estes primeiros horários, sempre foram cheios, pois transportam trabalhadores e também estudantes. A prova disto é que; se você chegasse um pouquinho atrasado no ponto, não encontrava lugar para sentar, isto logo no início do bairro e sempre foi assim, pois é um bairro grande e com muitas pessoas. O ônibus já lota antes de chegar no ponto final”, explicou a usuária bastante revoltada.

Nossa reportagem tentou um contato com o responsável pelo setor, mas a recepção nos informou que o mesmo já não se encontrava no local e o mesmo não sabia explicar o que estava acontecendo. No entanto, o espaço está aberto para a manifestação da empresa e demais envolvidos.

Em Natal (RN) vereadores chegaram a criar uma lei garantindo que mudanças em rotas ou corte de linhas de ônibus fossem avaliadas antes pela população

Em Natal (RN), o problema é semelhante a Marília, no entanto, os vereadores não se acomodaram e chegaram a aprovar um projeto de lei que indicava que qualquer alteração de rotas ou corte de itinerários de ônibus na capital fossem discutidas previamente com a população, por meio do Conselho Municipal de Trânsito e Mobilidade Urbana, que por sinal, precisa ser criado na capital dos radares.

Segundo o texto, caso uma concessionária desejasse fazer mudança em algum itinerário, deveria procurar a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (STTU) no prazo mínimo de 60 dias, salvo urgência devidamente comprovada, e depois as propostas de modificações passarão pelo Conselho. Caso o órgão aprovasse, a STTU deveria dar ampla publicidade à alteração, sendo necessário prazo mínimo de 15 dias para que a mudança pudesse ser colocada em prática.  

Além disso, sempre que o pedido de alteração se baseasse no princípio do equilíbrio econômico-financeiro, a concessionária deveria apresentar os cálculos contábeis que justificasse a medida, com destaque para os dados sobre os custos e a taxa de retorno das operações empresariais antes e depois da modificação pretendida. Uma boa ideia para ser trabalhada por alguma “alma viva” da câmara municipal, já pensando no contrato de concessão que está prestes a vencer.

No entanto, alegria de pobre dura pouco. Ao chegar ao gabinete, a força da empresa falou mais alto e o prefeito de Natal, Álvaro Dias (Republicanos), vetou um projeto de lei. Em resposta, o autor do projeto comentou;

O poder de decisão sobre a operação do transporte público de Natal não pode ficar somente nas mãos dos empresários. A lei aprovada permite que a população seja ouvida e opine, realizando um controle social sobre seu direito de ir e vir. Já tínhamos protocolado o projeto há mais de dois meses, no entanto, a situação tem ficado cada dia mais crítica”, afirmou.

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