Se você já ouviu falar do clitóris deve saber que ele é um órgão que tem a exclusiva função de proporcionar prazer, não é mesmo? Se não sabe, você não está só. É grande o número de pessoas que ainda não compreendem nem a diferença entre vulva e vagina, incluindo pessoas que possuem uma.

A anatomia das pessoas com vulva, infelizmente, ainda é pouco estudada. O que se sabia até recentemente é que clitóris tinha 8.000 terminações nervosas, mas essa contagem não veio de um artigo científico revisado por pares. Isso foi extraído do livro O Clitóris, escrito em 1976 pelo médico Thomas P. Lowry e sua então esposa Thea Snyder Lowry, no qual os autores mencionam brevemente um estudo feito no clitóris de vacas e não de pessoas. É impressionante como demoraram tanto tempo para analisar o número real de fibras nessa área tão relevante para o prazer feminino!

Voltando um pouco no tempo, é possível entender o descaso histórico com a sexualidade feminina. Há séculos já se sabia da existência de um órgão voltado para o prazer no corpo das pessoas com vulva, mas, até então, essa região não era nomeada, ou seja, se não tinha nome, era como se não existisse. Somente em 1998 a urologista australiana, Helen O’Connell, detalhou o sistema completo do clitóris, apontando sua vascularização, bulbos cavernosos, o formato piramidal, e explicou suas relações com a uretra e a vagina. Sim, enquanto o pênis foi supervalorizado por Sigmund Freud e seus seguidores na psicanálise e também medicina, somente há 24 anos o clitóris existe de forma oficial na história da ciência e da medicina.

A boa notícia é que um novo estudo foi apresentado em um congresso científico da Sociedade de Medicina Sexual da América do Norte e da Sociedade Internacional de Medicina Sexual, em outubro de 2022. Blair Peters, cirurgião e professor da Universidade de Saúde e Ciência de Oregon, decidiu fazer uma pesquisa focada totalmente no clitóris humano. O resultado totalizou duas mil terminações nervosas a mais do que se acreditava anteriormente.

O clitóris humano possui uma região com milhares de fibras nervosas, que enviam ao cérebro a sensação de prazer quando ele é estimulado. Em sua pesquisa, Peters e seus colegas examinaram os dois nervos dorsais do clitóris. Esses nervos percorrem os dois lados do órgão e transmitem informações sobre toque, pressão e dor, enquanto outros nervos lidam com funções como tônus muscular e fluxo sanguíneo.

O estudo foi realizado com sete pacientes trans masculinos, que se submeteram a faloplastias — ou a construção cirúrgica de um pênis a partir de outros tecidos do corpo — e se ofereceram para doar amostras de seu tecido clitoriano. Os tecidos doados foram preservados, corados de azul e ampliados 1.000 vezes sob um microscópio para que um software de análise de imagem pudesse contar as fibras nervosas individuais.

Segundo o estudo, os nervos dorsais amostrados continham uma média de 5.140 fibras. Como cada clitóris possui dois nervos dorsais, isso se traduz em cerca de 10.280 fibras nervosas que resultam nas diferentes sensações no órgão, incluindo o prazer. O resultado ainda precisa passar por uma avaliação de pares, antes de poder ser considerado válido academicamente.

O que mais chamou a atenção de Peters e sua equipe, foi que todas essas 10.000 terminações nervosas se conectam à glande do clitóris — a parte visível do órgão. Isso é curioso, pois se trata de uma região muito pequena para tantas fibras.

Além disso, como o clitóris contém outros nervos menores, além dos dois nervos dorsais, é provável que o número real de terminações nervosas seja ainda maior do que o identificado pelos pesquisadores.

De acordo com Peters, essas descobertas podem ajudar a melhorar os resultados dos procedimentos de faloplastia, ajudando os cirurgiões a selecionar melhor as terminações nervosas para se conectar ao pênis. Essa informação também pode levar a menos danos acidentais do nervo durante outras cirurgias vaginais, melhorando assim a função sexual e a qualidade de vida geral das pacientes submetidas a uma série de procedimentos.
“Compreender melhor o clitóris pode ajudar a todos, independentemente de sua identidade de gênero, mas é importante reconhecer que essa pesquisa só é possível por causa de cirurgias de afirmação de gênero e pacientes transgêneros”, diz Peters.

A falta de conhecimento sobre a anatomia e a função do clitóris é fruto da desvalorização do prazer e tem um impacto direto na vida sexual. É como ter um carro mas não saber dirigir. Isso causa frustração, pois, as únicas referências que nos dão são filmes pornô ou filmes românticos, onde não se vê estimulação do clitóris. Há um foco muito grande na penetração, sendo que essa não é a técnica que melhor estimula o clitóris. Não é um facilitador do orgasmo.

Além disso, muitas mulheres que descobriram por meio da masturbação que a estimulação do clitóris proporciona prazer e orgasmos, acreditam ter um “defeito de fábrica”. Muitas não sabem que o clitóris está ali, como também não sabem que essa é a maneira mais fácil de alcançar um orgasmo.

Muito além de uma compreensão fisiológica e anatômica voltada somente às questões médicas, tenho esperança que as novas descobertas possam naturalizar e desmistificar cada vez mais a sexualidade como um todo, afinal queremos e merecemos sentir prazer!

Fernanda Viana é Sexóloga, Educadora e Terapeuta Sexual. Bacharel em direito, hoje trabalha pelo direito ao prazer e relacionamentos saudáveis. É idealizadora da Loja Lov em Marília e realiza atendimento em seu consultório particular.@fernandavianasexologa

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