Cientistas franceses descobriram que os gatos reagem de forma diferente com seus donos e com pessoas desconhecidas

Seu gato te ignora? Ao vê-lo, você logo dispara “pspsps” e torce para que ele não te deixe falando sozinho mais uma vez? A ciência mostra que essa pode não ser a melhor forma de atrair a atenção do felino e, ao invés de emitir sinais vocais, deveríamos estar fazendo contato visual com eles.

Isso é o que apresenta uma pesquisa desenvolvida pelo Laboratório de Etologia Comparada e Cognição da Universidade de Paris Naterre, na França, e publicada em maio na revista Animals.

No estudo, os pesquisadores constataram que um gato responde mais rápido quando humanos usam sinais vocais e contato visual para chamar a atenção. Também, eles tendem a ficar mais estressados quando são ignorados por nós.

Estudando os felinos

  • 12 gatos moradores de uma cafeteria em Paris tiveram seus comportamentos analisados durante a pesquisa.
  • A primeira etapa consistiu em acostumar os animais com a presença da líder do estudo, Charlotte de Mouzon.
  • Na segunda parte, ela os colocou em diferentes cenários de interação vocal, visual e gestual.
  • Após diversas horas, os cientistas descobriram que os gatos se aproximavam mais de Mouzou quando ela pedia para eles olharem para ela ou fazia contato visual.
  • Isso não é exatamente novidade, já que humanos e animais tendem a prestar mais atenção quando fixam o olhar no alvo.
  • O que chamou a atenção dos pesquisadores foi que, nos testes com estranhos, os gatos responderam mais rápido às pistas visuais do que vocais.
Ao contrário dos cachorros, um gato abanando o rabo não é um bom sinal (Imagem: Mirumir – Shutterstock)

Gatos e o contato visual

Isso surpreendeu os cientistas. Uma pesquisa da mesma instituição francesa, publicada em outubro do ano passado, mostrou que os gatos podem distinguir a voz dos donos da de estranhos. Ou seja, eles identificam quando são chamados pelos tutores.

Nos testes, porém, eles aderiram mais ao contato visual, o que indica que as reações são diferentes quando se trata de pessoas desconhecidas. Isso mostra que não é a mesma coisa para um gato de comunicar com seu dono e um desconhecido.Charlotte de Mouzon, ao Gizmodo EUA

Além disso, as etapas mostraram que os gatos tendem a abanar mais o rabo em cenários de vocalização e quando são totalmente ignorados. Ao contrário dos cachorros, que abanam o rabo quando estão felizes, o resultado indica que os felinos o fazem quando estão estressados ou desconfortáveis.

Seu gato conversa com você, aprenda a ouvi-lo

Quando se trata de gatos, cada movimento pode querer dizer alguma coisa. Ronronando, miando ou mesmo piscando seus olhos, os felinos estão dizendo: “Olá”, “Vem me abraçar” ou “Cai fora, mãe”. Um grande número de donos de animais querem se conectar com seus companheiros peludos, muitas vezes ariscos, e especialistas dizem que há algo a ganhar com essas tentativas de comunicação.

Gatos são muito independentes e facilmente mal interpretados, diz Gary Weitzman, presidente e CEO da San Diego Humane Society, membro da organização internacional de resgate animal SPCA e autor do novo livro da National Geographic “How to Speak Cat” (“Como falar gatês”, em tradução livre). Ele tem como objetivo desvendar todo o mistério do que se passa na mente dos bichinhos ajudando as pessoas a discernir o que os gatos estão tentando transmitir.

O ativista explica que gatinhos podem fazer até 16 sons de “miau” diferentes, e normalmente só os emitem quando pessoas estão ao redor. Os miados podem ser sua maneira de pedir aos donos que os alimentem, façam carinho ou os deixem sair, e quase nunca funcionam como uma forma de comunicação entre gatos.

A diretora-executiva da Faculdade Americana de Behavioristas Veterinários e professora da Faculdade de Medicina Veterinária da Texas A & M University, Bonnie Beaver, conta que isso acontece porque os gatos aprenderam que podem conseguir algo que querem se miarem para pessoas. Ela também é autora do livro “Comportamento Felino: um Guia Para os Veterinários”, de 2003.

Linguagem corporal

O significado de um arranhão ou um assobio agudo é bastante claro – algo entre “Não invada minha bolha, humano!” e “Vá se catar” -, mas os gatos podem falar de maneiras mais sutis, com seus olhos e caudas. Um piscar lento de um felino, por exemplo, é como uma piscadela entre amigos. “Piscar é como um beijo de gatos”, diz Weitzman.

Já o ato de deixar suas caudas retas e apontando para o teto equivale a um aperto de mão humano. Um gato levanta esse apêndice à medida que você se aproxima para mostrar que está feliz em vê-lo.

Testado e aprovado

Depois de ler o livro, Susan McMinn, de Tryon, no estado norte-americano da Carolina do Norte, estava ansiosa para experimentar o exercício de piscar lentamente com sua gata siamesa, Jade. “Eu sentei e pisquei lentamente para minha gata e ela piscou de volta. É claro que eu sei que ela me ama, mas agora sinto que entendo sua comunicação ainda mais”, conta.

Susan é dona de Jade há 10 anos e teve seis gatos ao longo de sua vida. Mesmo assim, ela acha que ainda tem muito a aprender. “E eu pensava que era uma especialista!”, brinca.

Basta ler os sinais

Weitzman afirma que até mesmo os movimentos de orelha ou bigodes significam algo que vale a pena prestar atenção. Se as orelhas de um gato estão planas, não chegue perto, porque ele está assustado ou tendo que enfrentar uma batalha. Por outro lado, um gatinho está feliz, calmo ou amigável quando seus bigodes estão naturalmente apontando para os lados. Duas vezes mais grosso do que um fio de cabelo humano e com raízes três vezes mais profundas, os bigodes os orientam, os ajudam na hora de capturar uma presa e mostram como eles estão se sentindo.

Aprender a se comunicar com os gatos se torna ainda importante para aqueles que adotam um animal de estimação com base apenas na cor ou raça que querem, ao invés de procurar um animal com o qual tenham uma conexão.

No Happy Cats Sanctuary, em Medford, Nova York, um potencial proprietário pode chegar no local e pedir por um gato branco com pelo macio, por exemplo. Contudo, a diretora de comunicações e de desenvolvimento da instituição, Melissa Cox, aconselha que os futuros donos de animais não procurem apenas pela aparência, porque só se pode verificar com certeza a compatibilidade entre animal e dono passando tempo juntos, para que possam se conhecer. Talvez, vale a pena também dar uma olhada na obra de Weitzman e tornar tudo mais fácil. [Phys.org]

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