Tem sido um drama recorrente: centenas de brasileiros que desembarcaram em Portugal não têm como alugar um imóvel acessível e digno. Principalmente em Lisboa, cidade com o preço do aluguel mais caro da Europa. Como resultado, uma parte dos recém-chegados engrossa o número da população de rua no país.

Dados da Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem Abrigo 2017-2023 (Enipssa), informam que há cerca de 9,6 mil pessoas vivem nas ruas. Na área metropolitana de Lisboa, aproximadamente 17% são de outros países, onde estariam incluídos os brasileiros, que não são listados especificamente no último relatório, de 2021.

Os números podem estar defasados e quem apoia a população de rua afirma que foi possível ver ao longo deste ano o aumento na capital de pessoas morando em barracas ou debaixo de marquises.

O problema é um reflexo da crise de habitação que atinge todo o país. Muitas delas são brasileiros recém-chegados, que investiram o que tinham para emigrar, explica Nuno Jardim, diretor do Centro de Apoio ao Sem Abrigo (Casa).

— Há bastante estrangeiros, muitos recém-chegados do Brasil, África, Nepal e Oriente Médio e sem ter para onde ir em Portugal. Acabam nas ruas, pedindo ajuda, como é o caso de pessoas do Brasil que damos apoio social porque estão sem nada — disse Jardim ao blog.

Com a chegada do outono e das temperaturas mais baixas, a Estação Oriente virou refúgio do frio e da chuva. Pelo menos 100 pessoas, entre brasileiros, portugueses e outros estrangeiros, vivem nas ruas ao redor ou no piso inferior do terminal de transportes da capital, como comprovou o Portugal Giro.

Mais segura e quente que as ruas, a estação Oriente é um terminal gigante, um dos maiores do país, que reúne linhas de metrô, trem e ônibus. Milhares de pessoas caminham por ali diariamente por um longo corredor de camas improvisadas com cobertores e lençóis sobre malas, bolsas e sacolas plásticas.

Os dormitórios improvisados ficam montados durante todo o dia, quando os donos saem para tentar arrumar trabalho ou buscar alimentação. Existe um banheiro gratuito no piso, que é usado de maneira comunitária por aqueles que vivem na estação, mas também por passageiros.

Os brasileiros têm vergonha de revelar o nome e o rosto porque escondem das famílias a situação em que se encontram. Contam que saíram do Brasil em busca de uma vida melhor e deixaram familiares nas cidades de origem enquanto tentam se estabilizar e enviar dinheiro. Mas encontraram uma realidade mais dura em Portugal.

— Muitos brasileiros chegam pensando que Portugal ainda está nos anos 1990. Estão vindo com uma mão na frente e outra atrás e não encontram trabalho, imóvel e a documentação demora muito tempo para ficar pronta neste período de mudança no órgão de imigração — explicou Jardim.

As pessoas que passaram a dormir na Oriente dizem que se sentem mais protegidas do frio e de possíveis furtos na rua. Mas mesmo com policiamento interno na estação, há brigas e discussões.

— Mesmo assim, os brasileiros e outros imigrantes dizem que preferem Portugal porque é um país mais seguro que as suas cidades de origem — opina Jardim.

Parte dos brasileiros encontram trabalhos temporários rapidamente, mas o salário baixo não permite que paguem o valor do aluguel de um quarto em boas condições de habitação, segurança e privacidade. Além do preço alto, há escassas vagas no centro da cidade e muitos têm optado por morar em barracas, como mostrou a coluna.

Ao contrário dos empresários e demais brasileiros que desembarcaram com trabalho ou rendimentos e que encontraram certa estabilidade em Portugal ao longo dos últimos anos, os recém-chegados têm pela frente um cenário econômico desafiador. Deixaram o Brasil com pouco dinheiro de reserva, que pode se esgotar em poucas semanas devido ao câmbio desfavorável em relação ao euro e à inflação.

— O que está acontecendo é que os valores necessários para levar uma vida decente em Portugal subiram bastante para toda a população. Nem o salário médio tem sido suficiente. A fasquia (sarrafo) subiu — diz Jardim.

DIRETO DA REDAÇÃO COM INFORMAÇÕES DE O GLOBO

error: Conteúdo protegido por direitos autorais.