O aspartame, um tipo de adoçante, foi considerado possivelmente cancerígeno pela OMS; entenda o que isso significa na prática

Na última quinta-feira (13), a Organização Mundial da Saúde (OMS) adicionou aspartame, um dos adoçantes mais utilizados, na lista de produtos alimentícios possivelmente cancerígenos, caso utilizado em uma dose maior do que a recomendada por órgãos de saúde. Na sexta-feira (14), entretanto, a Anvisa ressaltou que mantêm a recomendação do consumo do aspartame, já que não houve alteração do perfil de segurança para o consumo do produto.

O aspartame é um tipo de edulcorante, isto é, uma substância usada para adoçar no lugar do açúcar e que não tem valor calórico, ou que possui um valor calórico baixo na quantidade que vai ser utilizada. Comumente, edulcorantes são chamados de adoçantes. No caso do aspartame, ele pode ser 180 vezes mais doce que o açúcar.

A professora da Faculdade de Farmácia e Nutrição da UFMG, especialista em qualidade de alimentos, Flávia Beatriz Custódio, explica que mesmo sendo considerado um alimento potencialmente cancerígeno, os riscos à saúde causados pelo aspartame vão depender da quantidade ingerida e da frequência. 

“Todos esses aditivos passam por avaliações toxicológicas que dizem qual que é a dose ou a quantidade necessária para uma substância causar um dano no organismo, e quais seriam esses danos. Então, não é em qualquer quantidade que pode acontecer esses efeitos adversos, a gente precisa entender essa quantidade que a população está consumindo para saber se isso seria crítico ou não”, explica a especialista, que também faz parte do Grupo Técnico de Contaminantes em Alimentos, coordenado pela Anvisa. 

Em quais produtos têm aspartame?

O aspartame costuma ser usado em alimentos que se denominam “light”“diet”, ou “zero”, sejam bebidas, sobremesas, doces, laticínios ou chicletes, e pode ser encontrado em mais de 600 medicamentos, além de no adoçante de mesa. Estima-se que, atualmente, mais de 200 milhões de pessoas consomem o aspartame regularmente.

Em 1980, foi estabelecido que a ingestão diária aceitável de aspartame seria de 40mg por quilo. Um refrigerante zero costuma levar entre 200 a 300 mg de adoçante. Isso significa que, para passar da dose permitida, um adulto de 70 quilos precisaria consumir entre 9 e 14 latas da refrigerante diet por dia.

“A gente sempre considera que todas as substâncias são tóxicas, só que depende da dose e da quantidade. Não basta uma substância estar no alimento, eu tenho que pensar qual que é essa quantidade, quanto que eu consumo desses alimentos e a frequência. Outros fatores relacionados à vida, saúde, e a própria genética, impactam na possibilidade de formação de um câncer ou não. Todas as práticas, tudo que a gente vive, consome, atividade física, tudo isso impacta na saúde e pode impactar nessa possibilidade de ocorrência ou não de um câncer”, explica Flávia Custódio.

Devo parar de consumir adoçantes?

A especialista explica que entre todos os edulcorantes com o uso permitido, o aspartame foi o primeiro a ser considerado possivelmente cancerígeno. Por isso, ela ressalta que não há urgência para interromper o uso dos adoçantes sintéticos, nem mesmo no caso do aspartame, já que para causar algum risco a longo prazo dependeria da quantidade consumida. 

Ainda assim, Flávia Custódio destaca que a recomendação atual da Sociedade Brasileira de Diabete é reduzir o consumo de alimentos açucarados, e não simplesmente substituir o açúcar por adoçantes. Ela ainda destaca que, para evitar uma possível intoxicação, o mais indicado é variar os adoçantes usados, ao invés de usar só um tipo.

“A minha recomendação é variar as substâncias, porque às vezes as pessoas se prendem a um edulcorante específico, e esse não é o melhor caminho. Você pode utilizar substâncias distintas, variando a frequência e a quantidade. Agora, o melhor é a gente reduzir a quantidade de açúcar sem utilizar o edulcorante”.

Reduzir e não substituir

Uma pesquisa da UFMG chegou à conclusão que pessoas que não possuem restrições alimentarem estão usando mais edulcorantes do que pacientes com diabete. A principal suspeita de Flávia Custódio é que os pacientes diabéticos fazem um acompanhamento mais rigoroso, e por isso entendem que é mais saudável não usar nenhum tipo de adoçante para substituir o açúcar. 

“Isso mostra que a gente não precisa substituir o açúcar, a gente pode fazer essa redução de açúcar e ir administrando a quantidade que a gente está consumindo, ainda mais se a gente não tem uma restrição. Não é algo restritivo, mas pensando numa qualidade de vida, pensando na questão sensorial e nutricional, é sempre positivo reduzir o açúcar ao invés de substituir. Pense na quantidade e na frequência que isso é feito, consumindo menos açúcar e variando esses edulcorantes”.

Outros tipos de adoçante:

  • Sacarina: primeiro adoçante artificial a ser descoberto, adoça 300 vezes mais que o açúcar;
  • Ciclamato de sódio: adoçante artificial derivado do petróleo, adoça 30 vezes mais que o açúcar;
  • Sucralose: adoçante artificial extraído da cana-de-açúcar, adoça 600 vezes mais que o açúcar;
  • Stevia: adoçante natural extraído da planta Stevia rebaudiana, adoça 300 vezes mais que o açúcar;
  • Eritritol: adoçante natural extraído de frutas e legumes, adoça o equivalente a 70% do açúcar;
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