Aplicação da dose vencida compromete a imunização da pessoa; 1.532 municípios do país usaram os imunizantes vencidos de oito lotes até 19 de junho

Um novo escândalo vem a tona na tarde de hoje com respingos na cidade de Marília. Dados oficiais do Ministério da Saúde divulgados pela Folha de S. Paulo nesta sexta-feira (2) mostram que 1.532 municípios aplicaram 26 mil doses da vacina AstraZeneca fora do prazo de validade. As cidades mais afetadas foram Maringá (3.536 pessoas), Belém (2.673) e São Paulo (996).

Também estão na lista as cidades de Nilópolis (RJ), com 852, e Salvador (BA), com 824. Segundo a matéria, outras cidades aplicaram menos de 700 vacinas vencidas, e em algumas não passou de dez doses. A cidade de Marília tem 32 CASOS REGISTRADOS segundo os dados divulgados.

As doses fazem parte de oito lotes que venceram entre 29 de março e 4 de junho. Ainda há 113.976 doses desses lotes que não tinham sido aplicadas até 19 de junho. Essas vacinas vieram do Instituto Serum, da Índia, e da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), e foram distribuídas aos estados pelo Ministério da Saúde antes de encerrado o prazo de validade.

Para chegar a informação, o (M)Dados, a Folha utilizou a mesma dinâmica do núcleo de jornalismo de dados do conceituado Jornal Metrópoles publicado no dia 30 de abril deste ano, e reproduzido pelo JORNAL DO ÔNIBUS DE MARILIA cruzando as informações oficiais sobre vacinas aplicadas( opendatasus.gov.br/dataset/covid19 ) com os registros de envios de imunizantes para as unidades da federação, onde constam a data de vencimento para cada lote.

Apenas para recordar, segundo os dados divulgados com a relação das cidades que receberam os lotes, Marília foi na ocasião, a terceira cidade do país que mais aplicou doses vencidas e a segunda do estado de São Paulo, perdendo apenas para Dracena, onde o prefeito municipal com muita humildade e sinceridade, admitiu o erro e tomou as devidas providências conforme o vídeo publicado pelo mesmo. Segundo os dados, Marília teria aplicado 51 doses vencida da mesma Aztrazeneca.

Curiosamente, em uma entrevista concedida em uma emissora local, o secretário municipal da saúde, Cássio Luis Pinto, negou a possibilidade e afirmou que já havia detectado um problema no cruzamento de dados induzindo a informação dos sites ao erro. Segundo o secretário, na época, as vacinas eram e ainda são distribuídas pela DRS-São Paulo e são checadas tanto lá como aqui, no momento em que são entregues.

No entanto, quando questionado pelo jornalista se houve um contato prévio com o Ministério da Saúde, o mesmo se esquivou e disse que estaria no momento se deslocando para uma reunião para tratar do assunto. Pelo que foi divulgado na emissora local ( Radio Clube de Marília ) e pelos sites de noticias mencionados, conforme os dados do próprio Ministério da Saúde, o lote aplicado foi o de nº 4210Z001 e teria sido aplicada no mutirão realizado na comunidade Ágape, zona leste da cidade no inicio do mês deste mês de Abril.

Prefeito Daniel Alonso confirma que...

Com isso a expectativa é saber se o secretário Cássio Luis Pinto Junior e o Prefeito Daniel Alonso virão a público para confirmar a errata ou novamente divulgar uma nota alegando erro nos dados do Ministério da Saúde. O espaço está aberto para explicações.

É possível saber se você tomou uma dose vencida a partir do registro do lote do imunizante, indicado no registro de vacinação. Estavam vencidos os seguintes lotes: 4120Z001; 4120Z004; 4120Z005; CTMAV501; CTMAV505; CTMAV506; CTMAV520; 4120Z025.

Confira os locais em que foram aplicadas as 32 vacinas vencidas em Marília segundo o levantamento realizado.

Vale lembrar que a validade das vacinas depende de como ela é produzida, de acordo com a tecnologia e insumos utilizados.

Como prevê o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação, quem tomou o imunizante vencido deve se revacinar pelo menos 28 dias depois da dose. Se você recebeu uma dose fora de validade, procure um posto de saúde com sua carteira de vacinação para receber orientações.

A AstraZeneca é o imunizante mais utilizado neste ano no Brasil e representa 57% das doses aplicadas. Há, ainda, 114 mil doses desta vacina que venceram, mas ainda não se sabe se foram descartadas ou seguem sendo utilizadas.

 (crédito:  Juan MABROMATA/ AFP)

O que fazer?

O documento de operacionalização da vacinação no Brasil diz que indivíduos que tomaram doses vencidas devem ser notificados para que saibam do erro de imunização através do e-SUS Notifica e devem ser acompanhados em relação ao desenvolvimento de eventos adversos.

“A dose não deverá ser considerada válida, sendo recomendada a revacinação destes indivíduos com um intervalo de 28 dias da dose administrada”, diz o documento do Ministério da Saúde. Portanto, se você foi uma das pessoas contempladas, deve procurar imediatamente a unidade de saúde de seu bairro.

PNI tem regras para aplicação

Paulo Almeida, diretor executivo do Instituto Questão de Ciência (IQC), afirma que há regras a serem seguidas no que diz respeito ao manuseio e controle da aplicação das vacinas contra a Covid-19.

“Todas as doses aplicadas precisam ser imediatamente informadas no site SI-PNI ou armazenadas em algum mecanismo local, como papel ou Excel, e após serem aplicadas devem ser incluídas na plataforma”, diz.

No documento de operacionalização do Plano Nacional de Imunização (PNI) há a menção da necessidade de indicar problemas com as doses, como unidades perdidas ou quebradas, e também de apontar a data de validade.

“A responsabilidade inicial da aplicação da vacina é de quem está com as doses em mãos, ou seja, do local de aplicação, na ponta. Naturalmente, tem uma parte da responsabilidade com o governo federal por ter demorado para enviar as doses e não ter feito o controle adequado, inclusive, para avisar os locais que estavam com as doses prestes a vencer. Assim, era possível ter feito um mutirão de vacinação, por exemplo. É um erro global da estratégia de aplicação. Faltou acompanhar e ver que isso estava acontecendo”, avalia Almeida.

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