Moradores das proximidades do cemitério da saudade de Marília entraram em contato com a redação do JORNAL DO ÔNIBUS DE MARILIA para relatar uma situação preocupante com um morador de rua. A questão apresentada por eles, não se refere ao eventual incômodo, mas sim pela preocupação em uma vida ser ceifada pelas baixas temperaturas em razão do abandono.

L.R.S, 52 anos denuncia a falta de de ação do poder público municipal em prol da população em situação de rua em razão da baixas temperaturas. Como de praxe, a secretaria, segundo ele, alega que todas as providências tem sido tomadas, no entanto, não pode obrigar ninguém a vir para o abrigo, pois os mesmos hoje seriam escolados e se baseiam na constituição para se recusar quando são abordados.

O “morar na rua” não é apenas um problema social, mas também um problema público: ele ocupa um lugar incontornável no espaço público, midiático e político (regulamentar, legislativo) e nos espaços públicos urbanos (ruas, praças, jardins públicos, espaços intersticiais). Sua dimensão pública associa de forma inextricável os desafios políticos e urbanos: a presença de pessoas sem abrigo nos espaços urbanos interroga as capacidades das nossas democracias a enfrentar a exclusão dos mais vulneráveis, seja pelas acomodações cotidianas da urbanidade seja pela ação pública na qual estão engajados associações e poderes públicos”. (Choppin, Gardella, Jouve e Pichon, 2013, p. 101

Boletim divulgado pelo IPMet ( Instituto de Pesquisas Meteorológicas ) da Unesp de Bauru diz que Marília registrou mínima de 5°C nesta quinta-feira (19) e que amanhã, sexta feira, os termômetros deverão marcar 7°, no entanto, a cidade registrou na madrugada de ontem, quarta feira (18), a temperatura mais fria do ano, com sensação térmica de 0,6°C. O banco de dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMet) aponta que a temperatura na cidade chegou a 4,9°C.

Não queremos com esta matéria criar um sensacionalismo em cima de um fato, mas é uma realidade que não pode ser camuflada e sim enfrentada. A população em situação de rua não só em Marília, mas, no Brasil não apenas cresceu em ritmo avassalador com a crise econômica e social do país em meio à pandemia, nos últimos dois anos, mas também mudou drasticamente de perfil. 

De acordo com pesquisas acadêmicas recentes e informações do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), as mulheres, e consequentemente crianças, passaram a ser um contingente bastante expressivo dessa população. “A população de rua é um gráfico crescente desde sempre. Não conseguimos perceber, em nenhum momento da história, a diminuição das pessoas em situação de rua, porque elas sempre foram invisíveis para a política nacional. Tanto é que ainda nem temos uma contagem dessa população pelo IBGE. Isso está previsto agora, mas vai ser uma contagem parcial, porque vão fazer contagem de moradias precárias, barracas, etc. Pessoas que dormem em papelão, em marquises, não deverão ser contabilizadas”, prevê Darcy Costa, ex-morador de rua e hoje secretário nacional do MNPR.

A cidade de Marília não possuí tradições em movimento sociais por ser historicamente um município conservador e toda e qualquer iniciativa que se direcione para este objetivo acaba sendo aniquilada, como aconteceu com o CAMOM ( Conselho das Associações de Moradores de Marília ) que até 2008 lutava bravamente pela implantação de entidades e órgãos representativos de classe para a luta por melhorias na qualidade de vida e em defesa destes excluídos.

O que se cobra neste momento não são palavras ideológicas ou tampouco legalistas, mas, atos humanitários que estão bem acima de uma abordagem social fria. Este histórico em Marília que já foi marcado até por um combate feito a base de pancadarias e choque elétrico, precisa desenvolver uma metodologia que possa pelo menos nos fazer recordar da antiga FUMARES e outros trabalhos realizados que infelizmente foram perdendo a sua essência nos últimos anos.

Para quem caminha pela avenida Brasil, rua das indústrias, avenida João Ramalho e tantas outras, confronta com uma realidade semelhante a mostrada na foto que ilustra a matéria. A única diferença é que os mesmos simplesmente dormem no chão. Definitivamente distribuir somente cobertores não é solução.

Recentemente na câmara municipal foi aprovada uma lei para a implantação do aluguel social para mulheres vítimas de violência. Projeto de relevante importância, mas, o que falta em nossa cidade é uma política mais séria para a habitação de interesse social e que pode até contemplar o aluguel social para moradores de rua com um projeto de inclusão social e geração de renda.

É preciso reativar o setor de desenvolvimento de projetos sociais, pois, recursos para isto estão sobrando em Brasilia, que nos desculpem os espaços físicos como centro pop ou casa da cidadania. É preciso ter o desconfiômetro que eles, assim como todos, sonham com a privacidade e a cidadania, só isto.

Em verdade, vos digo; “O morador de rua não se vê como cidadão. E não se vê como alguém que tem direitos. Acredito que haja uma desesperança crônica. Habituam-se a conviver com problemas de saúde, e os problemas acabam virando crônicos. Porque eles não têm mais esperança, não acreditam numa solução. Muitas vezes não acham nem que mereçam.

É preciso trabalhar isso, criando vínculo, ganhando confiança, e depois tentando mostrar a eles que há possibilidade de se cuidar e ser cuidado, buscar trabalho, uma vida diferente. Sempre respeitando o desejo de cada um. A ideia não seria obrigar ninguém a mudar de vida, mas sim, ser ponte, apontar caminhos possíveis, formar redes, ajudar a população de rua a resgatar sua cidadania, para que cenas como estas, possam ser evitadas por incrível que pareça à poucos metros de um cemitério. Em nosso ponto de vista, são vidas humanas, e merecem um olhar mais humanitário, social e solidário por parte da administração e do setor competente.

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