O fato não aconteceu em Marília, mas, pela gravidade, chama a atenção pelo péssimo exemplo e também para alertar as mulheres neste período de pandemia e quarentena, onde os números de divórcios e violência contra a mulher cresceram de forma assustadora. Confira;

Sem poder sair de casa sozinha nem pedir ajuda por telefone, uma mulher de 46 anos escreveu um bilhete para denunciar o próprio marido, de 49, que segundo ela a vigiava e ameaçava havia oito anos. Ela mostrou o bilhete ao filho, que o fotografou e levou à delegacia. O marido foi preso na última quarta-feira (8) por policiais da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) Oeste, em casa, em Campo Grande (zona oeste do Rio), sob acusação de cárcere privado, cuja pena varia de dois a cinco anos de prisão.

Segundo a delegada Mônica Areal, responsável pela investigação, o marido vigiava a mulher inclusive durante as visitas do filho do casal, para que ela não o denunciasse. Na quarta-feira, porém, ela aproveitou uma distração do marido, durante mais uma visita do filho, para mostrar a ele um bilhete no qual denunciava a situação. “Não estou podendo falar contigo pelo meu zap (Whatsapp). Estou sendo coagida pelo Henrique. Ele fica o tempo todo atrás de mim vendo o que faço e me ameaçando. Não tenho como sair, estou (…) sendo torturada psicologicamente, moralmente e passando por constrangimentos horríveis”, escreveu a mulher. O filho fotografou o bilhete e levou a imagem à delegacia.

À Polícia Civil, o filho afirmou que havia desconfiado de algo errado entre os pais porque, quando visitava o casal, a mãe permanecia muito calada e retraída. Um outro familiar acompanhou o filho à delegacia e também relatou suspeitas. Mas nenhum deles fazia ideia do que estava acontecendo.

Quando a polícia chegou à casa, o suspeito demorou a abrir a porta, mas não resistiu à prisão e permaneceu calado, segundo a polícia. Já a mulher estava muito nervosa: “Ela mal conseguia falar. Contou que tentou fugir, mas não conseguiu. Procurou a delegacia (por telefone), mas não conseguiu formalizar a queixa (porque tinha que ir pessoalmente). Ela vivia tão oprimida, tão dominada pelo marido que, no momento da prisão, ficou quietinha, calada num canto da porta. Deu pra perceber o nível de dominação que ele tinha sobre ela”, afirmou a delegada ao portal G1. “Ela não falava sem autorização dele. Só depois que o prendemos ela nos contou o que acontecia. Ela tentou se libertar dele, mas acabou sendo espancada, e também sofria muitas ameaças“, disse à imprensa.

A Polícia Civil ainda investigará as denúncias de violência física contra a mulher e, se confirmar, indiciará o marido também pelas lesões corporais. Além disso, a pena pelo cárcere privado pode aumentar para de dois a oito anos de prisão.

Segundo a polícia, até esta quinta-feira, 9, o marido não tinha advogado. A reportagem não conseguiu localizar representantes dele para se pronunciar sobre as acusações.

Notícias ao Minuto

Desde o início do isolamento social, o número de denúncias contra violência doméstica cresceu em todo o país, sendo que, foi constatado que elas enfrentam mais um problema: a dificuldade em denunciar os agressores. Só em abril, esse dado aumentou 35% em relação ao mesmo mês de 2019, segundo a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos. Diante desse cenário o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) lançaram em 10 de junho deste ano a campanha Sinal Vermelho para a Violência Doméstica. A iniciativa tem como foco ajudar mulheres em situação de violência a pedirem ajuda nas farmácias do país.

“O objetivo da campanha foi oferecer um canal silencioso, permitindo que essas mulheres se identifiquem nesses locais e, a partir daí, sejam ajudadas e tomadas as devidas soluções. É uma atitude relativamente simples, que exige dois gestos apenas: para a vítima, fazer um X nas mãos; para a farmácia, uma ligação”, disse a coordenadora do Movimento Permanente de Combate à Violência Doméstica do CNJ, conselheira Maria Cristiana Ziouva.

O protocolo é, de fato, simples: com um “X” vermelho na palma da mão, que pode ser feito com caneta ou mesmo um batom, a vítima sinaliza que está em situação de violência. Com o nome e endereço da mulher em mãos, os atendentes das farmácias e drogarias que aderirem à campanha deverão ligar, imediatamente, para o 190 e reportar a situação. O projeto conta com a parceria de 10 mil farmácias e drogarias em todo o país. Confira aqui a lista com as redes de farmácia que assinaram o termo de adesão à campanha.

A criação da campanha é o primeiro resultado prático do grupo de trabalho criado pelo CNJ para elaborar estudos e ações emergenciais voltados a ajudar as vítimas de violência doméstica durante a fase do isolamento social. O grupo foi criado pela Portaria nº 70/2020, após a confirmação do aumento dos casos registrados contra a mulher durante a quarentena, determinada em todo o mundo como forma de evitar a transmissão do novo coronavírus. Em março e abril, o índice de feminicídio cresceu 22,2%, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

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