Há um ano, quando o partido da família Bolsonaro, o Aliança do Brasil, foi lançado com pompa e circunstância em Brasília, o senador Flávio Bolsonaro fazia sua projeção sobre a homologação da sigla no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O filho 01 de Jair Bolsonaro garantia que, até o fim de 2019, a legenda teria as 492 mil assinaturas necessárias para ser criada. O ano passou, 2020 também, e o Aliança continua no papel. Seus dirigentes têm mantido o otimismo e até criaram uma nova meta tão audaciosa quanto àquela projetada por Flávio.

Agora, o plano é entregar ao TSE todas as assinaturas até 31 de janeiro e aprovar a criação da legenda assim que a corte voltar do recesso, em fevereiro. Hoje, porém, só 42 mil fichas de apoiamento, ou seja, cerca de 9% do necessário, foram validadas pelo tribunal.

– Temos mais de 180 mil fichas de apoiamento que aguardam análise no TSE, vamos apresentar cerca de 50 mil nos próximos dias, e fizemos um mutirão onde conseguimos outras 40 mil assinaturas – disse o vice-presidente da legenda em formação, Luís Felipe Belmonte.

Os números dos integrantes do Aliança pelo Brasil, porém, não batem com os dos TSE. Segundo a corte eleitoral, a sigla não tem 180 mil assinaturas pendentes de análise, e sim, 11.558, incluindo aquelas que chegaram e ainda estão paradas no tribunal. O TSE também informa que há 103.482 assinaturas entregues, mas sem a apresentação da documentação comprobatória exigida. Além disso, mais de 38 mil assinaturas já foram rejeitadas e outras 55 estão em fase de análise de impugnação.

Independentemente do futuro do Aliança pelo Brasil, Bolsonaro não decidiu se a sigla será mesmo sua legenda.

Partidos disputam filiação de Bolsonaro de olho em 2022. Veja quem está no páreo

Pouco mais de um ano após deixar o PSL e sem perspectivas concretas de viabilização do Aliança pelo Brasil, o presidente Jair Bolsonaro tem na mesa propostas para se filiar ao PP, ao Republicanos e até mesmo ao nanico Patriota de olho nas eleições gerais de 2022. O PR também está de olho no presidente e nem mesmo um eventual retorno ao PSL é descartado.

Aliados do presidente da República têm aconselhado Bolsonaro a definir o quanto antes seu rumo político e iniciar um trabalho de base e coeso para as próximas eleições, com o intuito de voltar a fortalecer candidaturas consideradas de direita e/ou conversadoras.

A Grande imprensa mostrou que integrantes da bancada bolsonarista na Câmara atribuem a falta de uma unidade partidária, aliada a uma queda da popularidade de Bolsonaro em determinados estratos sociais, como fator que dificultou a eleição de políticos identificados com a pauta da direita conservadora em todo o país.

Apesar disso, a tendência é que Bolsonaro defina isso apenas no início do ano que vem. O presidente da República sinalizou a aliados que ainda não é momento de se falar em uma nova filiação. Ele pretende observar como ficará a divisão de forças no Congresso após o processo de sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na Câmara e de Davi Alcolumbre (DEM-AP) no Senado.

O presidente deixou o PSL em novembro do ano passado, após conflitos com o presidente do partido, Luciano Bivar, por conta do controle do fundo partidário da sigla. Integrantes da chamada ala bolsonarista do PSL queriam ter mais acesso a recursos do fundão, o que foi vetado por Bivar. Assim, Bolsonaro deixou o partido e encabeçou a criação do Aliança pelo Brasil.

Hoje, um ano depois, o Aliança pelo Brasil conseguiu homologar apenas 42 mil assinaturas das 492 mil necessárias para que o partido saia do papel. Sem um apoio claro do presidente, entusiastas do Aliança já falam nos bastidores que as chances de que a sigla seja instituída são diminutas.

Entre os partidos que negociam a filiação de Bolsonaro, PP, Republicanos e Patriota são apontados como favoritos. Membros do Palácio do Planalto, contudo, ressaltam que essa é uma decisão de caráter exclusivo do presidente. E que, como já ocorreu em outros momentos do governo, é possível que Bolsonaro adote um caminho que surpreenda a todos.

Ele, porém, já deixou claro a aliados que busca por uma legenda com boa estrutura partidária, em que tenha liberdade para comandar os rumos da sigla e que também possa abrigar deputados aliados que vem apoiando o seu governo.

Em relação ao PP, dois fatores pesam favoravelmente ao partido. O Partido Progressista foi a sigla pela qual Bolsonaro passou mais tempo na política – 11 anos, entre 2005 e 2016 – e é a legenda que tem o maior capital político eleitoral entre as citadas. Em 2020, o partido teve à disposição R$ 140 milhões para disputar as eleições municipais, por exemplo.

Além disso, quando Bolsonaro deixou o PP, houve um comum acordo entre ele e o presidente da sigla, o senador Ciro Nogueira (PP-AL). Na época, o partido não acreditava em uma candidatura própria a presidente da República e foi por esse motivo que Bolsonaro buscou abrigo em outras agremiações.

Alguns membros do PP já admitem nos bastidores que, após ganhar 682 prefeituras em 2020 (184 a mais que em 2016), é chegado o momento de se disputar uma eleição majoritária para Presidência da República e Bolsonaro seria um nome ideal. Uma disputa majoritária, na visão de alguns caciques, colabora para aumentar o número de cadeiras na Câmara e no Senado. Por outro lado, há receios entre membros da sigla de que o histórico conflituoso de Bolsonaro possa trazer problemas para o partido.

O deputado Fausto Pinato (PP-SP), com base eleitoral na região de Marília e Tupã, é um dos maiores críticos de um eventual retorno de Bolsonaro para a sigla. “Ele tem que se enquadrar a uma direita moderada, racional e reformista. O PP não pode ser centro de terapia para olavistas (seguidores do escritor Olavo de Carvalho), pois essa linha já está implodindo o Brasil no exterior”, disse.

Republicanos e Patriota têm ideologia mais alinhada ao bolsonarismo
O Republicanos, do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, é a sigla de preferência do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente da República. Desde o ano passado, o partido tem feito acenos a Bolsonaro e nas eleições de 2020 apoiou nomes indicados pelos filhos do presidente na disputa municipal, como o de Rogéria Bolsonaro, ex-esposa do presidente da República.

Do ponto de vista ideológico, o Republicanos também seria uma sigla que poderia abrigar deputados que racharam o PSL. Entre outras afinidades, a agremiação tem ligação direta com a bancada evangélica, por exemplo. Além disso, a amizade de Bolsonaro com o presidente do partido, o deputado Marcos Pereira (SP), favorece o ingresso de Bolsonaro. Porém, assim como ocorre no PP, o estilo bélico do ex-capitão do Exército também não é bem visto pela base do partido.

Se depender da bancada bolsonarista na Câmara, o Patriota será o próximo partido de Bolsonaro. Aliados do presidente, como o deputado Bibo Nunes (PSL-RS), têm defendido essa alternativa caso o Aliança pelo Brasil não saia do papel. No Patriota, Bolsonaro teria uma liberdade maior que no PP e no Republicanos. Além disso, a legenda é vista como uma boa alternativa para abrigar deputados conservadores e mais alinhados à direita.

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