Com ideologias políticas diferentes, eleitores reproduzem xingamentos, ofensas, rompem relações e chegam a descartar amigos e até mesmo familiares

Nos últimos anos, debates sobre política chegaram à mesa do bar, ao ponto de ônibus, às reuniões com amigos e familiares e extravasaram o diálogo saudável. Em muitos casos, as discussões avançaram para a violência física e os rompimentos familiares e desfizeram laços de amizade. 

Muitos foram cancelados das redes sociais, dos grupos de WhatsApp por se colocarem em “lados opostos” da ideologia política. E você, o que acha desse tipo de polarização?

A pouco mais de 20 dias das eleições, a editoria do JORNAL DO ÔNIBUS DE MARILIA, preparou o especial “Política Além do Voto”, que traz esses questionamentos, reflexões e informações sobre polarização política, cidadania, fake news, esferas de poder, participação e um servição sobre o dia da votação

Política Além do Voto

Política não começa nem termina nas urnas. É muito mais do que escolher um candidato. Envolve todas as relações humanas em um espaço comum que, embora organizado e administrado por indivíduos, tem como foco o bem coletivo. E fazer política é muito mais do que votar. Está nas escolhas de como agir ou até mesmo do que consumir. E é preciso lembrar que ela está acima de divergências partidárias ou ideológicas. A política está na consciência da cidadania em cada decisão do dia a dia.

Um ano eleitoral mobiliza as pessoas a pensar em propostas que gostariam de ver realizadas em seu bairro, sua cidade e no país. Pressupõe-se que, para a maioria delas, renovam-se as esperanças de melhorias e avanços em vários segmentos da sociedade, com foco no maior bem-estar coletivo. Esta foi a ideia inicial, inclusive, do conceito de cidadania, nascido na Grécia oito séculos antes de Cristo, em quem os cidadãos – “politikos” – que viviam na “pólis” (cidade) deveriam coexistir em harmonia, num espaço com qualidade de vida, organização e ética.

De acordo com o sociólogo e especialista em administração pública Roni Raggi, professor do Centro Universitário Una, a cidadania nasce com a vertente de criar o bem-estar político, num contexto em que o cidadão participaria e seria agente do bem-estar coletivo. De lá pra cá, grandes transformações ocorreram.

“Na Revolução Francesa, em 1789, (o filósofo suíço Jean-Jacques) Rousseau traz a fundamentação da cidadania vinculada ao direito e ao dever, civil e individual, de forma a regulamentar o desenvolvimento de ação para a democracia (“demo” = povo; “cracia” = poder), ou seja, o poder que emana do povo. A partir daí, quando se cria o conceito de direitos e deveres para participação social, política e civil, você dá ao indivíduo essa responsabilidade, você o implica nessa prática de exercer a cidadania em busca da democracia”, explica Raggi.

Atos diários. O fazer política vai muito além de só votar no dia da eleição. Atos diários refletem as escolhas políticas que adotamos individualmente e quase sempre com algum impacto no coletivo, quando, por exemplo, desrespeitamos uma fila no banco; estacionamos em locais públicos onde há cobrança e não pagamos; ou, na outra ponta, escolhemos produtos de empresas que condenam trabalho escravo; buscamos consumir produtos locais para evitar impacto ambiental; ou valorizamos organizações que mantêm em dia sua política de diversidade e respeito aos seus colaboradores. Tudo isso são escolhas políticas. Além do campo ideológico da política, é necessário que as pessoas partam para o aspecto prático de exercer a cidadania. Uma delas é não apenas lembrar em quem votaram nas últimas eleições, mas acompanhar o que fizeram.

Segundo a professora do Departamento de Ciências Sociais da PUC Minas Karina Junqueira, é preciso refletir por que não temos uma educação voltada para a democracia e por que a escola não ensina isso. “Aprendemos a ser democráticos sendo. A população brasileira está envelhecendo, e precisamos olhar para os jovens como força de mudança, afinal, eles estiveram presentes em todos os momentos de luta pela jovem democracia brasileira – movimento dos caras-pintadas, em 1992; manifestações de 2013 pelo passe livre; ocupação das escolas secundaristas por mudanças na educação, em 2015”, diz.

Na visão de Karina, os jovens se organizam muito bem, embora não mais por meio dos antigos formatos, como sindicatos, mas via redes sociais e coletivos. “Eles estão muito antenados com o que está ocorrendo no país. Para se ter ideia, houve aumento de 51% nos pedidos de títulos de eleitor por brasileiros de 16 e 17 anos este ano, se compararmos os pleitos de 2018 e 2022. Eles são uma força eleitoral muito expressiva, e as propostas terão ainda mais sucesso se contemplarem a juventude”, acrescenta.

DIREITOS HUMANOS

Cento e cinquenta e nove anos depois da Revolução Francesa, em 10 de dezembro de 1948, a Organização das Nações Unidas (ONU) adotou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que delineia os direitos humanos básicos. De lá para cá, são apenas 74 anos da organização desses direitos, que falam, entre tantos conceitos, sobre liberdade e dignidade. E 40 anos separam 1948 de 1988, quando o Brasil lançou sua Constituição, que delimita inúmeros direitos fundamentais para os brasileiros e é considerada uma garantia da cidadania.

DEMOCRACIA NO BRASIL

Os exercícios de se pensar e fazer democracia e praticar a cidadania são recentes. São 38 anos desde o início do período de redemocratização do país, em 1984, quando ocorreu a transição do regime militar para a Nova República. Apesar das manifestações das Diretas Já, o Congresso rejeitou a emenda de eleições diretas, e, em janeiro de 1985, Tancredo Neves foi eleito presidente indiretamente, mas morreu em abril, antes de tomar posse, dando lugar ao vice, José Sarney. O primeiro presidente eleito diretamente foi Fernando Collor de Melo, em 1989.

LINHA DO TEMPO

Brasil Colônia

1532 O primeiro voto aconteceu no dia 23/1/1532, junto com o processo de colonização. Os moradores da primeira vila fundada na colônia portuguesa – São Vicente (SP) – foram às urnas para eleger representantes que escolheriam o Conselho Municipal.

1821 Até esse ano, as eleições seguiam a legislação de Portugal, e só eram eleitos representantes municipais. O voto não era secreto, e só os homens livres podiam participar, inclusive os analfabetos. Nessa época, havia muitas fraudes.

Brasil Império

1824 Logo após a Independência do Brasil, dom Pedro I mandou elaborar uma legislação própria. Foi instituído um voto por procuração, pelo qual uma pessoa podia transferir para outra o direito de votar por ela. Muitas fraudes foram registradas, com títulos de eleitor falsos. Crianças e mortos eram contabilizados. 

O voto era indireto, ou seja, eleitores escolhiam representantes para votar em deputados e senadores. Nessa época, o cidadão tinha que ter uma renda mínima de 100 mil réis  para poder votar.

Brasil República

De 1891 a 1894 Com a destituição da família real, o presidencialismo passou a vigorar. Em 1891, a Assembleia Nacional Constituinte promulgou a Constituição. Mas nem todos podiam votar. Menores de 21 anos, mulheres, analfabetos, mendigos, soldados rasos, indígenas e integrantes do clero ficavam fora. Em 1891, Deodoro da Fonseca foi eleito presidente. Em 1894, Prudente de Morais se elegeu. De 1889 a 1930 Auge das fraudes. Voto de cabresto era muito comum, com compra de votos. Analfabetos não podiam votar, mas coronéis entregavam um papel com o nome do candidato para que seus empregados depositassem na urna e bancavam o transporte.

Década de 1930 Em 1932, mulheres conquistaram direito ao voto, que passou a ser secreto. Foram criados o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) Década de 1960 Com a ditadura, foram impedidos votos diretos para presidente, governador, prefeito e senador. Só era permitido voto em vereador e deputado

Década de 1980

1985 Com o fim da ditadura, Tancredo Neves foi o primeiro presidente eleito pelo voto indireto

1988 A nova Constituição estabeleceu eleições diretas

1989 Brasileiros foram às urnas para escolher o presidente. Collor venceu, mas saiuem 1992, por impeachment 1996 Primeiro ano de uso das urnas eletrônicas, em eleições municipais. Em 1998, a modalidade foi ampliada, e, em 2000, 100% das eleições foram com urnas eletrônicas 1997 A reeleição foi aprovada Hoje O Brasil tem mais de 156 milhões de eleitores e já teve 38 presidentes

Hoje O Brasil tem mais de 156 milhões de eleitores e já teve 38 presidentes

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