Balanço divulgado pelo Inpe mostra maior número de alertas para o mês de fevereiro em toda a série histórica

O número de alerta de desmatamento na Amazônia bateu recorde em fevereiro, segundo dados divulgados na sexta-feira (10) pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). Balanço atualizado mostra que foram gerados alertas para 321,97  km², um crescimento de 62% em relação ao período homólogo, quando os alertas abrangiam 198,67 km²

Essa é a maior marca para o mês em toda a série histórica, iniciada em 2015. O número equivale aproximadamente ao tamanho da cidade de Fortaleza em área.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, atribuiu recentemente a uma “ação criminosa” de viés “revanchista” o nos registros de desmatamento na Amazônia em fevereiro. “Estão desmatando mesmo no período chuvoso. É uma espécie de revanche às ações que já estão sendo tomadas na ponta”, disse.

Desmatamento nos estados

Entre os estados que mais desmataram em fevereiro, Mato Grosso ganha disparado: neste estado, foram gerados alertas para 162 km² de floresta. Em segundo lugar no ranking aparece o Pará, com alertas gerados para 46 km², seguido por Amazonas, com 46 km², Roraima, com 31 km², Rondônia, com 28km², Acre, com 4 km² e Maranhão, também com 4 km². Amapá e Tocantins não registraram alertas.

Segundo Claudio Almeida, coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia do INPE, uma parcela dos alertas gerados agora em fevereiro pode ser residual do mês anterior que agora pôde ser lido pelos satélites. Mas ele não representa a maioria dos alertas gerados. “Fevereiro me surpreendeu”, disse a ((o))eco. 

Segundo Almeida, existe uma “inércia” no desmatamento, que deve demorar a ser impactada pelas políticas de comando e controle que estão sendo implementadas pelo novo governo. “É preciso lembrar que o 1º governo Lula começou em 2003 e o desmatamento só começou a cair em 2005. Há uma inércia no desmatamento, fazer isso cair vai demandar muita força e persistência”, disse.

Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, concorda com o pesquisador do INPE. “Os números altos que nós estamos vendo agora se devem à falta de governança que continua a imperar na Amazônia, ao crime ambiental que ganhou muito poder na região. O governo que a gente tem agora começou faz dois meses. Ele [governo] está fazendo coisas importantes, mas não quer dizer que nesse pouco tempo ele já tenha conseguido reverter um legado de 4 anos de destruição deixado pelo último governo”, disse.

Segundo Astrini, não é possível fazer uma previsão de quando os números do Deter – programa do INPE que mede os alertas – vão baixar. Mas uma coisa é certa: o atual governo vai precisar correr em suas ações se não quiser amargar uma taxa anual de desmatamento tão alta – ou maior – do que a registrada durante o último ano do governo Bolsonaro, quando foram desmatados 13.038 km² de floresta.

“O atual governo precisa encarar que agora ele está numa corrida contra o tempo, porque ele tem apenas mais cinco meses para reverter essa situação. Existe um risco real de os números ficarem muito parecidos com o número do ano passado, do governo Bolsonaro, ou inclusive maior. O tamanho do esforço que vai precisar ser feito para a reversão do cenário é gigantesco”, disse, em referência ao chamado calendário do desmatamento, que vai de 1º de agosto de um ano até 31 de julho do ano seguinte.

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