A 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro concedeu medida de tutela de urgência cautelar à Americanas. A decisão, proferida pelo juiz Paulo Assed, suspende toda e qualquer possibilidade de bloqueio, sequestro ou penhora de bens da varejista.

Segundo o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, companhia teria reconhecido uma dívida de R$ 40 bilhões, o dobro da dívida oficial informada pela empresa antes de os problemas contábeis serem descobertos. Na última quarta-feira (11), a Americanas informou ter identificado “inconsistências contábeis” nos seus balanços na ordem de R$ 20 bilhões.

Maior fraude da história

Ainda é cedo para dizer se alguma dessas hipóteses se confirmará, ou se algum outro evento poderá explicar uma diferença desse volume. O fato é que, se confirmada uma fraude, será possivelmente a maior já registrada em companhias privadas. Para se ter ideia, a fraude que resultou na falência do Banco Panamericano foi de R$ 4 bilhões.

O presidente recém-empossado na Americanas, Sergio Rial, pediu demissão. Ele foi acompanhado pelo diretor financeiro, André Covre. No cargo há apenas 10 dias, Rial e Covre renunciaram ao identificar os erros, que teriam acontecido em 2022, antes de os novo executivos assumirem os cargos.

Uma fonte a par do assunto confidenciou, em condição de anonimato, que os problemas estariam concentrados nos balanços dos últimos quatro anos, mas a investigação está varrendo o histórico da última década. No período, o presidente da Americanas era Miguel Gutierrez, executivo que ficou no cargo por mais de 20 anos e foi substituído por Rial na semana passada.

Rial fala

Em teleconferência convocada com analistas e gestores do mercado financeiro na manhã desta quinta-feira (11/1), Rial não avançou nos detalhes sobre as investigações internas. Segundo o executivo, ele não estaria em posição para afirmar que houve fraude na Americanas. Mas alguns sinais sobre a dimensão do problema foram dados.

“A Americanas tem mais dívida do que o imaginado pelo mercado”, teria admitido Rial, segundo um analista que acompanhou a fala e pediu anonimato.

O executivo confirmou apenas que o problema está no risco sacado, como é chamada a antecipação de recursos para fornecedores. Na visão de Rial, que também foi presidente do Santander, não há risco de liquidez para a empresa. Ou seja, o caixa não deverá ser impactado, a princípio.

Lojas Americanas podem falir por ESTE motivo?

Vamos entender o que aconteceu com a Americanas, como a descoberta impacta as finanças da empresa e, claro, se ela vai falir, ou não. Vale lembrar que o atual texto não é uma recomendação de investimentos para essa ação, seja compra, seja venda.

Após a crise do rombo de R$ 20 bilhões no balanço das Americanas, muita gente pergunta se a empresa vai fechar. Na sexta-feira, houve uma decisão da Justiça que menciona uma potencial dívida de R$ 40 bilhões e aponta para um pedido de recuperação judicial, como já citamos no inicio desta matéria.

  • Na quarta-feira (11), a empresa anunciou “inconsistências” de R$ 20 bilhões no balanço.
  • Na sexta-feira (13), o juiz Paulo Assed Estefan, da 4ª vara empresarial do Rio, concedeu uma medida de tutela de urgência cautelar, dando 30 dias para que a empresa possa decidir se vai pedir recuperação judicial.
  • Na decisão, o juiz informa que as Americanas alegaram o risco de seus credores pedirem o vencimento antecipado de R$ 40 bilhões em dívidas.
  • Para evitar a quebra da empresa, o juiz suspendeu essa possibilidade por 30 dias.

O que vai acontecer agora..

  • Com a recuperação judicial, a empresa é autorizada pela Justiça a suspender o pagamento de dívidas.
  • Mas para isso ela tem de apresentar um programa de recuperação financeira. Se o programa não for cumprido, sua falência pode ser decretada.
  • A empresa tem se reunido com credores para negociar alguma saída.
  • Os acionistas de referência das Americanas -os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Sicupira, sócios do 3G Capital- estariam dispostos a atuar na capitalização da empresa. Mas, a princípio, não fariam isso sozinhos.
  • Uma alternativa é que a empresa recorra a um follow-on, ou seja, uma nova oferta de ações. Em outras palavras, parte da parte da empresa seria vendida para arrecadar capital.
  • Mas, para dar certo, o mercado precisa estar disposto a comprar essas ações em um cenário nada favorável para a empresa.
  • O modelo também pode não agradar aos atuais acionistas, que já tomaram um tombo com a queda de quase 80% da ação na quinta-feira (12).
  • No follow-on, os atuais investidores ou são diluídos (sua participação fica menor) ou precisam entrar com dinheiro para manter sua posição.
  • Se a captação de recursos não ocorrer conforme o esperado, o cenário fica mais nebuloso.
  • Dentre as possibilidades, estão a consolidação, ou seja, a venda ou fusão com outra empresa, a renegociação com os credores e a recuperação judicial.
  • Dada a dificuldade de captar dinheiro via outras fontes, a companhia pode estar tentando obter recursos dos acionistas-chave.

“Não vai ser fácil a companhia convencer o mercado a dar mais dinheiro pra ela”. Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.

Como fica a empresa a partir de agora?

  • Seja qual for a solução, a empresa vai apertar o cinto e buscar ficar mais enxuta para economizar. O investimento tende a diminuir, assim como o capital de giro.
  • Com isso, as Americanas podem ter uma redução em seu estoque e no número de fornecedores.
  • Ainda nessa frente, as possibilidades incluem fechamento de lojas menos eficientes e venda de bens.
  • Já há apreensão no varejo com essa possibilidade. As Americanas são importantes ponto de fluxo de consumidores para shoppings fora dos grandes centros..
  • O modelo de negócio da companhia também pode passar por uma revisão. As Americanas já não viviam um bom momento.
  • A dívida da companhia pré-rombo já era alta e suas margens apertadas. A chegada de Rial era vista como uma possibilidade de virada para a empresa, tarefa que fica bem mais difícil agora.
  • A cereja do bolo é que o cenário macroeconômico joga contra a empresa neste momento delicado. Com os juros no patamar de 13,75%, todas as varejistas sofrem com redução da demanda, e isso não difere para as Americanas.

As Lojas Americanas é uma empresa 100% brasileira, destacada como uma das maiores varejistas e uma das Companhias que mais crescem no Brasil. A atuação da mesma não se restringe às lojas físicas, estando presentes no comércio eletrônico representado pela B2W – Companhia Digital, detentora das marcas Americanas.com, Submarino, Shoptime e Sou Barato.

As Lojas Americanas foram fundadas em 1929 por John Lee, Glen Matson, James Marshall, Batson Borger (americanos) e Max Landesmann (austríaco) e é uma das principais redes varejistas do Brasil, contando com mais de 1.700 estabelecimentos. 

Em 2021, a companhia se fundiu com a B2W, empresa do comércio eletrônico que já operava diversas plataformas, incluindo o site Americanas.com, e deu origem ao conglomerado Americanas S.A. que abrange tanto o comércio físico quanto o virtual.

Atualmente, a holding também concentra as operações de lojas como Submarino, Shoptime e Soub! (Sou Barato), além da fintech Ame Digital, a plataforma de logística Let’s e a Mais Aqui, que opera com crédito, seguros, cartões de conteúdos, serviços e venda assistida. Em 2022, foi fundada a Americanas Entrega, com soluções para os comerciantes que operam nos marketplaces da companhia.

Sua primeira loja foi inaugurada em Niterói (RJ) e tinha o slogan “menos de 2 mil réis”, inspirado no modelo de “tudo por cinco ou 10 centavos” que fazia sucesso nos Estados Unidos. Ao fim de 1929, a rede já contava com 4 lojas. 

Além da operação eletrônica, as Americanas continuam trabalhando com dois modelos de lojas físicas: o tradicional, com área média de 1.500 m² e um catálogo de 60 mil itens, e o Express, com 400 m² e 15 mil itens. 

Sua sede continua sendo no Rio de Janeiro. Com cerca de 43 mil empregados, as Americanas tinham, em julho de 2022, um valor de mercado estimado em R$ 12 bilhões, mas chegou a valer 10 vezes mais na metade de 2020, durante o pico das ações. Em Marília estão instaladas 2 lojas, sendo uma, no Marília Shopping com 30 funcionários e outra na área central com entradas pela rua nove de julho e avenida Sampaio Vidal, com 10 funcionários, totalizando, portanto, 40 colaboradores.

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