Conhecida pela preferência de bicicletas entre os moradores, nos últimos dois anos, Pontal (SP) adotou uma nova opção de transporte. Os tuk tuks, famosos em países da Ásia, ganharam adeptos na cidade e diversificaram a forma de fazer serviços de entrega e de levar passageiros.

Basicamente, o tuk tuk é uma espécie de moto expandida com carroceria. O veículo é um meio de transporte popular na Índia, e na América do Sul, faz sucesso na Bolívia. Não muito distante, a vizinha Sertãozinho (SP) é adepta há anos do modelo.

Em Pontal, a 38 quilômetros de Ribeirão Preto (SP), a geografia plana do município de 37 mil moradores favorece a circulação do veículo. Entre as comodidades estão a agilidade, porque é mais rápido do que uma bicicleta; o espaço, maior do que o de uma moto; e a economia, maior do que a de um carro. “É um meio de transporte muito mais rápido e, para mim, também é um custo-benefício mais barato”, diz a dona de casa Camila Genari.

Facilidade no comércio

A entrega de produtos é uma das principais empregabilidades do tuk tuk em Pontal. Elenita Sofia dos Santos é gerente de uma loja de doces e artigos de festa e afirma que o uso do veículo facilitou as vendas.

“Devido à pandemia, a gente criou esse sistema de entrega da loja e a demanda foi muito bem aceita pelos clientes. Eles gostam, tanto para eles e para nós foi uma boa forma de entrega, por não termos uma condução própria”, diz.

A confeiteira Juliana de Paula é uma das clientes que recebe as encomendas levadas por um tuk tuk. Ela também usa o serviço para levar seus produtos até os clientes. “O trabalho deles é maravilhoso. Pra mim, compensa, porque na correria do dia a dia eles que socorrem a gente. É muito bom, muito bom mesmo”.

Transporte de pessoas

Para a dona de casa Camila Genari, o tuk tuk é “uma mão na roda” na rotina dela com os filhos. A mais velha volta da escola com o transporte.
“Como eu fico com meu filho mais novo, não tem como ir todo dia buscar, então eu opto pelo transporte do tuk tuk”.

O motorista Lindomar Soares é o responsável por pegar a menina na escola e diz que o serviço ajudou a divulgar o trabalho dele entre outros pais, resultando em novos clientes.

“Aí vai pegar as crianças, um já conta para o coleguinha ‘aê, legal, o tio é legal. E aí começa a contratar o serviço de tuk tuk e vai gerando mais corridas”, afirma.

Mercado em alta

Quando perdeu o emprego, Soares começou a dirigir o tuk tuk para fazer uma renda extra. “Aí eu fui pegando gosto, meu cunhado me incentivou, me ensinou e eu continuei na atividade.

Para Fernando da Silva Almeida, não foi diferente. Quando saiu da usina em que trabalhava, investiu em um tuk tuk e não parou mais. “A cidade está crescendo bastante e aí conforme os lugares vão ficando mais longe, eles chamam bastante a gente. É bem mais econômico”.

Segundo a Prefeitura, não há um projeto específico para regulamentar a atividade na cidade. O diretor municipal de Trânsito, Gilberto Rodrigues de Melo, informou que todos os motoristas de tuk tuk são orientados a documentar os veículos com placas vermelhas. Segundo o Código de Trânsito, a cor é usada para veículos de aluguel utilizados para transporte de passageiros ou de cargas.

Preferência no transporte de passageiros, tuk-tuks transformam Sertãozinho em ‘Nova Deli’ do interior de SP

Moradores dizem que custo-benefício compensa em relação aos serviços oferecidos por aplicativos. Número de triciclos aumentou 12 vezes em cinco anos e Prefeitura precisou regulamentar o setor.

Quem dirige pelas ruas de Sertãozinho (SP) pode até imaginar que está em Nova Deli. Os famosos tuk-tuks que movimentam o trânsito da capital indiana também estão dominando as ruas do município com 122 mil habitantes no interior de São Paulo.

Taxistas e motoristas de aplicativo não têm vez quando o assunto é transporte de passageiros. A preferência dos moradores e aumento da demanda fez com que a Prefeitura fosse obrigada a regulamentar o serviço em legislação própria.

Agora, tuk-tuk tem até ponto exclusivo de embarque e desembarque no Centro da cidade, ao redor da praça principal. A administração estuda implantar “bolsões” de estacionamento em outras regiões, como próximo à rodoviária.

“Meu esposo trabalha, ainda não sou habilitada e ajuda bastante quando preciso levar às crianças ao médico, ir à casa da minha mãe, porque a distância entre os bairros é grande. Uso com conforto, segurança e o precinho cabe no bolso”, diz a dona de casa Lídia Maria da Silva.

Até o mototaxi, que há bem pouco tempo tinha clientela fidelizada, está sendo substituído pelo tuk-tuk. Para a dona de casa Cássia Morais, a diferença de preço entre os dois serviços é pequena e a relação custo-benefício compensa.

“Você se sente mais confortável, não toma sol, quem usa saia não passa desconforto, a viagem é tranquila, gostei muito. O preço está ótimo porque a gasolina está muito cara, então creio que está bom. Para mim, vale muito a pena” afirma.

Doze vezes mais

O aumento no número de tuk-tuks em Sertãozinho tem relação direta com o aumento do desemprego durante a crise econômica. Muitos metalúrgicos demitidos encontraram nesse serviço uma opção de renda, como o motorista Marcelo Silva Marques.

“A cidade era forte na metalurgia, mas, devido ao desemprego, o jeito foi trabalhar com tuk-tuk. Comprei um já faz um ano e meio. Cumprindo os horários, dá para levantar um dinheiro para se manter”, diz Marques, que recebe em torno de R$ 100 por dia com o trabalho.

Dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) apontam que o número de tuk-tuks em Sertãozinho passou de seis para 72 nos últimos cinco anos. Um veículo novo custa em média R$ 15 mil e já há modelos disponíveis em concessionárias da cidade.

Geralmente, o veículo é composto por moto e carroceria coberta acoplada, onde duas pessoas podem ser transportadas sentadas. O Código de Trânsito Brasileiro não obriga o condutor a usar capacete, mas os passageiros devem utilizar cintos de segurança.

Quem não tem condições de comprar um tuk-tuk zero quilômetro pode optar pela locação. Foi assim que o caldeireiro Jucélio Ferreira Araújo voltou ao mercado de trabalho, depois que a empresa onde estava empregado há oito anos faliu.

“Nunca imaginei trabalhar com transporte de passageiros. Mas, com o tuk-tuk, eu gostei bastante porque é confortável, não pega sol, não tem chuva. O veículo não é meu, é alugado. Eu não consegui adquirir um para ainda, mas, a minha intenção é comprar”, afirma.

Araújo conta que a maioria dos clientes é composta por idosos ou mães com crianças, que optam pelo meio de transporte por ser mais barato que um táxi ou carro de aplicativo, e mais seguro que o mototáxi. Uma corrida de tuk-tuk custa em média R$ 8.

“Até então, essas pessoas não saíam muito. Não passa ônibus na porta e o tuk-tuk é um serviço privativo, deixa no lugar que a pessoa escolhe. As mães conseguem transportar bebês, às vezes até amamentando. Por esse motivo, a adesão é grande”, diz.

Regulamentação

O secretário de Segurança Pública de Sertãozinho, João Batista de Camargo Júnior, explicou que o aumento dos tuk-tuks levou a administração municipal a regulamentar o serviço, em legislação aprovada em novembro de 2017.

A lei determina que os motoristas tenham Carteira Nacional de Habilitação (CNH) na categoria A pelo período mínimo de dois anos, além de curso de direção defensiva. Os veículos devem ter placas vermelhas e passar por vistoria semestral.

“É um mercado alternativo. Virou uma febre na cidade e a Prefeitura se preocupou com essa situação porque tem responsabilidade, se acontecer algum acidente, alguma tragédia, a Prefeitura é responsabilizada”, afirma.

Camargo Júnior diz que a legislação dos tuk-tuks foi elaborada com base na lei municipal que regulamenta os mototáxis. O texto foi aprovado há 21 anos e, segundo o secretário, é considerado pioneiro: antes dos triciclos, as motos já eram a opção mais buscada para o transporte de passageiros em Sertãozinho.

DIRETO DA REDAÇÃO

error: Conteúdo protegido por direitos autorais.